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quarta-feira, 30 de março de 2016

WebGD: desmascarando uma das maiores farsas da internet.

As pirâmides financeiras começaram a surgir bem antes do nascimento da internet, mas se tornaram ainda mais comuns conforme o acesso à web foi se popularizando ao redor do globo. Estamos falando do clássico golpe no qual o indivíduo é convidado a trabalhar online, ganhando supostas comissões astronômicas por simplesmente convidar outras pessoas para dentro da empresa. Para ser admitido, porém, é necessário pagar uma taxa de inscrição.
O exemplo mais famoso de pirâmide financeira aqui no Brasil é a TelexFREE, que movimentou tanto o Ministério da Justiça quanto o Ministério Público Federal em uma investigação frenética para desmascarar uma das maiores fraudes econômicas da história do país. Entre outros casos populares, podemos citar a BBOM, a Multiclick e NNEX. De vez em quando, sempre surge uma nova empresa tentando aplicar o mesmo golpe nos desavisados de plantão.
A nova febre é a WebGD, que nasceu na era do compartilhamento e se aproveitou do fervor das redes sociais para se promover rapidamente. É bem provável que você já tenha visto algum internauta falando sobre a companhia nos campos de comentários dos sites que você frequenta – e isso inclui o TecMundo, o Mega Curioso e outros produtos do Grupo NZN. Mas, afinal, o que é a WebGD? Trata-se de um negócio sério ou só mais uma farsa?



Entendendo a WebGD

De acordo com o próprio site oficial da companhia – que, por sinal, tem um design bastante pobre e pouco condizente com um empreendimento respeitável –, a WebGD oferece um emprego no qual você poderá trabalhar de casa, pelo computador ou celular, postando anúncios na internet e no Facebook. Não é necessário ter experiência. A página afirma que a marca se sustenta com a venda de seus três produtos, que nada mais são do que cursos online.
Porém, para conquistar a vaga, a WebGD pede que o candidato pague uma taxa de R$ 94 via boleto, transferência bancária ou cartão de crédito. Na teoria, esse investimento é referente ao consumo dos três produtos que citamos anteriormente. É só após a confirmação do pagamento que o escritório virtual é liberado e o internauta pode começar a fazer até R$ 800 por mês em seu tempo livre.
Suposto escritório virtual usado pelos funcionários da WebGD
Parece o emprego perfeito, não é mesmo? Pois é, seria uma pena se a WebGD não fosse apenas mais um esquema de pirâmide financeira – embora a companhia negue isso em uma seção de perguntas e respostas no seu site oficial. Não é preciso ir muito longe para perceber a fraude. Basta se atentar a alguns detalhes que mostram que há algo de errado. O TecMundo foi atrás de indícios suspeitos e vamos compartilhar agora com os nossos leitores.

Situação fiscal e sede suspeita

Antes de mais nada, para ser considerada legítima, uma empresa precisa ser inscrita na Receita Federal. A WebGD de fato possui CNPJ (16.826.621/0001-69), e até mesmo exibe uma printscreen em seu site oficial para provar sua situação regular. Mas tem um detalhe: a imagem divulgada pela companhia está desatualizada. Se você visitar esta página do Ministério da Fazenda e informar o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica da companhia, verá que a inscrição da WebGD foi encerrada voluntariamente no dia 9 de julho de 2015.
CNPJ da empresa está desativado, de acordo com a Receita Federal
Só isso já é motivo o suficiente para fazer com que a marca se complique com a justiça brasileira, mas vamos adiante. Resolvemos ir ao Google Maps e procurar o endereço que consta no cadastro da empresa – ela teoricamente está localizada na Rua Relvado, número 737, que fica no município de Encantado (RS). Trata-se de uma área rural, inacessível pelo Street View e aos pés da Rodovia Governador Sinval Guazzelli (RS-129).
Quais são as chances de existir um escritório para uma empresa séria em um lugar desses? Baixíssimas, podemos concluir. Como se não bastasse, o TecMundo tentou entrar em contato com os dois números de telefone que constam na inscrição do CNPJ da WebGD, mas não obtivemos retorno em nenhum deles. Ao investigar o domínio www.webgd.net, descobrimos apenas que ele foi registrado no dia 09 de novembro de 2012.
O suposto escritório da WebGD fica nessa região

Empresa de um homem só

Outro mistério acerca da WebGD é a figura de Michel, suposto gerente de produção da companhia. Trata-se do único “executivo” da WebGD que dá as caras ao público. O jovem, de apenas 23 anos, é autor de um depoimento fixado na página inicial do site da empresa. “Já faz quase 2 anos que venho trabalhando com a WebGD e estou muito contente com os resultados, nunca deixei de receber”, afirma. “Garanto que não estou ganhando rios de dinheiro, mas acredito ter conquistado minha liberdade financeira”.
O interessante é que, ao enviar um email solicitando respostas para qualquer dúvida que você tenha sobre o emprego, é Michel quem irá te responder. Ele mais parece ser o dono da WebGD do que apenas um gerente de produção. A situação ficou mais interessante ainda quando encontramos o perfil do indivíduo no Facebook – e, adivinhe, foram aparecendo mais indícios de que tudo não passa de uma farsa.
Esta é a foto mais real que encontramos do Michel
Embora o nome completo do executivo esteja cadastrado na rede social como Michel Dalberto Fritscher, a URL de sua conta é www.facebook.com/MichelFelipe7. Há uma grande diferença entre Fritscher e Felipe, não é mesmo? Além disso, o perfil do gaúcho tem pouquíssimas informações públicas e todas as suas fotos parecem perfeitas demais para uma pessoa de verdade (ele está sempre com “cara de galã”).
Enviamos um pedido de amizade para Michel, e, apesar de não ter aceitado, ele nos enviou uma mensagem que era basicamente o mesmo texto pronto que recebemos por email. Após questionamos o gerente a respeito do CNPJ baixado e do endereço suspeito da sede da WebGD, não recebemos mais nenhuma reposta.
Felipe ou Fritscher? Você escolhe

E os produtos?

Suspeitos também são os produtos comercializados pela WebGD. O primeiro deles é um curso em vídeo de como criar sites, ministrado pelo próprio Michel Felipe – ou Fritscher, que seja. Já o segundo é uma versão digital do livro “A Ciência Para Ficar Rico”, do escritor norte-americano Wallace Delois Wattles. Detalhe: a obra foi publicada pela primeira vez em 1910, sendo que Wattles faleceu no ano seguinte.
No Brasil, os direitos autorais da obra pertencem à Editora BestSeller, que desde 2004 faz parte do Grupo Editorial Record. Só eles (através das livrarias) podem comercializar o livro em território nacional – o que nos faz estranhar o fato de que a WebGD teoricamente ganhe dinheiro vendendo o eBook sem ter autorização para isso. O mesmo ocorre com o documentário “O Segredo”, de Rhonda Byrne, que é o terceiro produto ofertado pela marca.
Um dos produtos vendidos pela WebGD é um livro que ela não tem autorização para vender

Quando a esmola é demais, o santo desconfia

Todos esses indícios apontam para um único cenário: a WebGD é apenas mais uma fraude que se aproveitou do poder das redes sociais para fazer dinheiro para seus donos. É fácil entender como o esquema funciona: o empregado A paga uma taxa para a empresa e recebe um link de referência para convidar outras pessoas para dentro da empresa. Os empregados B e C se cadastram e pagam a mesma taxa através do código do empregado A, que fica com uma pequena parte desse dinheiro.
“Uma pirâmide financeira, pela sua própria estrutura do negócio, pode demorar para começar a causar prejuízo, pois no início está mais fácil para os participantes (no topo da pirâmide) atraírem novos investidores, que estarão nos níveis inferiores da pirâmide e deverão atrair outros novos participantes, sucessivamente”, afirma o advogado Vinicius Pascoal, em entrevista ao TecMundo.
Contudo, o especialista explica que esse sistema é insustentável e os indivíduos envolvidos logo se encontram em um beco sem saída. “Ocorre que, em um determinado momento, o ingresso de novos investidores vai minguar ou até mesmo parar, quebrando a estrutura de remuneração e causando prejuízos aos seus participantes mais recentes, que terão contribuído para a remuneração dos mais antigos, mas não terão o retorno do que investiram”, comenta.
De acordo com as leis brasileiras, quem montar uma pirâmide financeira pode ser punido com seis meses a dois anos de prisão e multa. Porém, castigos mais pesados estão sendo estudados, e a pena pode chegar a dez anos de cadeia. Para Pascoal, visto que é muito difícil recuperar o dinheiro e tempo investido em uma fraude desse tipo, o internauta precisa tomar cuidado e pesquisar bastante antes de aceitar qualquer oferta de emprego que seja boa demais para ser verdade.
Tome cuidado com propostas que parecem boas demais
“A maior recomendação que pode ser feita é que sempre que se pretende ingressar em um negócio, o interessado deve investigar a empresa, colher o máximo de informações possível, principalmente sobre os produtos ou serviços por ela oferecidos, além da resposta do mercado a eles. Conversar com outros revendedores, tomar conhecimento pormenorizado sobre a política de remuneração e se atentar para casos em que se oferece muito dinheiro em pouco tempo também são medidas que podem evitar enormes transtornos no futuro”, conclui.

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