O intérprete da Portela, Gilsinho, também ressaltou a força da escola. "Portelense é brasileiro, não desiste nunca"
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A Portela sagrou-se campeã do Carnaval do Rio de Janeiro pela 22ª vez na sua história, em um ano marcado por graves acidentes no Sambódromo, que deixaram ao menos 32 pessoas feridas. A escola não vencia havia 33 anos -desde 1984.
Sob a batuta do carnavalesco Paulo Barros, a azul e branco falou sobre rios em seu desfile. O enredo fez referência a um dos grandes nomes da escola, Paulinho da Viola, com o título "Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar", versos de uma de suas mais conhecidas canções.
Civilizações que iniciaram seus processos de organização social ao leito de rios nortearam parte do desfile. A escola também fez referência à tragédia na barragem da Samarco, em Mariana (MG), com o carro alegórico "Um Rio que Era Doce".
O presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, afirmou que agora a escola fica em paz, sem pressão para encerrar o jejum. Ele afirma que agora o grupo terá tranquilidade para se voltar ao culto à sua história e à formação de novos sambistas.
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"[Essa vitória] contribui para o Carnaval porque agora a Portela vai ficar em paz. Não vai precisar carregar a cruz de não vencer nunca. A Portela vai se voltar para sua história, para as suas tradições, formar sambistas, formar lideranças", disse Magalhães.
"As escolas co-irmãs precisam entender que essa vitória não foi só da Portela, foi de todas elas. Mais importante que a vitória é levantar a bandeira do samba", diz Magalhães.
O intérprete da Portela, Gilsinho, também ressaltou a força da escola. "Portelense é brasileiro, não desiste nunca".
O título foi decidido no último quesito, Enredo. A agremiação superou a Mocidade Independente de Padre Miguel, que ficou em segundo.
A escola campeã só perdeu nota em dois quesitos: Comissão de Frente e Samba-enredo. Mas neste último, a nota acabou descartada (pelas regras, a menor nota dos quatro jurados é descartada).
Dessa forma, a Portela garantiu 269,9 pontos dos 270 possíveis. Mocidade ficou com 269,8. Na sequência, aparecem Salgueiro (269,7) e Mangueira (269,6).Fundada em 1923, a azul e branco havia ficado em 3º lugar em 2016. Agora volta ao topo do Grupo Especial. O último título da Portela, de 1984, é envolvido em polêmica.
Foi neste ano a inauguração do Sambódromo do Rio e a primeira vez que houve desfile dividido em duas noites. Na ocasião, as notas foram separadas e Portela foi considerada a vencedora da primeira noite e Mangueira, do segundo e também de um terceiro desfile, considerado o tira-teima final.
Portela considera o título daquele ano legítimo. Antes disso, a escola havia sido campeã em 1980.
ACIDENTES
O desfile das campeãs será no sábado (4). Por uma decisão da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), nenhuma escola foi rebaixada neste ano. As últimas colocadas neste ano foram a Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca, as duas escolas que registraram acidentes com carros alegóricos.
Os acidentes ficaram marcados como os piores nos últimos 33 anos da avenida, segundo a própria Liesa. O carro da Tuiuti perdeu o controle e atropelou ao menos 20 pessoas no domingo (26). Já no desfile da Unidos da Tijuca, uma parte do carro alegórico despencou e integrantes da escola chegaram a sofrer uma queda de seis metros, na segunda (27).
Somados, os dois acidentes feriram 32 pessoas. Ao menos duas pessoas permanecem em estado grave no hospital e uma terceira ainda passará por cirurgia.
Muito criticada por não ter interrompido os desfiles no momento do acidente, o que teria prejudicado o trabalho de socorro aos feridos, a Liga recebeu vaias no Sambódromo, quando o presidente Jorge Castanheira anunciou a medida.No ano que vem, portanto, 13 escolas disputarão o Grupo Especial-as 12 atuais e uma que subirá do Grupo de Acesso. Duas escolas serão rebaixadas no ano que vem.
Gritos de "vergonha" foram ouvidos nas arquibancadas, onde o público costuma acompanhar a apuração. A falta de punição é vista por críticos como uma forma de beneficiar escolas que foram imprudentes com as questões de segurança. "Foi uma fatalidade, mas quem errou tem que pagar", disse Neguinho da Beija-Flor.
O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, disse que, a princípio, "não há nada que tenha que mudar de maneira urgente" em relação a segurança dos desfiles e prevenção de acidentes. Ele afirmou, no entanto, que a Liga avaliará o que deu errado e avaliar que mudanças podem ser feitas no futuro.
"Foi uma decisão difícil, a de não rebaixar ninguém. A princípio era contra, mas depois de ouvir todos, botamos para votação, e a maioria absoluta votou a favor", disse.
Segundo o presidente da Portela, Luís Carlos Magalhães, a decisão foi tomada em consenso pelas escolas e que a punição, se ocorrer, será na esfera criminal e não no evento privado do Carnaval. Ele classificou os dois graves acidentes como fatalidades.
"Todas as escolas foram a favor. O que aconteceu foi uma fatalidade, uma coincidência", disse. O carnavalesco da Unidos da Tijuca, justamente a escola que teve acidente no desfile, disse que não houve erro da escola. Segundo avaliou, a Liga se "sensibilizou com a tragédia", quando sugeriu o não rebaixamento neste ano.
"Não foi erro, o erro tem que ser punido. Foi uma fatalidade. Eu acho que a Liga ficou sensibilizada com essa tragédia", disse o carnavalesco Unidos da Tijuca, Marcos Paulo Oliveira
"A Tijuca não teria ficado em último lugar", disse o presidente da Tijuca, Fernando Horta.
A Polícia Civil do Rio abriu dois inquéritos para apurar os acidentes com as escolas. Peritos verificaram que ao menos duas rodas do carro alegórico da Paraíso da Tuiuti que perdeu o controle estavam danificadas. O motorista tinha visão bloqueada da pista em que trafegava.
Uma perícia foi realizada no carro alegórico da Unidos da Tijuca ainda na terça, onde foi constatado houve falha na parte hidráulica do veículo, que dá sustentação ao carro.
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) promete criar um sistema de certificação e fiscalização dos carros alegóricos. Essa regulação passaria a valer no Carnaval de 2018.
PREFEITO
Sem ter feito qualquer aparição pública durante o Carnaval, não ter entregue as chaves da cidade ao Rei Momo e sem prestigiar o evento no sambódromo, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), visitou as vítimas do acidente com o carro da Paraíso do Tuiuti.
Em sua página no Facebook, Crivella afirmou "que lamenta profundamente o acidente ocorrido com o carro alegórico e que se certificou pessoalmente de que todas as providências foram tomadas para atender as vítimas".
Mais tarde, na quarta-feira, o prefeito divulgou nota em que diz que se ele fosse ao Carnaval, seria demagogia. Ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella prometeu durante a campanha que não misturaria política e religião.
A passagem da chave da cidade ao Rei Momo é o evento que marca a abertura do Carnaval, hoje a maior festa popular do Rio.
"Nos reunimos para adotar medidas que evitem acidentes nos próximos desfiles. A demagogia é a máscara da democracia. E o povo do Rio rejeita um prefeito com máscara ainda que seja no Carnaval", disse. (Folhapress)
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