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sexta-feira, 30 de março de 2018

Enigmas de Mona Lisa guiam resposta artística a polêmicas

Sorriso enigmático de Mona Lisa serve de metáfora para quatro artistas, alvos de polêmicas no ano passado, debaterem a liberdade de expressão

©  Pixabay
MARIA LUÍSA BARSANELLI - O sorriso enigmático de Mona Lisa serve de metáfora para quatro artistas, alvos de polêmicas no ano passado, debaterem a liberdade de expressão. "Domínio Público", espetáculo criado a convite do Festival de Teatro de Curitiba, onde estreou na quinta (29), é um trabalho conjunto entre o performer Maikon K, a atriz travesti Renata Carvalho e os coreógrafos Wagner Schwartz e Elisabete Finger. Busca responder às agressões sofridas pelos quatro em 2017.

Maikon foi preso por atentado ao pudor numa apresentação, em frente ao Museu Nacional da República, em Brasília, de "DNA de Dan". No trabalho, ele tem a pele coberta por uma película que descama, revelando seu corpo nu. O cenário, uma bolha de plástico, foi rasgado na abordagem da polícia.

Renata, que interpreta um Cristo transexual em "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", teve sessões da peça vetadas pela Justiça depois de o trabalho ser acusado de desrespeitar religiões.
Wagner foi chamado de pedófilo após uma sessão no MAM de "La Bête", performance na qual o artista tem seu corpo nu manipulado pelo público, alusão à obra "Bicho", de Lygia Clark. Na ocasião, viralizou na internet um vídeo, com a imagem de uma criança tocando a perna e a mão do coreógrafo. Elisabete, que assistia ao espetáculo, é a mãe da criança.
Os quatro foram alvos de linchamentos virtuais e "fake news" – houve até a "notícia" de que Wagner fora morto. Já no título de "Domínio Público" remetem à forma como seus trabalhos e suas vidas foram apropriados por outros e tirados de contexto.
"Debatemos muito o que a gente iria falar depois que tanta coisa já foi dita. E, ao mesmo tempo, esse discurso parece ter sido muito esvaziado", diz Elisabete. "As pessoas que nos criticavam geralmente não conheciam a gente", comenta Wagner. "Precisamos de uma relação presencial, que as pessoas saiam da frente da tela."
SERENO
Mas a virulência vista na internet não se repete em cena. Pelo contrário. É num tom sereno e com toques de ironia que o quarteto conduz o espetáculo. Como numa palestra, sobem ao palco cada um a sua vez. Têm ao fundo uma reprodução de "Mona Lisa" e discorrem sobre a história do quadro, suas interpretações e polêmicas, traçando alusões sutis aos seus casos particulares.
Em sua fala, Wagner lembra que foi por causa de um escândalo que a obra de Leonardo da Vinci foi alçada à fama. Em 1911, o italiano Vincenzo Peruggia roubou a tela do Museu do Louvre e o assunto tomou o noticiário. Até então mais conhecida por especialistas, a Gioconda tomou de súbito a atenção do público, e jornais chegaram a inventar histórias para atrair leitores.
Renata fala como se acredita que Mona Lisa une traços masculinos e femininos. Alguns estudiosos defendem que seu modelo foi Gian Giacomo Caprotti, auxiliar de Da Vinci. Seria a Gioconda, então, o autorretrato da transgeneridade?
Maikon comenta sobre a caixa de vidro à prova de balas que hoje protege a obra no Louvre. O quadro que vemos, diz, "carrega marcas de agressão": já foi alvo de uma restauração malsucedida e de ataques de turistas.
Já Elisabete narra algumas hipóteses sobre a criação da tela. A mais aceita é a de que seria inspirada em Lisa Gherardini, mulher de um rico comerciante de Florença. Há quem cogite que ela foi amante de Da Vinci e este, o pai de um dos filhos dela. Tantas verdades, diz Elisabete, são "especulações em torno dessa mulher, dessa criança, desse artista".
Em suas falas, os quatro citam discursos de estudiosos e de páginas de internet, "essas fontes super fidedignas", brinca Elisabete. Num dos trechos, Wagner mostra como Peruggia (segundo quem sua intenção era repatriar a obra) é retratado em verbetes da Wikipédia em diversas línguas. Alguns o chamam de ladrão, outros minimizam o crime.
"Domínio Público" joga muitas questões para a plateia. "Debatemos como se criam as ficções e como as pessoas aderem a elas", afirma Maikon. "Qual a sua responsabilidade quando lança a versão de uma história na internet?"
O quadro de Da Vinci surgiu ao acaso, numa busca dos quatro por um ícone de domínio público. Acabaram vendo na obra do século 16 uma forma de debater todo o processo histórico de perseguição e intolerância. "A gente está atualizando o passado", diz Wagner. "E continuamos a falar sobre nós, mas mudando de assunto."
Segundo Elisabete, que desde a polêmica no MAM, em setembro passado, não falou publicamente sobre o caso, a peça é sua forma de se expressar. "O teatro é o meu lugar de fala. Para mim, que estava lá [na sessão de 'La Bête'] como público, é muito difícil aceitar que eu precise me justificar sobre isso." Durante o processo de criação, conta Renata, estavam todos ainda "adoecidos, com medo de se expor". "Foi nessa junção dos quatro que a gente começou a falar."
"Tínhamos uma questão: resolver um problema que criaram para a gente", afirma Wagner. Ele diz ter recebido cerca de 150 ameaças de morte após a polêmica e que, por meses, quis ser envolto por uma redoma de vidro como a de "Mona Lisa". "Mas hoje eu não preciso mais dessa parede." Com informações da Folhapress.
DOMÍNIO PÚBLICO
QUANDO sex. (30), às 21h
ONDE Teatro da Reitoria, r. 15 de Novembro, 1.299, Curitiba, tel. (41) 3360-5066
PREÇO R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
Via...Notícias ao Minuto

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