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domingo, 27 de maio de 2018

Apenas 1% dos casos de tráfico da droga tem 76% das apreensões

Números mostram que gastar tempo com investigações e obtenção de informação qualificada é mais eficiente do que prender centenas ou milhares de pessoas com pouca droga

© Divulgação

No outro extremo estão as ocorrências que envolvem toneladas das substâncias consideradas ilícitas. O levantamento revela que apenas 1% das ocorrências de tráfico de maconha são responsáveis por 76% do total de droga apreendida. No caso de cocaína, 1% dos casos respondem por 56% das apreensões. No do crack, 1% corresponde a 66% da droga confiscada.
"Se o objetivo é dar um golpe no faturamento do crime organizado, as polícias deveriam focar nesse tipo de ação, em que fica evidente o uso de inteligência, investigação ou denúncias anônimas."
Para se chegar à quantidade média de maconha obtida nessas grandes apreensões (324 kg cada, em média) seriam necessárias 8.140 apreensões de dois bombons da erva (ou 40 gramas). No caso da cocaína, seriam necessárias 1.317 apreensões de três sachês de catchup (ou 21 gramas) para se obter a quantidade média de uma grande ocorrência (28 kg da droga).
Para Langeani, os números mostram que gastar tempo com investigações e obtenção de informação qualificada é mais eficiente do que prender centenas ou milhares de pessoas com pouca droga.
Segundo José Vicente da Silva, coronel reformado da PM de São Paulo, os dados evidenciam a ineficiência do trabalho policial contra o grande traficante e sua eficiência em pegar o pequeno operador.
"Esse pequeno traficante é mais fácil de prender e não é significativo para a questão da violência.
Prendê-lo pode ajudar na produtividade do policial, mas o retorno para a sociedade é quase nulo", avalia.
O economista e professor da USP Leandro Piquet Carneiro, porém, avalia que o policial não pode fechar os olhos para práticas criminosas, seja o uso ou o pequeno tráfico. "É complicado pedir ao policial que ignore a lei. Seu trabalho é justamente cumpri-la. Para mudar isso, é preciso mudar primeiro a lei", diz.
No Brasil, a chamada nova Lei de Drogas, de 2006, manteve o uso de substâncias ilícitas como crime, mas retirou a pena de prisão do rol de sanções. O texto, no entanto, não fixou qual quantidade de cada droga indica uso ou tráfico, o que fez com que ela fosse definida caso a caso por delegados e juízes.
"Virou loteria porque tem juiz que diz que 20 gramas de maconha é tráfico, e outro que diz que é uso. É aleatório demais", afirma Cristiano Maronna, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCcrim).
A ausência desse parâmetro é interpretada como principal motor da explosão no número de pessoas presas por tráfico de drogas no país.
Entre 2005 e 2016, o percentual desses presos aumentou 349%. Cada preso custa, em média, R$ 2.400 por mês aos cofres públicos.
O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) já apontou que não é eficiente prender pequenos traficantes -que costumam deixar os estabelecimentos prisionais mais envolvidos com organizações criminosas do que quando entraram. Com informações da Folhapress.
Via...Notícias ao Minuto

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