Plano de governo da candidata começou a ser elaborado em março, com sugestões de mais de cem especialistas e organizações
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O biólogo João Paulo Capobianco, 61, conhece a presidenciável Marina Silva (Rede) como poucos. Foi um dos auxiliares diretos dela no Ministério do Meio Ambiente e esteve ao lado da ex-senadora nas campanhas de 2010 e 2014.
Neste ano, a candidata confiou ao amigo Capô, como é conhecido o ambientalista, a tarefa de coordenar seu programa de governo. Na eleição passada, a missão foi dada à socióloga Neca Setubal.
O documento de 43 páginas, com diretrizes e prioridades de Marina, começou a ser elaborado em março, com sugestões de mais de cem especialistas e organizações.Vocês abrem o programa com a reforma política. Ela seria a primeira a ser feita?
Sim, no início do governo, com um conjunto de iniciativas que podemos fazer no Executivo. É uma mudança radical na forma de governar, incluindo a seleção para cargos comissionados, a nomeação em agências por critério técnico, a transparência ativa.
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Seria uma reforma política no âmbito administrativo?
Exatamente, porque esse governo tal como funciona hoje, ou como não funciona hoje, é insustentável. O presidencialismo de coalizão é baseado numa pseudogovernança obtida pela maioria no Congresso em troca da ineficiência do Estado.Marina propõe o presidencialismo de proposição no lugar do toma lá, dá cá.
Rompendo a lógica atual, como o governo dela avançaria na aprovação das reformas?
É uma questão muito simples. Você parte do pressuposto de que vai governar com eficiência e terá apoio popular porque está mostrando claramente um caminho diferente.
A Marina se propõe a fazer um governo que reaproxime a sociedade do debate político, do acompanhamento das políticas públicas. É ilusão achar que o que define governança é um grupo de parlamentares no Congresso.
Não é ingênuo demais acreditar em apoio popular diante do poder do Congresso?
Não é apoio popular no sentido de pessoas na rua. O Congresso também é sensível à opinião pública. Parlamentares são eleitos e dependem do apoio e da proximidade com a sociedade.Michel Temer tentou se fiar em uma ideia oposta: a de que, por ser impopular, conseguiria fazer as reformas necessárias.
O governo atual fez a reforma trabalhista sem ouvir a sociedade e não teve capacidade de explicar a relevância da reforma previdenciária. Aí eu diria que é o divisor de águas entre o governo Marina e o atual. Ela faria o oposto.
Por que o programa não menciona a reforma trabalhista e não traz uma proposta concreta para a Previdência?
A Marina propõe ajustes na trabalhista e já se posicionou sobre isso. A gente coloca no programa a questão de resolver os problemas do emprego, incorporar a massa que está fora do trabalho formal. Na Previdência, consideramos que há questões centrais, como idade mínima e combate a privilégios.
Por que não fixar a idade mínima agora, na campanha?
Porque isso é o que faz quem não tem apreço pela discussão da sociedade, quem não está disposto a buscar a melhor solução.
Não causa uma incerteza para o eleitor?
Claro que não. Causaria se o candidato dissesse que não vai fazer a reforma. Esse é o compromisso da Marina. Se você coloca já tudo que vai ser feito, fecha a discussão.Sobre casamento gay, o plano fala que Marina acatará a demanda de que os direitos decorrentes da decisão do CNJ sejam protegidos por lei. Ela diz que cabe ao Congresso propor a lei.
Por que o governo não poderia fazê-lo?
Ela alega que essas conquistas são conquistas da sociedade. O governo nunca deve, na visão dela e na minha também, se antecipar, querer assegurar direitos de grupos. Os setores têm que se organizar e usar os canais. Nesse caso, é o Congresso. Não compete ao governo se reunir com algumas pessoas e tomar a iniciativa. Isso é uma inversão do papel do Estado.
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