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sábado, 1 de dezembro de 2018

Brasil e México passam por inversão de papéis na economia, diz analista

Avaliação é da analista política e ex-diplomata dos EUA Jana Nelson

© Reprodução

A um mês da posse de Jair Bolsonaro (PSL), o líder esquerdista Andrés Manuel López Obrador assumiu, neste sábado (1º), a Presidência do México. 


Em campos opostos no espectro político, o Brasil deverá ter uma economia mais pró-mercado, enquanto os mexicanos terão maior interferência do Estado, numa troca de papéis.
A avaliação é da analista política e ex-diplomata dos EUA Jana Nelson, 35. Radicada na Cidade do México, onde atua como consultora do setor privado, ela nasceu em Manaus de pais norte-americanos e é formada em relações internacionais pela Universidade Nacional de Brasília (UnB).
Para ela, pese as divergências ideológicas, Bolsonaro e López Obrador se beneficiaram da onda antissistema que tem varrido vários países nos últimos anos.
Sobre a relação com os EUA de Donald Trump, Nelson acredita que López Obrador adotará uma posição mais pragmática e se mostrou surpresa com a subserviência de Bolsonaro com relação aos EUA.
"Nesse caso, a inversão de papéis é do Brasil com ele mesmo." A seguir, a entrevista à Folha:  
Brasil e México, os dois maiores países da América Latina, estão no meio de transições políticas com os sinais cruzados. O que explica isso?
O Brasil deu uma reviravolta, nunca foi um país conservador economicamente, e o México sempre foi um país conservador. E ambos estão mudando completamente. Se compararmos com o que está acontecendo no resto do mundo, não é uma questão de esquerda e direita. É uma questão de antissistema. As pessoas estão indo contra o sistema. 
No caso do México, o establishment é conservador na economia e socialmente. No Brasil, o establishment tem sido, nos últimos 16 anos, de esquerda, economicamente falando. É interessante ver como o mercado financeiro está respondendo a isso. O dinheiro está saindo do México e indo para o Brasil. Não só porque, no caso do México, os líderes [eleitos] vão contra as ideias neoliberais do mercado financeiro e, no caso do Brasil, a favor. Há as mensagens concretas que ele tem mandado. Quando tomou a decisão de cancelar o contrato de construção do novo aeroporto da Cidade do México, López Obrador mandou a mensagem de que os contratos não são mais válidos. No México, é um conceito-tabu ainda. O Bolsonaro é o contrário. Ele tem escolhido pessoas para o gabinete dele que, embora seja bem militar, tem pessoas reconhecidas como sérias, a maioria é moderada.
E tem mandado uma mensagem muito mais pró-business para o mercado financeiro. Se, nos próximos meses, o Bolsonaro conseguir passar as reformas da Previdência e tributária, vamos ver não só investimos no mercado financeiro como investimentos estrangeiros diretos sustentáveis. O contrário pode acontecer no México. Não é só o aeroporto. Ele quer revisar contratos de petróleo, de energia solar e eólica. Neste caso, ele tem mudado de opinião, mas o ponto é que os investidores estão receosos para continuar investindo no México.
Já houve uma queda dramática de 71% de investimento estrangeiro direto no último trimestre no México. Isso foi sem precedentes, foram anos de crescimento de investimento estrangeiro. É uma inversão de papéis completa entre Brasil e México, como naqueles filmes dos anos 1990. De repente, você acorda e está no corpo da sua mãe, do seu primo.
E na relação com os EUA? O Bolsonaro bateu continência para John Bolton, assessor de Trump. No México, a opinião pública quer uma Presidência mais dura com Washington, após várias humilhações sofridas pelo presidente Enrique Peña Nieto? 
Trump e o López Obrador têm posições econômicas muito diferentes, mas não acho que o mexicano vá comprar briga, não é do interesse dele. O maior ponto sensível da relação era Acordo EUA-México-Canadá [substituto do Nafta] acabou de ser assinado. O problema é passar no Congresso dos EUA, e não no México. Eles estão buscando maneiras de manter a relação como está, sem se aproximar nem se distanciar. Outro ponto sensível potencial é a questão dos imigrantes centro-americanos em Tijuana [cidade fronteiriça]. Mas já estão negociando com os EUA para poder recebê-los, para dar algum tipo de visto humanitário para eles. Novamente, não estão comprando briga.
Trump tampouco parece interessado em comprar briga com López Obrador, provavelmente porque sabe que ele vai responder, enquanto o Peña não respondia. Nesse caso, a inversão de papeis é do Brasil com ele mesmo. O Brasil nunca foi um país que buscou uma relação muito próxima com os Estados Unidos, mesmo quando a relação estava bem forte. Eu era diplomata americana e trabalhava com o Brasil durante o período Dilma. Tínhamos o embaixador Thomas Shannon, e a relação era bem forte. Eram os EUA que buscavam aproximação. Agora é o contrário, estamos vendo o Brasil não só buscar aproximação, mas, de certa maneira, ser subserviente aos Estados Unidos, de maneira meio surpreendente. Isso é resultado de o Bolsonaro admirar muito o Trump e decidir seguir um pouco o exemplo dele, tanto na campanha quanto no momento de transição.
A relação Brasil-México é historicamente um pouco distante. Dá para imaginar uma aproximação entre Bolsonaro e López Obrador? 
Infelizmente, é muito difícil imaginar os dois países se aproximarem. O López Obrador tem visões muito favoráveis sobre os países de esquerda na América Latina, incluindo Venezuela e Nicarágua. O Bolsonaro é o contrário, quer se afastar dos países mais à esquerda. Se o López Obrador começar a associar o México com os países bolivarianos, o Bolsonaro vai querer distância, não importa se, economicamente, faz sentido ter um acordo comercial. Isso vai, naturalmente, criar uma distância entre os dois países, ou melhor, essa distância continuará. Isso é uma pena. O embaixador brasileiro no México, Mauricio Lyrio, é ótimo. Poderia ser uma oportunidade para um acordo comercial. Já tenho um acordo de investimento negociado recentemente, e o Bolsonaro está buscando parceiros comerciais. O México seria um excelente parceiro.
Como a sra. imagina o primeiro momento do governo López Obrador? 
Acho que ele e a sua equipe econômica aprenderam nas últimas semanas a importância de não criar muita instabilidade econômica. Para implantar os projetos sociais, de desenvolvimento e de infraestrutura, eles precisam de dinheiro, não podem se dar ao luxo de uma maior desvalorização cambial. Eles tentarão mandar mensagens mais cautelosas, mas claramente o López Obrador não tem interesse em ajudar o setor privado. Ele veio de uma ala muito conservadora do PRI, está acostumado a mandar, não é muito inclusivo em seus processos de decisão. Os dois principais desafios serão essa ideia de cortar os salários dos funcionários públicos em 40% e transferir ministérios para outros estados. Eles vão topar com problemas logísticos e legais. Cortar salário é ilegal, já há vários processos jurídicos. Com informações da Folhapress. 

Via...NOTÍCIAS AO MINUTO

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