A ideia de criar uma escolinha dentro do presídio foi de Márcio Ferreira, ex-funcionário da Petrobras preso em maio de 2017
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O engenheiro João Henriques, preso desde setembro de 2015 pela Lava Jato, condenado num dos casos de corrupção na Petrobras, encerrou abruptamente a conversa com sua advogada quando viu no relógio de pulso que faltavam poucos minutos para as 15h.
"Preciso sair correndo. Não posso deixar os alunos esperando", disse, antes de desaparecer pelo corredor que liga os pavilhões do Complexo Médico Penal, de Pinhais (PR).
Pouco mais de uma dezena de presos com pouca formação escolar estavam comportadamente aguardando o professor de física, que passara a noite da véspera preparando a aula.
"Eu não quero que eles só decorem os cálculos, eu quero que eles aprendam os fundamentos da física", disse Henriques à advogada.
Ele é um dos condenados da Lava Jato que fundaram um cursinho preparatório para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dentro do presídio paranaense que guarda a maioria dos presos da operação.Nos dias 11 e 12 de dezembro, os discípulos dos "professores da Lava Jato" fizeram as provas da etapa do Enem para os candidatos do sistema prisional.
O resultado sai em janeiro. Os presos com melhor desempenho podem cursar o ensino superior.
A ideia de criar uma escolinha dentro do presídio foi de Márcio Ferreira, ex-funcionário da Petrobras preso em maio de 2017. Ele juntou um grupo e foi até a chefia da segurança da cadeia para pedir um espaço para ensinar os presos pobres.
Os carcereiros gostaram da ideia. Adaptaram uma sala que servia para descanso dos agentes penitenciários, no portão da 5ª galeria, e permitiram que os presos usassem o tempo ocioso nos estudos. Foi montada, então, uma grade curricular e os voluntários apareceram.
Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras, hoje dá aulas de redação. Jorge Zelada, ex-diretor da estatal, ensina língua portuguesa.
O Departamento Penitenciário do Paraná tem poucas informações sobre o projeto. Via assessoria de imprensa, o Depen disse não ter registros sobre quem dá aula de qual disciplina ou quem ajuda quem nos estudos porque esse curso não está na agenda oficial do presídio.
O departamento informou apenas que cerca de 30 presos da 5ª e 6ª galerias solicitaram liberação para utilizar o horário do convívio para estudar coletivamente. O único papel da direção do Complexo Médico Penal é permitir a circulação desses presos até a sala de aula e fornecer o espaço físico e livros didáticos da biblioteca.
Todo o conteúdo das disciplinas é decidido pelos professores voluntários e um grupo deles cogita solicitar que as aulas sejam contabilizadas como período de trabalho e sirvam para abater o tempo da pena dos professores e alunos. Não há, porém, uma decisão tomada em relação a isso.
A presença de um número grande de presos com curso superior e boa formação cultural possibilitou essa troca de conhecimentos.
Zelada conseguiu um violão com um detento evangélico que se dedicava às canções religiosas. Passou a se apresentar para os colegas tocando música popular brasileira.
A roda em torno dele foi se ampliando e o ex-diretor da Petrobras ensinou uns acordes a uns interessados. Como os encontros se tornaram frequentes, depois de um tempo o grupo se transformou numa pequena oficina de artes.
Em 2015, assim que chegou ao Complexo Médico Penal, João Henriques, que é engenheiro mecânico formado pela Uerj (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ocupou-se de alfabetizar dois presos que eram seus vizinhos na 6ª galeria.
Pediu à esposa para comprar livros didáticos em sebos da cidade e montou uma estratégia para ensiná-los a ler e escrever. Em pouco tempo de curso intensivo eles já estavam familiarizados com as letras. O curso foi dado como concluído quando os dois redigiram as primeiras cartas para suas famílias. Com informações da Folhapress.
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