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domingo, 28 de julho de 2019

A invasão: após prisões de milicianos, tráfico tenta retomar controle de Itaboraí

Na madrugada do último dia 20, cerca de 20 homens armados a bordo de cinco carros entraram no bairro Visconde, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio. 

Material apreendido durante operação contra a milícia Foto: Divulgação / PCERJ
Duas semanas antes, diversos endereços da região foram alvo da Operação Salvator, da Polícia Civil e do Ministério Público, que terminou com a prisão de mais de 50 pessoas acusadas de integrar uma milícia que expulsou o tráfico e passou a dominar, a partir de 2018, sete bairros do município — Visconde entre eles. “Vamos matar milícia!”, gritavam os ocupantes dos veículos pela janela, segundo o relato de moradores do local.


Por volta das 4h, o bando arrombou a porta de uma casa, invadiu o imóvel e executou, a tiros, José Eduardo de Lima Araújo, de 46 anos. Após o crime, os homens picharam muros pelo bairro com ameaças ao grupo paramilitar. Ao longo da semana passada, o EXTRA mostrou, na série “A invasão”, como a milícia se associou à polícia para dominar a região. Agora, a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSI) apura se o assassinato é o primeiro episódio de uma tentativa de retomada do local pelo tráfico, após o enfraquecimento do grupo paramilitar na região.
Agentes da especializada ainda não sabem se a vítima foi escolhida ao acaso ou se tinha envolvimento com a milícia. Segundo a polícia, o homem já havia sido detido por porte ilegal de arma de fogo. Antes da chegada da milícia, a região era dominada pela maior facção do tráfico do Rio, que ainda ocupa a Reta Velha, maior favela do município.
A operação tirou das ruas dois dos chefes da milícia. O terceiro homem na hierarquia do bando conseguiu fugir: o ex-PM Alexandre Loback pulou do quarto andar do prédio onde morava no momento em que agentes tentariam prendê-lo. Até hoje, ele segue foragido. O grupo, entretanto, ainda dá as cartas na região: oito dias após as prisões, dois integrantes do grupo foram presos em flagrante na cidade extorquindo comerciantes.
Presos tinham registro de atirador esportivo Foto: Divulgação
Presos têm registros de atirador
Dois dos milicianos presos durante a Operação Salvator possuem registros de atiradores desportivos (CAC), concedidos pelo Exército. Leonis Loviz da Silva e Osmar da Silva Gomes, o Tirso, são apontados, pela polícia e pelo MP, como matadores da quadrilha, responsáveis por capturas de traficantes e ocultação dos cadáveres em cemitérios clandestinos. Na casa de Tirso, a polícia encontrou dois fuzis enterrados no jardim.
Segundo o relatório da investigação da Polícia Civil, Leonis já era atirador e ajudou Tirso “no intuito de conseguir também seu registro como CAC”. Para a obtenção do registro, o postulante precisa comprovar “idoneidade”, segundo o Exército. Procurado, o Comando Militar do Leste (CML) alegou que “em todos os processos de concessão registro são analisados documentos que comprovam a idoneidade do requerente”. O órgão não informou quando os dois conseguiram seus registros.
Nesse ano, o presidente Jair Bolsonaro facilitou o acesso a armas e munições para atiradores: aumentou de 50 para mil o limite de cartuchos de munições que podem ser adquiridos por ano pelos CACs.
Osmar da Silva Gomes, o Tirso
'A invasão'
A série de reportagens “A invasão” foi feito com base na análise de processos judiciais e inquéritos ainda em curso, além de entrevistas com parentes de vítimas, policiais e moradores. Ao longo dos cinco capítulos, o EXTRA revelou como a milícia se associou a PMs do batalhão da cidade para dominar Itaboraí. Graças a depoimentos de milicianos que resolveram colaborar com as investigações da Polícia Civil, nove PMs que fazem parte do grupo foram identificados.
O primeiro capítulo da série revelou a participação de dois PMs do batalhão de Itaboraí na maior chacina da história da cidade, em que dez pessoas foram mortas em 20 de janeiro. Os assassinatos foram uma vingança da milícia pelo homicídio, três dias antes, de um policial militar que morava na região.
Já no segundo capítulo, o EXTRA revelou, com base em depoimentos de milicianos presos, que PMs do batalhão de Itaboraí ganhavam presentes da milícia por entregar traficantes presos aos paramilitares. Um soldado chegou a ganhar um carro de luxo da milícia.
A série também mostrou a luta de parentes de vítimas da milícia para encontrar os corpos. A milícia passou a esconder os cadáveres em cemitérios clandestinos. Há mães que buscam seus filhos há pelo menos quatro meses. A DH levantou 24 casos de desaparecimentos de jovens na área dominada pela milícia que ainda não foram desvendados.
Na última quinta-feira, a Justiça manteve a prisão de três dos presos — incluindo Maria do Carmo do Nascimento, mãe de Renato Nascimento, o Renatinho Problema, chefe do bando.

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