"Tempos estranhos. Aonde vamos parar?", questionou
© Ueslei Marcelino / Reuters |
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao comentar as declarações recentes de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, sugeriu que o presidente usasse uma mordaça. A afirmação foi feita ao blog de Tales Faria, do UOL.
"No mais, apenas criando um aparelho de mordaça", disse, quando questionado o que poderia ser feito para evitar manifestações polêmicas do presidente. "Tempos estranhos. Aonde vamos parar?"
Nos últimos 11 dias, Bolsonaro deu diversas declarações com conteúdo falso, sarcástico e preconceituoso. O alvo mais recente foi o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Nesta segunda (29), Bolsonaro ironizou o desaparecimento de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira durante a ditadura militar. Sem apresentar indícios ou provas, afirmou que ele integrava a guerrilha eque teria sido morto por membros da esquerda.
Fernando desapareceu em fevereiro de 1974, após ser preso por agentes do DOI-Codi no Rio de Janeiro. Ele era estudante de direito, funcionário público e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista, grupo da juventude católica que lutava contra a ditadura. Felipe tinha dois anos quando o pai sumiu.
No relatório da Comissão Nacional da Verdade, não há registro de que Fernando tenha participado da luta armada. Na segunda, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chamou de inaceitáveis as declarações do presidente.
A deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal, do mesmo partido de Bolsonaro, classificou as afirmações de Bolsonaro como "absolutamente desnecessárias". Ela falou à Coluna Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo.
O jurista Miguel Reale Jr., que assim como Janaina é autor do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), disse à Rádio Guaíba que a atitude do presidente configura "fascismo cultural".
À revista Época o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse que "a Lei da Anistia sepultou todos os fatos relativos ao período militar, que os mortos de todos os lados descansem em paz".
Nas redes sociais, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) prestou solidariedade ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. "O presidente cada vez mais perde a noção do respeito, é inacreditável".
A também senadora e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa Simone Tebet (MDB-MS) disse ao site Antagonista que Bolsonaro fez "uma declaração, no mínimo, desumana".
"Estamos todos preocupados com a postura do presidente da República, que, gratuitamente, de forma até inacreditável, faz uma declaração, no mínimo, desumana. Aquilo ali passa até distante da política. Tem a ver com valores, com a postura que se espera de uma autoridade", afirmou.
José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da organização de direitos humanos Human Rights Watc, disse que as falas do presidente são "irresponsáveis, cruéis e merecem absoluto repúdio".
"Bolsonaro fabrica informações, distorce completamente a verdade e manifesta profundo desprezo à dignidade humana das vítimas da repressão do Estado e seus familiares", disse, em nota.
Em carta, o ex-presidente Lula (PT), preso em Curitiba, se solidarizou com Santa Cruz. "É como se violassem seu pai mais uma vez, e junto com ele todas as vítimas da ditadura".
"O Brasil não merece ouvir as palavras de ódio de quem, pelo cargo que ocupa, deveria se referir com respeito aos que sacrificaram a vida pela liberdade de nosso país", continua o texto.
A ex-senadora e ex-candidata à Presidência Marina Silva (Rede) disse que faltam a Bolsonaro "sentido de dignidade e compostura em relação ao cargo que ocupa". "Brinca com uma situação dolorosa na vida de um filho que perdeu o pai durante a ditadura. É ultrajante", afirmou em post nas redes sociais.
Também ex-candidato à Presidência, João Amoêdo (Novo) criticou Bolsonaro e perguntou, nas redes sociais, se o que faltava ao presidente era foco ou estratégia.
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