Bolsonaro fez uma declaração polêmica envolvendo o pai presidente da OAB morto pela ditadura
© REUTERS / Adriano Machado (Foto de arquivo) |
Em entrevista, ele disse que enviará ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), cópias das declarações em que criticou o militante de esquerda Fernando Santa Cruz, que desapareceu em 1974, durante a ditadura militar (1964-1985).
Nesta semana, Bolsonaro citou o pai do presidente da entidade para reclamar sobre a atuação da OAB na investigação do caso Adélio Bispo, autor de facada desferida contra o então candidato na campanha eleitoral.
O presidente disse saber como o pai de Santa Cruz desapareceu durante a ditadura, e que poderia explicar a ele se Santa Cruz quisesse.
"Mesmo eu não sendo obrigado [a prestar esclarecimentos], eu presto. Não falei nada demais. Eu vou entregar os vídeos, fazer a degravação e mandar", afirmou Bolsonaro nesta sexta.
Barroso encaminhou uma interpelação a Bolsonaro para que ele esclareça "eventuais ambiguidades ou dubiedades" na crítica ao militante de esquerda, que integrava a APML (Ação Popular Marxista-Leninista).
"O que eu falei de mais para vocês? Me responda. O que tive conhecimento na época. Eu ofendi o pai dele? Não ofendi o pai dele", disse o presidente.
Na última segunda-feira (29), Bolsonaro declarou: "Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele."
"Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", continuou Bolsonaro.
Mais tarde, ainda na segunda-feira, o presidente remendou sua declaração, defendeu os militares e culpou a esquerda pela morte de Fernando Santa Cruz.
"Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece", disse o presidente, em transmissão ao vivo pela internet enquanto cortava o cabelo na sede do governo. "Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam."
Essa versão é desmentida por uma série de documentos do próprio regime militar, que nunca afirmou que Fernando -um dos mais de 200 nomes que constam das listas de desaparecidos políticos- foi morto por militantes esquerdistas.
O presidente lamentou nesta sexta todas as mortes ocorridas durante a ditadura militar, tanto na esquerda como na direita, e disse que nada disso teria ocorrido se não houvesse a "vontade de implantar o comunismo no Brasil".
"É uma verdade. A verdade dói, machuca. Agora, eu lamento todas as mortes que tiveram dos dois lados", disse.
Barroso deu um prazo de 15 dias para Bolsonaro responder à interpelação. A decisão atendeu a pedido de Felipe, que, de acordo com o despacho se sentiu pessoalmente ofendido e entendeu que houve crime de calúnia contra a memória de seu pai.
Fernando desapareceu em fevereiro de 1974, após ser preso por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, no Rio de Janeiro. Até hoje, sua morte é um mistério e seu corpo nunca foi encontrado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são pessoais, é não representam a opinião deste blog.
Muito obrigado, Infonavweb!