A nadadora conta sua luta dentro e fora da água e celebra suas conquistas
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Edênia Garcia, 32 anos, é uma das principais referências da delegação brasileira nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru. Tetracampeã parapan-americana nos 50 metros costas, ela coleciona mais de 300 medalhas ao longo da carreira, segundo as contas infalíveis de sua mãe. A longa experiência deu bagagem para encontrar atalhos em busca de melhor performance na água e também equilíbrio no momento de se posicionar.
Além de passar muitas horas de seu dia a contar ladrilhos no fundo da piscina, ela é palestrante e luta por diretos iguais. Mulher, nordestina, nascida na cidade de Crato, interior cearense, e cadeirante por problema congênito, ela conversou com o Estado pela primeira vez sobre sua opção sexual.
"Meu posicionamento é muito em causa própria. Procuro não criar polêmicas, ser sutil. A gente percebe o grupo que pertence. Sou LGBT, compartilho algumas coisas, mas não chego gritando que sou LGBT. Minha sexualidade não diz respeito a todo mundo. Meu posicionamento não é de enfrentamento a nada. Tento educar aqueles que não têm conhecimento nenhum da causa, da comunidade. Quero que entendam e conheçam e vejam que não há nada de diferente. Ser diferente é normal. Ninguém é igual", disse.
Edênia também comentou as mudanças que precisou fazer ao longo da carreira por causa da evolução da doença congênita, a atrofia fibular muscular, que afeta até a maneira como respira, o diferente ponto de vista de quando estreou em Mar Del Plata-2003 para agora em Lima e a expectativa, é claro, para a conquista do quinto ouro parapan-americano:
O que mudou no esporte paralímpico de sua estreia para agora?
Comecei muito jovem. Ver essa transformação é interessante. Tem gente muito forte competindo hoje, batendo o recorde da Américas todo dia. O cenário mudou completamente. Está bem mais profissional e eu fico muito feliz de ainda estar na ativa e ver toda essa transformação.
Como que a experiência ajuda a seguir em alto nível?
Experiência conta muito. Consigo ter mais autocontrole, saber o que é prioridade. Na Vila, o refeitório tem todo tipo de comida. A gente sabe o que priorizar para comer, como descansar. O legal é perceber que vai adquirindo essa experiência e usá-la a nosso favor.
Como você era em Mar Del Plata?
Sempre tive muito claro o que tinha que fazer. Mas não tinha muita noção do que priorizar. Por exemplo, a Vila é muito bonita, então saía para andar, me cansava e não chegava 100% para a prova. Quando você é jovem quer aproveitar tudo, quer ver tudo e hoje é diferente, consigo ter essa ideia muito clara de prioridade.
O que precisou mudar por causa da evolução do seu problema?
A minha voz está um pouco mais fraca. Estou tratando as dores no diafragma com osteopatia, que ajuda a soltar a musculatura. Minha síndrome é na parte digital periférica e ela vai centralizando. Estava sentindo dor para respirar, usando muito o peito, estava machucando muito. Tenho feito alongamentos e não fico muito sentada. Com o esporte de alto rendimento essa evolução da doença é mais rápida. E eu não sabia disso até dois anos atrás. Estou com 32 anos, com a idade a tendência é diminuir treino e aumentar a intensidade, priorizar a qualidade e o descanso.
E como está a expectativa para ir em busca do penta?
Estou me preparando psicologicamente para nadar o mais próximo possível do que a gente tem treinado diariamente. Os 50m costas é a prova que é meu xodó. Na sequência (em setembro) tem o Mundial (em Londres) que também campeã. Vamos ver se vem o tetra lá. Não garanto nada, mas vou chegar forte.
Você costuma se posicionar nas palestras e nas redes sociais. Outro dia escreveu: "não podemos naturalizar o absurdo".
É muito comum hoje em dia ver o racismo, o preconceito, a homofobia sendo tratado de uma forma comum por algumas pessoas da nossa sociedade. A gente tem que estar seguro do que é certo e errado. Se o que é errado passar a ser certo, a gente vai deixar de viver em sociedade. A gente vai regredir, nos tornar primitivos. Temos que tomar muito cuidado com as palavras e atitudes para não machucar o outro.
O que te incomoda hoje?
Sou LGBT e procuro me posicionar quanto a isso. É a primeira vez que falo sobre isso em uma entrevista. Meu posicionamento é não deixar que o ódio tome conta da gente e isso se torne natural. Tem de defender a humanidade nas pessoas. Entender que se o outro está ali tem que respeitar. Venho do esporte paralímpico que a gente trabalha a inclusão desde o início, desde a sua raiz. Então, se eu deixar que o preconceito entre em mim, vou na contramão do que vim fazer. Venho do movimento que prega igualdade, respeito. Não podemos naturalizar o absurdo, esse discurso do ódio.
Acha que estamos evoluindo nessas questões?
O diálogo melhorou muito. A gente fala abertamente sobre vários temas. O diálogo aumentou, mas tem uma parcela da população que ainda carrega um preconceito. Porque não conhece, não convive. Dá para entender esse preconceito. O que eu defendo é que todos estejam abertos ao novo. Temos que avançar na questão do acolhimento às minorias também.
Mulher, nordestina, cadeirante e gay...
Pois é... Meu posicionamento é muito em causa própria. Procuro não criar polêmicas, ser sutil. A gente percebe o grupo que pertence. Me identifico como LGBT, compartilho algumas coisas, mas não chego gritando que sou LGBT. Minha sexualidade não diz respeito a todo mundo. Você percebe que faz parte de um grupo e identifica as dificuldades que há nele para existir e então começa a se posicionar. O meu posicionamento não é de enfrentamento a nada.
É para que apenas as pessoas entendam o que significa a nossa vivência no mundo. Quero que as pessoas vejam nosso modelo, nossa visão. Meu posicionamento é de tentar educar aqueles que não têm conhecimento nenhum da causa, da comunidade. Quero que entendam e conheçam e vejam que não há nada de diferente. Ser diferente é normal. Ninguém é igual.
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