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sábado, 31 de agosto de 2019

Focos de queimadas florestais atingem cidades perto de Manaus

O número de ocorrências levou o governo estadual a decretar situação de emergência e pedir apoio do governo federal e das forças armadas para combater os focos

© Reuters
IRANDUBA E NOVO AIRÃO, AM (FOLHAPRESS) - A onda de incêndios florestais, que tem destruído a floresta Amazônica, também chegou a municípios mais próximos a Manaus, espalhando nuvens de fumaça da área urbana à zona rural.


A explosão nas ocorrências nessas duas regiões levou o governo estadual a decretar situação de emergência no início deste mês e pedir apoio do governo federal e das forças armadas para combater os focos.
No entanto, até agora as ações estão voltadas para a região sul do estado, principalmente os municípios de Apuí, Lábrea e Novo Aripuanã
Na rodovia AM-070, no município de Iranduba, a 70 km de Manaus, a aposentada Sinela de Souza, 68, se acostuma com a rotina de fumaça, que este ano chegou mais cedo.
"Essa fumaça sempre se agrava na época do verão, porque as queimadas se espalham. Mas este ano começou cedo demais", diz, enquanto espera o ônibus com as netas, de três e sete e anos e reclama da garganta seca, um dos muitos efeitos apontados pelos moradores das cidades e até dos sítios.
No terreno localizado às margens da AM-352, que liga Manaus ao município de Novo Airão, a agricultora Aparecida Braga, 38, também reclamava da intensidade maior das nuvens de fumaça este verão, enquanto varria folhas e galhos para queimar na frente da propriedade.
"Estou queimando mas é porque preciso preparar o terreno para plantar e a queima vira um adubo. Eu faço o aceiro [limpar bem ao redor, para evitar que o fogo se espalhe] e fico cuidando até apagar, mas infelizmente a maioria não tem essa preocupação, aí o fogo acaba saindo do controle."
E casos como esse têm aumentado no Amazonas e preocupado os órgãos ambientais. No estado, o número de focos de incêndio detectados pelos satélites do Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), aumentou 99% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Já são 8.099 ocorrências, ante 4.065 registradas em 2018. Dessas, 6.401 foram registradas só neste mês, que registrou um aumento substancial em comparação com o ano passado, com 2.589 casos.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas (Dema), o sul do Amazonas concentra 5.352 dos pouco mais de 8.000 focos de calor do estado e, por isso, está sendo priorizado nas ações de combate ao fogo.
Lá, o número de focos de calor aumentou 400% este ano, em comparação com o ano passado, segundo o diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), uma Organização Não Governamental, Mariano Cenamo, ao citar dados de um estudo que ainda será publicado.
"Apuí concentra 20% dos focos de calor de todo o Amazonas, fruto da chegada de novos atores, produtores rurais e especuladores de terra estimulados pelas declarações do [presidente Jair] Bolsonaro. Os sinais do governo federal seguramente estão servindo de combustível para esse avanço do desmatamento, provavelmente na expectativa da impunidade."
Mas o entorno de Manaus também preocupa justamente pela falta de efetivo e operações voltadas para esses municípios, que abrangem áreas protegidas municipais, estaduais e federais. Enquanto as ações são voltadas para o sul do estado, na área próxima à capital os incêndios têm uma estrutura limitada para combate.
Para se ter uma ideia, Novo Airão, localizado em uma região endêmica para incêndios florestais, conta com apenas uma viatura de combate ao fogo e oito bombeiros que, divididos por turnos, atuam,  simultaneamente, em duplas. "A falta de efetivo é nossa maior limitação", diz o comandante do pelotão do município, tenente Raimundo Queiroz.
Enquanto as estratégias de combate ao fogo não chegam aos municípios do entorno de Manaus, os incêndios clandestinos se tornam mais frequentes, relatam moradores de comunidades ao longo das rodovias AM-070 e AM-352. Segundo a Sema, este ano foram registrados 230 focos de queimada na região.
"Com as atenções voltadas para o sul do Estado, quem só tem a intenção de desmatar aproveita a falta de fiscalização para tocar fogo na floresta. Eles ateiam fogo, vão embora e deixam queimando. E às vezes sai do controle", contou Maria Santos, 36, que vive em um sítio na AM-352.A agricultora Ivanilda Souza, 37, contribui para o aumento dos números, ao derrubar e queimar uma parte do terreno onde vive com a família, na rodovia AM-352. "É nossa única alternativa, senão a terra não dá fruto. Me incomodo com a fumaça, mas a gente só faz isso uma vez ao ano e sempre no mesmo lugar."
Para o biólogo e pesquisador da Fundação Vitória Amazônica (FVA) Marcelo Santos, nem todos os agricultores familiares que fazem queimadas para preparar os terrenos para o plantio no Amazonas são responsáveis pelo aumento do desmatamento provocado pelos incêndios florestais.
Para ele, o salto dos números é reflexo do aumento no número de incêndios criminosos, estimulados pela atual política ambiental do país e pela falta de fiscalização. "Os agricultores familiares usam o fogo para preparar a terra para o plantio todo ano, na mesma época, nas mesmas áreas, e isso é um padrão. Este ano eles estão dentro do padrão esperado, não foram eles que saíram do padrão, foram os incêndios criminosos."
O governo estadual afirmou que a situação vem sendo tratada como prioridade, com a declaração do estado de emergência e a criação de um gabinete de crise, que está planejando e coordenando as ações de combate ao fogo em todo o Amazonas.
Nesta semana, um sobrevoo identificou 23 pontos de queimadas em seis municípios do sul do Amazonas, que devem ser vistoriados por terra a partir do fim de semana.
Ainda segundo a pasta, já foram identificados os responsáveis pelo desmatamento de 99 mil hectares e aplicadas mais de R$ 4 milhões em multas por desmatamento ilegal só em Apuí.
VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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