O presidente acionou medidas para ativar o consumo
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A turbulência que atingiu os mercados na última semana e que teve como ponto máximo a moratória de parte da dívida interna tem como pano de fundo um deficit fiscal que, após quatro anos de mandato, não foi revertido como prometera Macri.
Ao contrário, nas últimas semanas, o presidente acionou medidas para ativar o consumo: prometeu um abono salarial a todos os funcionários públicos e cortou o imposto que incide sobre os alimentos, entre outras medidas.
Na sexta-feira (30), ofereceu aumentar em 35% o salário mínimo, para compensar uma inflação que chegou a 54% nos 12 meses até julho. Os trabalhadores pediram mais.
Desde junho Macri mantém uma política que subsidia o pagamento em 12 vezes sem juros no cartão de crédito em cerca de 200 redes do varejo do país, o chamado Ahora 12.
O programa é bancado por recursos que os bancos deveriam deixar depositados no banco central, mas foram liberados para inflar o crédito por orientação do governo.
O economista Fausto Spotorno, da consultoria Orlando Ferreres & Asociados, afirma que os anabolizantes deverão contribuir com 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano, mas isso não será suficiente para tirar a economia da rota da recessão, com uma queda de 1,7% em 2019.
"São medidas que não geram impacto porque são pequenas e porque o problema da dívida deprime a economia. Quando capitais começam a sair do país, o crédito interno cai e a demanda também", afirma.Para o economista e consultor Marcelo Elizondo, Macri assumiu uma estratégia econômica equivocada, que desaguou na atual crise financeira. Em vez de enfrentar o deficit público, endividou-se, primeiro com credores privados e depois com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A dívida pública argentina saltou, em seu mandato, do equivalente a 52% para 90% do PIB. "O que Macri pode fazer com essa crise? Não muito, pode conter seus efeitos, mas não resolver o problema. Não pagar vencimentos de títulos é uma resposta. Mais adiante, pode ser que imponha restrições de acesso ao dólar. De todos modos, são medidas acessórias que não resolvem o problema de fundo", afirmou Elizondo.A incerteza econômica casou-se com a política quando Macri apareceu bem atrás do opositor Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner.As primárias abertas obrigatórias ocorreram no último dia 11, e as pesquisas apontavam Macri três pontos atrás de Fernández. No entanto, ele perdeu de 47% a 32%.
O cenário político muito diferente do que previam os investidores derrubou os mercados nos dias seguintes e aumentou a cobrança sobre uma solução de Fernández, dado o favoritismo que assumiu na corrida eleitoral.
O político peronista, no entanto, tem evitado dar respostas. Após a moratória de quarta-feira (28), limitou-se a dizer que Macri estaria "contando os dias" para deixar o cargo.
"Estamos vivendo uma situação política inédita causada pelas primárias, que definiram o ganhador muito antes da eleição e muito antes da posse. Isso num país de estabilidade econômica precária pode causar um erupção a qualquer momento", diz o analista político Marcos Novaro. "Macri não tem mais chances de virar o jogo e não quer aceitar."
Economistas, porém, se frustram com a falta de palavras de Fernández, que tem optado por criticar Macri e o próprio FMI porque, segundo ele, teriam jogado tudo pela reeleição -durante o atual governo, o Fundo liberou um empréstimo de US$ 57 bilhões à Argentina.
Spotorno afirma que os economistas esperam por uma saída à la FHC-Lula, em 2002, quando os dois negociaram juntos um novo socorro ao Fundo.
"É fundamental que Fernández diga algo. Não temos ideia sobre se ele e Macri vão acordar sobre os problemas mais sérios do país, mas sem isso a economia não funcionará", disse.
Elizondo enxerga outra estratégia entre os peronistas. "Fernández não tem de dar resposta à crise, e é essa a sua estratégia, deixar que Macri desinfle completamente", afirmou.
As eleições estão marcadas para o próximo dia 27 de outubro.
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