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domingo, 1 de setembro de 2019

Após 8 anos, Museu Judaico conclui obra e se prepara para reabrir

A proposta do espaço é apresentar os costumes, a cultura, a religião e a história de judeus no Brasil para o público em geral

© Reprodução/Lusa
Camadas e mais camadas de tinta se somaram sobre a superfície externa da antiga sinagoga Beth-El ao longo de nove décadas. De modo quase arqueológico, foram removidas aos poucos por uma equipe de restauradores há quase dois anos.


O procedimento revelou a cor original (branco em vez de bege). E mais do que isso: confirmou uma antiga suspeita, de que as cúpulas são de cerâmica branca, com listras azuis na margem. Isto é, quando visto de cima, o templo parece usar um grande solidéu.
As descobertas são consequência do restauro e da ampliação da sinagoga, que reabrirá no primeiro semestre de 2020 como Museu Judaico de São Paulo na Rua Major Quedinho, na Bela Vista, região central.
Iniciadas em 2011, as obras foram concluídas neste mês, restando o trabalho de desenvolvimento da expografia e de elaboração do design da biblioteca, do café e da lojinha. O custo total é de cerca de R$ 30 milhões, de acordo com a instituição.
A proposta do espaço é apresentar os costumes, a cultura, a religião e a história de judeus no Brasil para o público em geral. "É para gerar empatia, conectar histórias, trabalhar preconceitos e estereótipos. Queremos transmitir um pouco da essência da cultura judaica", explica a diretora executiva do museu, Roberta Sundfeld.
As mostras irão expor peças de um acervo de mais de 2,5 mil objetos e documentos históricos, além do mobiliário da sinagoga, misturados a dispositivos digitais. No altar, por exemplo, no espaço em que geralmente fica a torá, será disposta uma mesa interativa com o conteúdo do livro.
Dentre os itens raros do acervo, estão contratos de casamentos de judeus na Amazônia, mapas de uma colônia estabelecida no Rio Grande do Sul em 1904 e um cartaz antissemita alemão, do período nazista. "A ideia é mostrar a presença do imigrante judeu no Brasil", comenta a diretora.
A maior mudança já é visível da rua: uma das laterais do prédio foi ampliada até a Avenida Nove Julho, em um terreno cedido pela Prefeitura de São Paulo. De vidro e curva, ela permite observar grande parte da via por aqueles que estão do lado de dentro.
Ao todo, o museu contempla quatro pavimentos para exposições do acervo e temporárias, com parcerias internacionais. Outra etapa do projeto prevê, ainda, a criação de uma ligação do museu com um prédio vizinho, cujo auditório será utilizado pelo museu.
O projeto de restauro e ampliação é da Botti Rubin Arquitetos. Segundo Simoni Waldman Saigon, coautora do projeto, o imóvel estava em "razoável estado de conservação". Imagens de 2010 mostram a fachada com falhas no revestimento e parcialmente coberta por uma marquise móvel disposta na entrada.
"Era mais uma conservação de leigo, foram pintando, impermeabilizando em cima, que são intervenções não condizentes com um bem cultural tombado e que tiveram de ser ajustadas para chegar a uma intervenção baseada em um projeto de restauro."
História
O projeto original da sinagoga é de 1928, do arquiteto russo Samuel Roder, ligado à Companhia City e autor do projeto do edifício Tupã - icônico residencial art déco da Santa Cecília, no centro. Ele é inspirado no estilo bizantino (da idade média), pouco comum em São Paulo e conhecido especialmente pela Basílica de Santa Sofia, de Istambul.
O espaço é tombado na esfera municipal desde 2013, quando o projeto de transformação em um museu já estava em andamento e a congregação Beth-El já havia se mudado para os Jardins. A resolução de tombamento classifica o espaço como a "primeira grande sinagoga fora do Bom Retiro", bairro historicamente ligado à imigração judaica.
A arquiteta Myriam Szwarcbart explica que não existe uma arquitetura predominante para sinagogas e que, especialmente as mais antigas, tinham forte influência dos costumes e estética do país natal dos frequentadores. Na parte interna, contudo, há variações ligadas aos diferentes grupos judaicos. A antiga sinagoga do Beth-El tinha, por exemplo, uma configuração em que os homens ficavam perto do altar, enquanto as mulheres permaneciam no mezanino.
"Às vezes, se instala a sinagoga em uma casa adaptada. No Itaim (Bibi), no Alto de Pinheiros, com arquitetura super moderna. A arquitetura se adapta ao ambiente em que está", explica Myriam. Ela está preparando o livro "Guia das sinagogas de São Paulo - Arte e Arquitetura" para ser lançado no próximo ano, com a história dos cerca de 70 templos judaicos que já existiram em São Paulo e na região metropolitana.
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