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domingo, 29 de setembro de 2019

Equipamento identifica vítimas de Brumadinho por DNA liberou um laudo

Identificar corpos e segmentos de corpos encontrados na lama pelos Bombeiros virou o trabalho mais longo da história da Polícia Civil de Minas Gerais

© REUTERS/Washington Alves
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Passados oito meses desde o rompimento da barragem B1, na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), 21 famílias ainda esperam o telefonema do IML (Instituto Médico Legal) com o aviso de que poderão enterrar filhos, filhas, pais, mães, irmãos e irmãs.

Identificar corpos e segmentos de corpos encontrados na lama pelos Bombeiros virou o trabalho mais longo da história da Polícia Civil de Minas Gerais.
"Desde janeiro até agora, a prioridade total do laboratório tem sido Brumadinho", diz a chefe do laboratório de DNA, Valéria Rosalina Dias.
Em agosto, o laboratório recebeu o Ilumina -sequenciador de DNA de última geração-, que promete acelerar o trabalho feito pelos peritos. Com custo de aproximadamente R$ 2 milhões, o equipamento foi doado ao estado pela Vale, como compensação pela tragédia.
Como a tecnologia ainda é novidade para os peritos de Minas Gerais, até o momento, apenas um segmento de uma das vítimas foi identificado através dele. Segundo Valéria, estão em processamento 52 laudos de amostras, mas nenhum concluído. Cada teste tem custo médio de R$ 6.000.
A máquina, que parece uma impressora à primeira vista, consegue sequenciar cerca de dois terços do genoma humano em 30 horas. Isso significa que consegue apresentar uma gama maior de polimorfismos -marcadores de regiões do DNA que são específicos de cada indivíduo- para serem analisados e comparados com familiares, como pais ou irmãos.
A dificuldade atual do laboratório está na análise do número maior de marcadores disponíveis e no desenvolvimento de cálculos de bioinformática que ajudem a mostrar até que ponto o resultado apontado é confiável.
"Por exemplo, quando identificamos uma pessoa de Brumadinho, no laudo pericial afirmamos que é 10 milhões de vezes mais provável que o casal tal seja pai daquela ossada do que qualquer outro casal na população. Com o Ilumina, precisamos valorar esse resultado também, qual o peso de probabilidade dele", explica Valéria.
Um perito de Minas Gerais foi a Porto Alegre para aprender a trabalhar com o sistema Ilumina, junto ao laboratório de Genética Humana e Molecular - Genética Forense da PUC-RS. O aparelho no Rio Grande do Sul também é habilitado para análises forenses, em parceria com a Polícia Federal, segundo a universidade. 
Desde o início de julho, a lista de vítimas identificadas na tragédia foi atualizada apenas duas vezes, elevando o número oficial de mortos para 249. Valéria explica que os laudos continuam sendo liberados, o problema é que muitas vezes eles se relacionam a segmentos de vítimas que já foram identificadas.
Há 134 casos de Brumadinho em andamento no laboratório esperando para serem solucionados. Foram analisadas e inseridas no banco de dados amostras de 565 familiares. Do total de 782 casos encaminhados ao IML, foram identificados 551 -286 analisados por teste de DNA. Apenas 37 vítimas foram identificadas apenas por DNA.
O exame de DNA é a última opção. Quando são encontradas partes como cabeça ou membros da vítimas, com impressões digitais, são feitos exames de odontologia e papiloscopia para o reconhecimento. Em caso de partes com tatuagens específicas, a análise é antropológica.
"Se usando essas técnicas eles não conseguem identificar, aí sim vem para o DNA. A gente é a última opção, porque é um exame caro, demorado, mais difícil", explica a perita criminal.
Na porta do escritório dela, no Centro de Belo Horizonte, folhas colocadas de cima a baixo do lado de fora da porta montam um fluxograma do passo a passo a ser seguido nas identificações de Brumadinho e como resolver possíveis dúvidas que podem surgir aos peritos.
A referência usada por eles, assim que ocorreu a tragédia, foram acidentes aéreos recentes que ocorreram no país. O primeiro passo foi criar um banco de dados para estabelecer vínculo genético entre as vítimas e familiares.
Como as amostras resgatadas estão cada vez mais degradadas, o DNA deve ser a principal via de identificação daqui para frente. Apesar de a lama de rejeitos ter apresentado o fenômeno de saponificação -como se mumificasse os corpos- Valéria explica que o minério também tem sido um desafio. Alterações químicas provocadas por ele nas amostras podem atrapalhar a ação dos reagentes utilizados para extrair DNA.
"A gente tem experiência com casos difíceis de resolver. Trabalhamos identificando ossadas, restos carbonizados, criminosos sexuais, a rotina é pesada. Mas nunca tínhamos nos deparado com um volume tão grande de amostras, com várias questões que a gente não conhecia antes", diz ela.
Depois da demanda de Brumadinho, o Ilumina poderá ser usado em casos que não têm sucesso com métodos tradicionais, como amostras carbonizadas ou de DNA de toque, onde são deixadas impressões digitais muito discretas.
As buscas, segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, não têm previsão de acabar. As equipes se preparam para uma mudança na estratégia para a segunda quinzena de outubro, quando devem começar as chuvas na região. 
"Agora é um trabalho mais de inteligência, cruzamento de dados, persistência. É um trabalho de busca extremamente complexo e é preciso cuidar para que não se reflita em sentimento de desesperança, quando passa algum tempo sem encontrarmos novos segmentos", diz o tenente Pedro Aihara. 
VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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