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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Pego de surpresa com o anúncio do presidente Donald Trump de que aplicará uma sobretaxa sobre as exportações de aço do Brasil, o governo Jair Bolsonaro deve negar que atue para desvalorizar o real e argumentar que a adoção das tarifas deve prejudicar a indústria carvoeira dos Estados Unidos.
De acordo com interlocutores ouvidos pela reportagem, o governo está reunindo informações para tentar convencer o EUA a voltar atrás na imposição das tarifas.
Na manhã desta segunda-feira (2), Trump afirmou no Twitter que Brasil e Argentina "desvalorizaram fortemente suas moedas, o que não é bom para nossos agricultores".
Em seguida, ele disse que, "com vigência imediata", restabelecerá as "tarifas de todo aço e alumínio enviados aos EUA por esses países".
No material em preparação que deve ser usado nas conversas com as autoridades dos EUA, o governo brasileiro deverá argumentar que não interfere no câmbio e que a desvalorização do real ocorre livremente, seguindo as flutuações do mercado.
As intervenções do Banco Central são pontuais e as últimas ações tomadas foram justamente para reduzir o ritmo da desvalorização do real sobre o dólar, ainda segundo o estudo em elaboração.
Em outra frente, a administração Bolsonaro deverá afirmar que o aço exportado aos EUA não compete com a siderurgia daquele país nem representa um risco para os empregos locais, o contrário do que diz Trump.
O argumento, segundo pessoas que acompanham o tema, é que a maior parte das vendas aos EUA é de aço semi-processado, que serve de insumo para a indústria americana.
Por outro lado, a administração Bolsonaro deverá lembrar ainda que o Brasil é um grande importador de carvão dos EUA, que é usado justamente para a produção de aço.
O aço é uma liga de ferro e carbono e, para sua produção, segundo informações do Instituto Aço Brasil, o carvão mineral é usado para alcançar altas temperaturas (1.500° C) para a fusão do minério. O carvão ainda remove o oxigênio do ferro em um alto forno.
Dessa forma, a avaliação do Brasil é que uma redução nas exportações de aço para os EUA - em razão da sobretaxa- deverá afetar a indústria americana de carvão, principalmente em estados como Alabama, Pensilvânia e Virgínia Ocidental.
No ano passado, quando Trump anunciou tarifas ao aço brasileiro, o Instituto Aço Brasil usou o argumento da compra de carvão dos EUA para tentar demovê-lo da sobretaxa.
Na época, o Brasil era apontado com o principal comprador do carvão. Em campanha eleitoral, Trump prometeu revitalizar a indústria carvoeira do país. Em 2020, ele deverá concorrer à reeleição.
Trump também pediu nas redes sociais que o Federal Reserve (banco central dos EUA) impeça que países tomem vantagem de um dólar mais forte, desvalorizando suas moedas.
O presidente Bolsonaro afirmou nesta segunda que, se for preciso, telefonará para Trump para encontrar uma solução para a ameaça de retomada das tarifas de importação sobre o aço e o alumínio do Brasil e da Argentina.Na saída do Palácio do Alvorada, onde parou para conversar com o grupo de apoiadores, o presidente disse que tratará o assunto na tarde desta segunda com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e ressaltou que tem um "canal aberto"com Trump. "Eu vou conversar com o Paulo Guedes. Se for o caso, ligo para o Trump. Eu tenho um canal aberto com ele", disse. "Eu converso com o Paulo Guedes e depois dou a resposta. Para não ter que recuar", afirmou Bolsonaro.
Mais tarde, em entrevista à Rádio Itatiaia, Bolsonaro disse não considerar a ameaça de Trump como uma retaliação, mas reconheceu que ela fortalece o discurso dos partidos de oposição contra o seu governo. "Primeiro, é munição par a o pessoal opositor meu no Brasil", disse. "A economia deles não se compara com a nossa, dezenas de vezes maior que a nossa. E não vejo isso como uma retaliação", disse.
Bolsonaro afirmou que conversará com Trump para que ele não penalize o Brasil também na questão do alumínio e disse ter "quase certeza" de que o presidente americano atenderá ao pedido brasileiro.
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