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COPENHAGUE, DINAMARCA (FOLHAPRESS) - Apontado pela polícia do Rio de Janeiro como um dos autores do ataque à sede do canal Porta dos Fundos, Eduardo Fauzi está escrevendo um livro em que conta detalhes do atentado à produtora.
O empresário, que fugiu para Moscou no fim do ano passado um dia antes da expedição de seu mandado de prisão, disse se sentir como um perseguido político. Ele, que voltaria ao Brasil no dia 30 de janeiro, já admite a possibilidade de ficar na Rússia.
No livro, Fauzi pretende descrever seu papel no ataque ao Porta dos Fundos, que diz ter sido "belo, justo e moral", e sua viagem à Rússia.
Ele nega ter atirado os coquetéis molotov na sede da produtora, mas admite "saber de antemão que seriam lançados" e que teve uma "participação ativa, mesmo que simbólica" no episódio.
O crime teria sido uma resposta ao especial de Natal do grupo de humor, que apresenta um Jesus como um homossexual, papel de Gregorio Duvivier.
"Esse últimos eventos têm sido dramáticos. Há toda uma gama de personagens secundários envolvendo a conclusão do ataque ao Porta dos Fundos, traições, derrotas, vitórias e apoios inesperados. Preciso escrever agora, ou o calor das emoções de quem está no centro do problema vai se resfriar e eu vou perder esses sentimentos tão necessários à eternização dessa experiência", conta Fauzi.
Sua rotina em Moscou se divide entre academia, idas diárias à igreja e brincadeiras com o filho Misha, de quatro anos. É com ele que Fauzi pratica o idioma russo.
A criança nasceu em Israel, mas tem nacionalidade russa, por causa da mãe, que nasceu no país. Atualmente, o menino mora com ela, em Moscou.
O empresário também passa o tempo viajando entre a capital e São Petesburgo, as maiores cidades do país, e diz ter se encantado por Cazã, local conhecido por abrigar templos de diversas religiões e de maioria muçulmana. Fauzi conta ainda que lê pelo menos 40 páginas por dia.
"Meus interesses usualmente giram em torno de ciências sociais, história, geopolítica, sociologia, antropologia. Também me dedico muito a romances", diz o empresário.
Ele afirma também que está lendo "Casa Grande & Senzala", obra de Gilberto Freyre, "Mestre e Margarida", do russo Mikhail Bulgákov, e "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota", de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, sua "bíblia de consulta diária".
"O 'Casa Grande & Senzala' é para mim uma experiência sensorial. Tenho fascínio por Brasil e por suas manifestações culturais mais populares. Leio esse livro escutando Dominguinhos, Alceu Valença e Luiz Gonzaga", afirmou Fauzi.
Apesar do dia a dia tranquilo que leva na Rússia, o empresário tem mobilizado sua defesa no caso do ataque ao Porta dos Fundos.
Seus advogados entraram com um pedido de habeas corpus na Justiça do Rio de Janeiro, em resposta ao mandado de prisão temporária decretado pelo tribunal do estado.
Fauzi também pediu asilo político ao governo russo, mas ainda não tem resposta da Justiça e nem do Kremlin. "Não vejo como o crime de que estou sendo acusado, que é de baixíssimo potencial ofensivo, possa manter uma prisão temporária por mais de 30 dias. Meu interesse é retornar no dia 30 de janeiro, mas isso vai depender da avaliação do meu corpo jurídico, sobre como o ambiente político e social em torno do meu nome poderá afetar o andamento do meu processo, minha segurança e liberdade", diz Fauzi.
O empresário afirma ainda que seus advogados o alertaram para possíveis tentativas da Justiça de "inventar crimes inexistentes" que possam levar à sua detenção. "Mediante a verificação da solidez dessa possibilidade, é que seguirei ou não tentando o asilo."
O Itamaraty afirma que não recebeu do Ministério da Justiça nenhum pedido de extradição para Eduardo Fauzi e que, portanto, não enviou uma solicitação ao Kremlin.
Fauzi diz não se arrepender da participação no ataque ao Porta dos Fundos e acrescenta que o episódio "A Primeira Tentação de Cristo", que retrata um Jesus gay, é criminoso.
"O especial do Porta dos Fundos foi 'cristofóbico', o que é tão ou mais grave do que se tivesse sido homofóbico ou racista. A imagem de Jesus Cristo é ícone civilizacional em todo o Ocidente e, mais ainda, no Brasil. O Cristo simbólico amarra em torno dele uma série de valores fundantes da nossa civilização. Quando essa imagem do Cristo simbólico é destruída, toda essa cadeia de valores é arrasada", disse.
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