Bolsonaro já minimizou a doença causada pelo coronavírus e criticou o isolamento social
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Na terça e quarta-feira da semana passada (24 e 25), Bolsonaro minimizou a doença causada pelo coronavírus e criticou o isolamento social. No domingo (29), o presidente passeou pelo comércio do Distrito Federal, momento em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o próprio Ministério da Saúde recomendam isolamento social para evitar o contágio do novo coronavírus.
Para o advogado André de Godoy Fernandes, 50, que perdeu o pai devido a complicações causadas pela Covid-19 no dia 16 de março, ouvir o pronunciamento do presidente na noite de terça-feira foi um "desprazer".
"Ele provou que é uma pessoa incapaz de sentir empatia e desqualificado para governar o país em uma situação de crise", disse Fernandes.
Seu pai, o engenheiro Antônio Luiz Fernandes, foi internado no dia 9 de março, sem os cuidados de isolamento. "Estavam começando a falar da epidemia aqui no Brasil. Minha irmã, a minha madrasta e eu acompanhamos meu pai no hospital sem nenhuma proteção. Nem os enfermeiros usavam máscaras o tempo todo", conta.
O engenheiro, que tinha 77 anos e sofria de uma doença pulmonar, morreu antes que o resultado positivo para o coronavírus chegasse. "Minha impressão é de que há um atraso de informação. Como não se testou maciçamente a população, não se sabe ao certo quantos estão contaminados. Os números que vemos são a ponta do iceberg", afirma Fernandes.
O advogado entende a preocupação com a economia, mas diz que o importante agora é garantir a vida das pessoas. "Infelizmente, o presidente que está aí não é capaz nem de uma coisa nem de outra."
O autônomo Francesco Palumbo, 24, considera a fala do presidente uma demonstração de despreparo. "Não tenho palavras para definir um pouco caso desses", afirmou.
Palumbo perdeu o avô na manhã da última quarta (25), uma semana após a manifestação dos primeiros sintomas da doença. O paciente sofreu uma parada cardíaca e teve morte súbita cerca de quatro dias após ter sido liberado do hospital onde estava internado, na zona leste de São Paulo.
"Uma postura dessas [do presidente] é lastimável diante da situação que o país e o mundo estão vivendo. A população se vê desamparada", afirmou o neto. "Isso é muito grave, e vai matar a população. Esse ser humano que está no poder está alimentando tudo isso."
A advogada Daniela Teixeira, 48, também repudiou as falas de Bolsonaro. Ela contraiu a doença em um evento de trabalho e foi a primeira pessoa a se curar da Covid-19 no Distrito Federal, onde mora.
"O conselho do presidente é temerário, absurdo e coloca em risco a população brasileira. Ele vai contra o que os líderes de todas as nações do mundo estão falando. Quando ele se preocupa com a economia, esquece o povo. Do que adianta ter um emprego e morrer?"
Teixeira teve contato com o vírus em um evento de trabalho e ressaltou a importância de fazer a quarentena para diminuir a contaminação. "Qual a necessidade de a minha filha de seis anos voltar para a escola agora? Nenhuma. Ainda que ela perca seis meses, o ano [escolar], diante de uma pandemia mundial, eu como mãe não posso deixar que ela traga o vírus para dentro de casa ou leve para fora."
Suzana, uma bióloga de 47 anos que não quis ter o seu sobrenome publicado, disse achar a fala do presidente "extremamente irresponsável".
"Peguei o vírus ao ficar sentada a um metro de distância de uma pessoa que não tinha sintomas, não estava tossindo. Nem encostei nela. Esse vírus é muito mais contagioso do que o presidente acha", afirmou.
A esposa de Suzana foi contaminada por tabela. Ambas estão em isolamento domiciliar e não irão ao hospital por não terem sintomas graves –até agora, elas sentiram dores na cabeça e no corpo, febre baixa e enjoo. Tiveram pouca tosse e não sentiram falta de ar.
Ambas estão confinadas desde 9 de março, quando os sintomas começaram. A esposa de Suzana sai de casa apenas para ir ao mercado e à farmácia, usando luvas de plástico e uma máscara.
A bióloga contraiu a doença de uma estudante de 22 anos durante uma reunião com ela e uma professora de 69 anos. A estudante apresentou manchas no pulmão e outros sintomas graves, e está tomando medicação antirretroviral e antibióticos. A professora, mesmo sendo mais velha, não teve nenhum sintoma até agora.
"Acho absurdo como Bolsonaro pode falar esse tipo de coisa sendo que a própria equipe dele ficou doente", disse Suzana. "Não é uma doença de velho nem uma doença de rico."VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO
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