A prefeitura de Magé respondeu, por e-mail, que a Secretaria Municipal de Assistência Social vem cuidando dos casos.
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No momento, ela e familiares moram em três casas interditadas pela Defesa Civil por risco de desabamento. "A gente não tem para onde ir. A minha sobrinha morava em uma quarta casa, também interditada, na parte de cima. Ela teve que se mudar para a casa da minha cunhada, aqui do lado. São seis pessoas dividindo o mesmo espaço", lamenta. "A gente não conseguiu dar entrada no aluguel social. Todas as vezes que tentamos, o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) estava fechado". Outra preocupação é o período de espera pela ajuda. "Depois de dar entrada, vamos ter que ficar numa fila gigantesca", diz.
Da mesma maneira, Flávio Araújo, 27, e Maria Lúcia, 32, estão aguardando o pagamento do aluguel social e o Cartão Recomeçar, lançado em fevereiro pelo governo estadual para que famílias afetadas pelas chuvas possam comprar material de construção e eletrodomésticos.
O operador de máquinas e a balconista ficaram soterrados nos escombros da casa, derrubada por causa de um deslizamento de terra após as chuvas, no início de março. Após três horas, os bombeiros conseguiram fazer o resgate. Flávio quebrou o braço e Lúcia ficou com arranhões.
O casal agora mora em uma casa cedida por um conhecido, em uma vila com outras quatro famílias. "Mesmo querendo ficar em casa para nos prevenirmos contra o coronavírus, não conseguimos fazer o isolamento recomendado", conta Flávio.
Segundo nota publicada no site da prefeitura de Magé, município com cerca de 245 mil habitantes, as famílias afetadas pelas chuvas que tiveram as casas interditadas vão receber o aluguel social. No entanto, uma das queixas dos moradores é a demora no processo, maior desde o início da crise do coronavírus.
A prefeitura de Magé respondeu, por e-mail, que a Secretaria Municipal de Assistência Social vem cuidando dos casos.
Outro ponto de preocupação na cidade são as restrições de acesso, colocadas pela prefeitura, para evitar a proliferação da Covid-19. Há barreiras sanitárias, onde passam apenas carros com placa do município ou que portem comprovante de residência, e bloqueios totais, que impedem a circulação de todos os veículos. Com a ausência de transporte público, os moradores que precisam trabalhar em meio à pandemia do coronavírus fazem um longo percurso a pé para pegar condução.
"Daqui a pouco vai faltar gente nas farmácias, nos mercados e nos serviços de limpeza urbana. Isto sem contar na área da saúde", conta a jornalista Sandra Martins, 62, que está em Magé desde o início de fevereiro cuidando dos pais hospitalizados. Após um AVC (Acidente Vascular Cerebral) isquêmico e infecções urinária e pulmonar, a mãe de Sandra faleceu. "Apesar dos informes, vi seguranças do Hospital Municipal de Magé se recusando a usarem luvas e pacientes sentados na sala de espera sem os cuidados divulgados", conta.
De acordo com o levantamento sobre adensamento populacional da série Infográficos da Desigualdade, realizado pela Casa Fluminense, existem cerca de 6.800 casas com mais de três moradores por quarto em Magé. "Há lugares com alta densidade demográfica, onde sete pessoas moram num espaço pequeno e sem infraestrutura sequer para lavar as mãos. Consequências de erros acumulados ao longo do tempo", diz André Sant'Anna, 41, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Para Cadu Young, 54, doutor em economia e Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT-PPED), a agilidade das respostas públicas é essencial para conter as consequências em períodos de pandemia e eventos climáticos. "Estamos pagando o preço da desigualdade social. Ações e servidores públicos são vitais para evitar um cenário em que a população fique desassistida, especialmente durante a quarentena", avalia.
Doutor em sociologia e professor titular da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Claudio Alves, 57, diz que faltam ações mais eficazes das prefeituras para evitar o contágio pelo novo coronavírus nos municípios da Baixada Fluminense. "Se não existe estrutura para sobreviver socialmente, como essas pessoas seguirão os protocolos necessários para se protegerem minimamente?", indaga.
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