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quarta-feira, 29 de abril de 2020

Em clima de tensão, governo busca base anti-impeachment

Dirigentes de partidos que estiveram com Bolsonaro, recentemente, observaram que, com a mudança de tratamento e oferta de cadeiras nos segundo e terceiro escalões

© Reuters
A estratégia de Jair Bolsonaro de se aproximar do Centrão pode dar ao presidente o apoio de um grupo decisivo para seu futuro no cargo. Se tiver de barrar eventual processo de impeachment na Câmara, Bolsonaro precisará de 172 votos. Hoje, ele não tem uma base no Congresso, mas, com a distribuição de cargos, pode reunir 173 parlamentares - um voto a mais do que o número necessário para impedir a abertura de processo.


Dirigentes de partidos que estiveram com Bolsonaro, recentemente, observaram que, com a mudança de tratamento e oferta de cadeiras nos segundo e terceiro escalões, ele conquistou siglas de bancadas médias do Centrão. Com isso, rachou o bloco que dava sustentação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem passou a atacar como principal adversário no Congresso.

Com o movimento para sobreviver, Bolsonaro está de olho nos votos do Progressistas (40 deputados), partido que abrigou dois de seus filhos, PL (39), PSD (37), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). A soma dá 173, sem levar em conta eventuais defecções. Além disso, o presidente teria pelo menos metade dos votos da bancada do PSL, formada por 53 deputados, com a dissidência de seu antigo partido, que poderá migrar para o Aliança pelo Brasil.
Bolsonaro tem, ainda, parcela de apoio no MDB (34), na bancada da bíblia, nas frentes evangélica e católica, e adesões individuais em partidos como Podemos, Patriota, PSC e outras siglas nanicas.
Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, o presidente, em 16 meses de mandato, é alvo de 31 pedidos de impeachment na Câmara. O número é superior ao de seus antecessores e cresceu após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro acusá-lo de interferência política na Polícia Federal. Em outra frente, parlamentares também tentam tirar do papel uma CPI para apurar as denúncias.
Maia disse ontem que o momento é de cautela. "Temos uma CPI das Fake News que vai avançar, um inquérito do ministro Celso de Mello (do Supremo Tribunal Federal) que vai avançar e nós vamos focar nas pautas de combate ao coronavírus", afirmou ele.
Herança
Na prática, o Centrão comanda a Mesa Diretora da Câmara desde 2015, ano em que o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi eleito para a presidência da Casa. Cunha acabou preso e condenado por Moro em processo da Lava Jato. Embora a saída do "superministro" tenha desgastado Bolsonaro na relação com seu eleitorado, líderes do Centrão - bloco do qual o próprio presidente fez parte no passado, quando era deputado - comemoraram a queda.
Moro e Maurício Valeixo, seu braço direito na Polícia Federal, simbolizavam a herança da Lava Jato, uma operação que atingiu dezenas de parlamentares e partidos do Centrão. Bolsonaro se elegeu rechaçando a "velha política" e, com isso, Maia seguia como interlocutor oficial do grupo no Planalto. Não será mais assim. Diante das crises política e econômica e com o agravamento da pandemia do coronavírus, Bolsonaro decidiu mudar o modelo de negociação com o Congresso e procura cada vez mais isolar Maia.
Há dúvidas sobre qual será o comportamento dos partidos de esquerda, principalmente do PT (53), em relação às denúncias de Moro. A oposição quer remover Bolsonaro do Planalto, mas sem beneficiar o ex-juiz da Lava Jato. Moro é algoz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem prendeu e condenou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não bastassem essas variáveis - os votos pró-Bolsonaro no Centrão e a má vontade da oposição com Moro -, ainda há as dificuldades impostas pela covid-19. Com o isolamento social, o impedimento do presidente dependeria de uma convocação para reunião presencial por parte de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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