O índice revela que um dos principais fatores de risco para os municípios é um sistema de saúde despreparado para grande número de internações, exames e atendimentos.
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A cidade fica a cerca de 700 km da capital, Belém, e tem uma população de aproximadamente 16 mil habitantes. Apesar de ter 13 casos de coronavírus confirmados e uma morte, o município desponta como o mais vulnerável porque dispõe de poucos recursos para um eventual surto local.
O índice revela que um dos principais fatores de risco para os municípios é um sistema de saúde despreparado para grande número de internações, exames e atendimentos.
Mojuí dos Campos tem um hospital municipal e um posto de saúde, mas a realização de exames e internações estão condicionadas a hospitais de outras cidades que integram a mesma microrregião, Santarém.
As quatro outras cidades com maior vulnerabilidade, por sua vez, estão concentradas na Bahia, estado em que há mais de 14,5 mil casos confirmados do novo coronavírus e quase 550 mortes.
Depois de Mojuí dos Campos, Wanderley, Ibirataia, Sítio do Quinto e Jussiape são, respectivamente, as mais vulneráveis de acordo com a avaliação do índice.
O IVM não utiliza dados de mortes e casos confirmados para medir a vulnerabilidades dos municípios, mas oferece esses dados, atualizados diariamente, como um serviço extra.
O índice pontua as cidades com valores que podem ir de 0 a 100, de maneira que, quanto maior o valor, mais vulnerável o município está. Para o cálculo e a aplicação do valor no índice, são considerados 5 eixos temáticos e 18 indicadores. Cada eixo e indicador tem um peso diferente na composição do valor final.
Os cinco eixos e seus percentuais de participação no valor final são População Vulnerável (32,3%), Economia Local (11,7%), Estrutura do Sistema de Saúde (23,5%), Organização do Sistema de Saúde (20,5%) e Capacidade Fiscal da Administração Municipal (11,7%).
Em se tratando da necessidade de organização do sistema de saúde, o índice pode funcionar como um raio-x do sistema, avalia Leonardo Weismann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
"Se o vírus chegasse aos municípios com maior vulnerabilidade seria uma catástrofe, porque falta organização do sistema de saúde. Não basta ter dinheiro se não houver um modelo de saúde sustentável e organizado", diz.
Para Weismann, nas cidades menos vulneráveis, o impacto seria mais facilmente controlado, uma vez que são majoritariamente municípios pequenos e com sistema de saúde mais organizado e economia mais estável.
A exceção, no entanto, é a cidade de São Bernardo do Campo. O município da região do Grande ABC paulista é a única cidade com mais de 500 mil habitantes entre as cinco menos vulneráveis à crise da Covid-19 -e segunda cidade brasileira menos vulnerável, segundo o IVM.
Apesar de o município ter mais de 2.000 casos confirmados da doença e quase 190 mortes, a avaliação do índice indica que a cidade tem um preparo razoável para a contenção da crise.
SBC, como é conhecida, tem uma taxa de 0,23 mortes por Covid-19 por mil habitantes e um sistema de saúde municipal, segundo o IVM, que possibilita internações e realização de exames na própria cidade.
Além disso, a atenção básica de São Bernardo do Campo atende a 60,6% dos munícipes. Quase metade dos mais de 800 mil habitantes da cidade dependem do SUS (Sistema Único de Saúde).
O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), comemorou nas redes sociais a pontuação da cidade no IVM. À reportagem Morando atribuiu a classificação como resultado do programa de governo que o levou ao cargo em 2016.
"Eu tratei a saúde como prioridade da nossa gestão. Inaugurei um hospital permanente de urgência para a cidade e projetei o novo Hospital Anchieta. Os dois hospitais não foram criados para a crise do coronavírus, já estavam nos planos, mas, com a pandemia, ambos passaram a atender exclusivamente casos da Covid-19", disse.
A cidade tem hoje uma das menores taxas de ocupação de leitos de UTI dos municípios da região do ABC, com 73% de ocupação. Quando considerado o total de leitos, a taxa de ocupação cai para 50%, segundo último balanço da prefeitura.
Ambos os hospitais citados pelo prefeito foram inaugurados no último dia 14 de maio. Somente o Hospital de Urgência adiciona novos 250 leitos ao sistema de saúde da cidade, sendo 80 de UTI. Já o Hospital Anchieta soma 100 leitos. Ao todo, São Bernardo do Campo tem 517 leitos, entre UTI e comuns, destinados a pacientes com coronavírus.
Já a cidade menos vulnerável, Colina, a cerca de 400 km da capital paulista, não teve grande exposição ao Sars-CoV-2, segundo dados oficiais. Até o momento, Colina tem oito casos de coronavírus confirmados e uma morte. Uma taxa de 0,05 mortos por mil habitantes.
Um dos pilares do índice, a organização do sistema de saúde, pode ser determinante quanto aos casos confirmados e as mortes por coronavírus, segundo Rafael Gioielli, gerente geral do instituto Votorantim.Gioielli explica que uma cidade ser mais vulnerável não quer dizer que, necessariamente, haverá mais casos confirmados e mortes.
"O IVM mostra que se a gestão pública tomar medidas acertadas de isolamento social, agir rápido, e orientar a população, a cidade terá melhor performance do que municípios onde havia menor vulnerabilidade. O IVM não é uma ciência exata, ele depende da gestão municipal".
A saúde econômica das cidades também é um ponto importante no valor atribuído a cada município pelo índice. Mojuí dos Campos, por exemplo, tem PIB (Produto Interno Bruto) per capita de R$ 9.919 e apenas 6,7% da sua população com emprego formal, enquanto Colina tem PIB per capita de R$ 51.642 e 27,9% de empregados formalmente.
A população vulnerável também é outro indicador essencial para o índice. Na cidade mais vulnerável, 95,6% da população está inscrita no Cadastro Único para programas sociais da Caixa, enquanto no município menos vulnerável a proporção de inscritos é de 20,2%.
As prefeituras de Colina e de Mojuí dos Campos foram procuradas pela reportagem, mas não responderam até a publicação deste texto.
Índice era interno, mas surpreendeu e foi divulgado Apesar de reunir informações de diversos temas relevantes sobre os mais de 5.500 municípios brasileiros, o IVM foi criado para ajudar o Instituto Votorantim a direcionar seus projetos de ajuda no combate ao coronavírus, segundo Gioielli.
"Já estamos usado o índice há mais de um mês para observar dados por município, como disponibilidade de equipamentos, o que nos ajuda a priorizar doações. A Votorantim já doou, por exemplo, EPIs (equipamentos de proteção individual) para profissionais da saúde de 98 cidades, em muitas das quais há atuação da empresa", afirma.
O instituto também tem doado equipamentos, como respiradores. É o caso da doação a ser feita para a cidade de Capanema, no Pará. "Nós observamos diversos municípios nos quais a Votorantim tem ação e encontramos a cidade de Primavera, no Pará, mas Primavera não tem hospital, portanto optamos por doar um respirador pulmonar para a cidade de referência da região, Capanema", disse.
Até o momento, o Instituto investiu R$ 150 milhões em cerca de 300 projetos em todo o país. Em um deles, por exemplo, a Votorantim selecionou 20 cidades para participarem de um treinamento de gestão para uma eventual segunda onda de infecções pelo novo coronavírus. A seleção dos municípios inscritos usou, como critério, o IVM, até então uma ferramenta de uso privado.
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