O vírus suíno detectado pelos cientistas tem algumas características preocupantes.
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O vírus suíno detectado pelos cientistas tem algumas características preocupantes. De um lado, as atuais vacinas contra gripe não parecem conferir proteção significativa contra ele; de outro, apesar da origem em animais, ele não tem dificuldades para infectar células humanas. Alguns dos criadores de porcos da China, ao que tudo indica, já pegaram o vírus e se recuperaram, a julgar pela presença de anticorpos em seu sangue.
Dados sobre a nova cepa do vírus influenza, como também é conhecido o causador da gripe, acabam de ser publicados na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS), em pesquisa coordenada por George Gao, do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças.
Gao e seus colegas integram um esforço de mapeamento epidemiológico dos vírus influenza em porcos que, entre 2011 e 2018, coletou quase 30 mil amostras de muco do focinho de porcos em dez províncias chinesas que abrigam grandes populações de suínos. Ironicamente, o trabalho foi encaminhado para publicação em dezembro de 2019, pouco antes que a crise de saúde pública causada pelo novo coronavírus ganhasse corpo na China.
Ficar de olho na evolução dos vírus de porcos é uma medida lógica porque o organismo desses mamíferos domésticos é considerado um "misturador" natural de diferentes cepas de gripe, como as que circulam em aves (tanto selvagens quanto domésticas) e em seres humanos.
Não é por acaso que a pandemia de influenza de 2009 ganhou o apelido de "gripe suína", e sabe-se inclusive que, durante aquele episódio pandêmico, houve transmissão de mão dupla, com a gripe passando de humanos para porcos.
Diferentes formas do vírus da gripe frequentemente "embaralham" seu material genético dentro do organismo de seus hospedeiros, um processo que costuma dar origem a novas combinações, as quais podem pegar de surpresa as defesas de futuras vítimas. É o que parece ter acontecido com as novas variantes identificadas pelos pesquisadores chineses, apelidadas por eles de G4 (genótipo 4).
Assim como o vírus da gripe de 2009, os vírus G4 são classificados como H1N1 (sigla de duas moléculas importantes que compõem o vírus, responsáveis por sua entrada e saída das células infectadas). Mas eles sofreram tantas mutações que a vacina contra os vírus H1N1 já conhecidos não é capaz de neutralizá-los.
Além disso, outras moléculas do vírus vêm de misturas genéticas com duas outras cepas, uma similar à gripe de aves e outra que circulava na América do Norte. Trata-se, portanto, de uma junção de três formas anteriores do vírus influenza, numa combinação que não tinha sido vista até agora.
Experimentos feitos com células humanas e com furões (animais muito usados para estudar a evolução da gripe) mostraram que os vírus G4 infectam com facilidade esse tipo de célula e causam sintomas típicos de gripes relativamente graves. Uma análise de anticorpos no sangue dos que trabalham com criação de porcos nas mesmas províncias chineses, um grupo de mais de 300 pessoas, revelou que 10% delas parecia ter tido contato com a nova cepa.
Os especialistas defendem a intensificação do monitoramento e do controle entre suínos para evitar que o novo vírus, que tem potencial pandêmico, consiga se espalhar mais entre os seres humanos.
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