A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O Datafolha ouviu 2.016 pessoas de todo o país
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A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O Datafolha ouviu 2.016 pessoas de todo o país na terça-feira (23) e na quarta-feira (24) por telefone, modelo que evita o contato pessoal entre pesquisadores e entrevistados e exige questionários mais rápidos.
O resultado da pesquisa mostra que, apesar de a maioria da população (52%) concordar com a reabertura do comércio, uma proporção bem menor (21%) defende a reabertura das escolas.
Para especialistas em educação e infectologistas, o pouco apoio para a retomada das aulas presenciais pode ser pelo temor de que os alunos não sigam as regras de distanciamento, devido à infraestrutura das escolas ou por causa dos deslocamentos necessários para chegar às escolas.
Nenhum estado decidiu retomar as aulas presenciais, mas alguns governadores, como os de Goiás e do Distrito Federal, estudam reabrir parcialmente as unidades em agosto. Em São Paulo, a previsão é para setembro.
A principal diferença de opinião ocorre na segmentação de avaliação ao presidente. Apenas 9% dos que avaliam o governo de Jair Bolsonaro como ruim ou péssimo disseram que as escolas devem reabrir. O número sobe para 38% entre os que consideram o governo ótimo ou bom.
Também há diferença maior de opinião entre os sexos. Enquanto, 81% das mulheres defendem a continuidade do fechamento, só 71% dos homens pensam da mesma forma.
"A população está muito consciente. Ainda que crianças e adolescentes não estejam no grupo de risco, tem receio de colocá-los em uma situação de exposição. As pessoas também devem pensar que retirar os alunos de casa significa expor muita gente", avalia o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Ele destaca que a reabertura das escolas envolve a circulação de muitas pessoas. O Brasil tem, apenas na educação básica, 48 milhões de estudantes e 2,5 milhões de professores, o que representa 24% da população.
"Temos que avaliar ainda que muitas crianças não vão sozinhas à escola, então a ida delas para as aulas envolve a circulação de muita gente nos ônibus, metrô, nas ruas. Sem falar na quantidade de pessoas que vão atuar na limpeza, alimentação e organização dos colégios", diz Gorinchteyn.
Para o infectologista Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do grupo Fleury, a retomada das aulas presenciais vai exigir um protocolo sanitário rigoroso e um grande trabalho de orientação. "Crianças e adolescentes não têm tantas complicações, mas, para evitar que contaminem seus familiares e professores, é importante que haja esse cuidado."
Maria Helena Guimarães de Castro, membro do Conselho Nacional de Educação, diz que a infraestrutura e as condições das escolas públicas não ajudam a transmitir segurança às famílias. "Enquanto em países como a Alemanha vemos a testagem de crianças na porta dos colégios, aqui nos questionamos se haverá água e sabão para os alunos lavarem as mãos".
O governo Bolsonaro não criou nenhuma linha específica de financiamento para educação em meio à pandemia, apesar dos pedidos de estados e municípios por recursos emergenciais. Até o momento, o MEC (Ministério da Educação) só manteve os repasses já previstos para apoio pedagógico e merenda.
Além do receio de contágio das crianças, Maria Helena destaca também que as famílias temem o impacto emocional das restrições impostas pelo coronavírus. "Eles estavam acostumados a se abraçar, dividir materiais, ter liberdade para brincar. Tudo vai ser muito mais restritivo e é preciso pensar no impacto social e emocional disso."
Professor adjunto da Universidade Columbia e ex-secretário de educação de São Paulo, Alexandre Schneider diz que o plano de volta às aulas deve ter também como estratégia formas de dar segurança às famílias e aos alunos para a volta ao ambiente escolar. "Vai ser preciso uma reconexão com a escola, para alunos e professores, que podem ter perdido pessoas queridas, ter vivido em ambientes violentos ou em condições econômicas precárias."
A funcionária administrativa Soraia Mota, 38, conta que não se sente segura em levar a filha Manuela, de 5 anos, de volta à escola Mary Ward, na zona leste de São Paulo. O maior receio é que a menina não entenda a necessidade de manter distanciamento.
"Eu acho que ela não vai conseguir ver os colegas e não abraçar, não encostar. Também não sei se seria muito saudável deixá-la em um ambiente tão restritivo. Pelo menos em casa ela ainda tem liberdade", disse.
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