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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Homem morre baleado em noite de confronto nos Estados Unidos

Manifestantes antirracistas e apoiadores do presidente Donald Trump se enfrentaram neste último fim de semana

© Reuters
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma noite marcada por confrontos entre manifestantes antirracistas e apoiadores do presidente Donald Trump, um homem foi morto a tiros em Portland, no estado americano do Oregon.


Há mais de três meses consecutivos, a cidade da Costa Oeste tem sido palco de manifestações contra o racismo e a violência policial.
O caso deste sábado (29) está sendo investigado como homicídio, mas autoridades afirmaram que ainda não há evidências para relacionar a morte aos protestos.
"Esta violência é totalmente inaceitável e estamos trabalhando incansavelmente para encontrar e deter o indivíduo ou indivíduos responsáveis", disse o chefe da polícia de Portland, Chuck Lovell.
De acordo com o jornal The New York Times, a vítima, um homem branco, usava um boné com uma insígnia do grupo de extrema direita Patriot Prayer (oração patriota). Formado por apoiadores de Trump, o grupo já esteve em conflito com manifestantes em Portland em outras ocasiões.
Nas redes sociais, o presidente compartilhou dezenas de publicações criticando os atos e reforçando seu discurso de "lei e ordem". Em uma delas, uma manifestante afirma que a vítima era "nazista" e que não está "triste com a morte de um fascista".
Em outra publicação, Trump classifica os participantes como "anarquistas desgraçados" e diz que eles estão sendo "estupidamente protegidos pelos democratas da esquerda radical".
O democrata Joe Biden, que disputa a eleição de novembro contra Trump, criticou a postura do republicano.
"Ele pode acreditar que tuitar sobre lei e ordem o torna forte, mas seu fracasso em pedir aos seus apoiadores que parem de buscar o conflito mostra o quão fraco ele é. Ele pode pensar que a guerra em nossas ruas é boa para suas chances de reeleição, mas isso é não liderança presidencial, nem compaixão", afirmou.
Nos últimos dias, grupos conservadores também têm organizado manifestações na cidade. No sábado, segundo o New York Times, centenas de veículos portando bandeiras americanas e cartazes de apoio a Trump se reuniram nos arredores de Portland.
Parte deles, porém, mudou a rota e foi para o centro da cidade, onde se concentram os manifestantes antirracistas. Houve confrontos entre os dois lados.
Vídeos nas redes sociais mostram conservadores usando armas de paintball para disparar contra o outro grupo, que revida jogando pedras e objetos.
Em Portland, os protestos começaram após o assassinato de George Floyd, homem negro que foi morto em Minneapolis por um policial branco que o asfixiou usando o joelho. A cidade tem atos há 94 dias consecutivos.
Segundo o presidente, porém, "a Guarda Nacional poderia resolver esses problemas em menos de uma hora".
"As autoridades locais devem pedir [ajuda federal] antes que seja tarde demais. As pessoas de Portland e outras cidades administradas pelos democratas estão enojados com [Chuck] Schumer, [Nancy] Pelosi e seus 'líderes' locais", escreveu Trump, em referência aos líderes democratas no Senado e na Câmara dos Representantes dos EUA. "Eles querem Lei e Ordem!".
O líder republicano também criticou o prefeito de Portland, Ted Wheeler, ao afirmar que ele é "incompetente como o sonolento Joe Biden" –o ex-vice presidente será o adversário de Trump nas eleições presidenciais marcadas para 3 de novembro.
Na sexta-feira (28), Wheeler publicou uma carta aberta ao presidente recusando o envio de agentes federais para a contenção das manifestações em Portland.
No texto, o prefeito acusa Trump de usar uma "política de divisão e demagogia" e afirma que o republicano "chegou à conclusão de que imagens de violência ou vandalismo são sua única passagem para a reeleição".
Nos últimos meses, o governo Trump enviou agentes federais para reprimir protestos violentos em várias cidades americanas, incluindo Portland. A oferta atual, entretanto, não foi aceita por Wheeler, que afirmou que a presença dos agentes federais "piorou muito a situação".
"Sua proposta de repetir aquele desastre é uma tentativa cínica de atiçar o medo e nos distrair do verdadeiro trabalho de nossa cidade. Fique longe, por favor."
Apesar da recusa de Wheeler, o secretário de Segurança Interna dos EUA, Chad Wolf, e o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, afirmaram em entrevistas neste domingo que o governo Trump está pronto para fornecer mais apoio federal.
"Qualquer governador, republicano ou democrata, qualquer região pode pedir ajuda ao governo federal. Estamos dispostos a entrar; estamos dispostos a fornecer recursos adicionais, como fizemos em Kenosha", disse Meadows.
A cidade com pouco mais de 100 mil habitantes no estado de Wisconsin também se tornou palco de protestos antirracistas, depois que Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, foi baleado pelas costas, na frente de seus três filhos, por um policial branco. Os disparos foram feitos à queima-roupa e Blake, segundo seus familiares, ficou paralisado da cintura para baixo.
No sábado, a Casa Branca confirmou que Trump irá a Kenosha na próxima terça-feira (1º) para "examinar os danos dos distúrbios recentes". A visita, entretanto, gera preocupação entre os opositores do líder republicano.
"Eles centralizaram uma convenção inteira em torno de criar mais animosidade e criar mais divisão em torno do que está acontecendo em Kenosha", disse o vice-governador de Wisconsin, o democrata Mandela Barnes, à CNN, referindo-se à Convenção Nacional Republicana da semana passada.
"Portanto, não sei como ele pretende vir aqui para ser útil, considerando qualquer uma das declarações anteriores do presidente. Nós absolutamente não precisamos disso agora", acrescentou.
Para a democrata Karen Bass, que preside a bancada negra do Congresso americano, a presença de Trump em Kenosha vai piorar a situação.
"A visita dele tem um único propósito, que é agitar as coisas", disse Bass. "Faltam 66 dias para a eleição e acho uma tragédia termos um presidente que está fazendo tudo o que pode para atiçar as chamas."
Neste sábado (29), cerca de mil pessoas marcharam em Kenosha, entoando frases como "vidas negras importam" e "sem justiça, sem paz", que se tornaram uma constante nos atos contra o racismo.
Os manifestantes pintaram mensagens de unidade em painéis que protegiam as vitrines das lojas. A proteção foi a forma que alguns empresários encontraram para tentar evitar saques e vandalismo.
"O que eu gostaria de dizer ao senhor presidente é que os membros do Black Lives Matter não são bandidos nem saqueadores", disse Clyde McLemore, fundador de uma divisão do movimento antirracista na região de Kenosha. "Ele está nos culpando, e não é assim que as coisas são."
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