Para os especialistas, a educação em saúde e a conscientização sobre o câncer de mama, que poderiam ajudar no combate à doença, precisam chegar a mais pessoas.
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Metade das mulheres que recebem diagnóstico de câncer de mama pelo SUS (Sistema Único de Saúde) leva mais de 60 dias para iniciar o tratamento, segundo um estudo conduzido pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com o Observatório de Oncologia que investigou dados dos anos de 2015 a 2019.
O dado mostra o descumprimento de uma lei do Ministério da Saúde em vigor desde 2012, que estabelece que o primeiro tratamento oncológico no SUS deve começar em até 60 dias após a confirmação do diagnóstico em laudo patológico. A lei 12.732 ficou conhecida como a lei dos 60 dias.
O mesmo levantamento indicou que somente 23% dos diagnósticos são feitos precocemente – quase metade dos resultados (47%) são obtidos de maneira tardia, quando o tratamento pode se tornar mais custoso e difícil. A identificação da doença mais cedo é um dos principais fatores para que o tratamento seja feito com sucesso, de acordo com os médicos.
A cobertura de mamografias para detecção da doença no SUS em mulheres da faixa etária dos 50 aos 69 anos (idades prioritárias para o sistema) ficou em 23%. Mesmo com os dados do sistema suplementar de saúde (em torno de 30% no mesmo período), a cobertura nacional teria ficado abaixo do mínimo de 70% estabelecido para essa população pela OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo Nelson Correa, cientista de dados da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), que participou do estudo.
Na avaliação de especialistas da área, os dados indicam que, mesmo com avanços na qualidade e velocidade do tratamento atingidos nos últimos anos, as abordagens do SUS ainda são tardias e carecem de melhor gestão para aumento de eficiência.
Os achados do levantamento foram divulgados na noite desta quinta-feira (24) durante um dos debates do Congresso Todos Juntos pelo Câncer, transmitido digitalmente.
"O rastreamento impacta a capacidade de diagnóstico de todo o sistema. Quanto mais cedo vier o diagnóstico, melhor será a qualidade de vida dessas pacientes. Além disso, o custo do tratamento para o SUS nesses casos é menor", afirmou Correa.
"Um diagnóstico no estágio inicial da doença reduz o custo do tratamento em seis vezes. Para um gestor, esse dado já é um convencimento de que vale a pena começar o rastreamento mais cedo", disse João Bosco, mastologista e ginecologista membro da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Para o médico Drauzio Varella, é possível reduzir o tempo de espera para o tratamento e ampliar a cobertura dos exames com uma melhor gestão do sistema.
"O SUS dispõe tecnicamente de todos os recursos para prestar os serviços de saúde de forma mais eficiente do que presta na realidade. Mesmo com cortes e diminuição do orçamento nos últimos anos, temos equipamentos e pessoal. Mas as coisas ficam emperradas", afirmou.
Os números do levantamento também sinalizam dificuldade de acesso de mulheres pretas e pardas ao atendimento. Enquanto o diagnóstico precoce em mulheres brancas acontece em 28% dos casos, apenas 19% das mulheres pretas ou pardas têm a doença detectada mais cedo. A proporção de diagnóstico tardio também é maior nessa população. Assim, as chances de sucesso do tratamento diminuem.
Para os debatedores, ampliar o acesso ao atendimento é o maior desafio do SUS atualmente.
"A desigualdade social deixa milhões de mulheres com dificuldades para ter acesso ao atendimento", afirmou Varella. "Com tantos problemas de saúde e outras preocupações, o cuidado com a mama é deixado para trás por essas mulheres. É muito diferente da mulher de classe média, que marca um horário com o médico e para de carro na porta do consultório", acrescentou.
Para a deputada federal Silvia Cristina (PDT-RO), presidente da Frente Parlamentar em Prol da Luta Contra o Câncer do Congresso Nacional, faltam políticas públicas para que a cobertura do rastreamento chegue mais longe.
"É uma triste realidade. Infelizmente, o número de mamógrafos na região Norte, especialmente em Rondônia, não é suficiente para que possamos dar o diagnóstico a todas as mulheres que precisam. Isso impede o trabalho preventivo", disse.
Para os especialistas, a educação em saúde e a conscientização sobre o câncer de mama, que poderiam ajudar no combate à doença, precisam chegar a mais pessoas.
"Há necessidade de maior esclarecimento entre as mulheres. Muitas pensam que câncer de mama é uma doença de mulheres mais velhas, mas vemos, cada vez mais, meninas com menos de 30 anos recebendo esse diagnóstico", afirmou Varella.
O Congresso Todos Juntos Contra o Câncer termina nesta sexta-feira (25). Ainda é possível fazer inscrição por meio do site oficial.
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