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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Guerra das vacinas opõe UE a Reino Unido e ameaça deixar países pobres sem imunizante

Fabricantes não estão conseguindo produzir as doses na velocidade que prometeram, o que faz crescer a disputa pelas unidades já existentes, especialmente entre os países mais ricos.

 

© Shutterstock

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um mês após fecharem o acordo do brexit, Reino Unido e União Europeia voltaram a se desentender, agora por conta da vacina contra o coronavírus, em mais um capítulo das disputas globais pelo imunizante.


Fabricantes não estão conseguindo produzir as doses na velocidade que prometeram, o que faz crescer a disputa pelas unidades já existentes, especialmente entre os países mais ricos. Com isso, a chegada de vacinas aos lugares mais pobres do planeta, que pode demorar até dois anos, corre risco de atrasar ainda mais.

Nos 27 países do bloco europeu, a vacinação tem avançado lentamente. Em um mês, só 2% dos habitantes foram atendidos -o vizinho Reino Unido já imunizou cerca de 10%, tendo começado 19 dias antes.

Na Espanha, as regiões de Madri e Cantábria anunciaram nesta quarta (27) que vão paralisar a distribuição da primeira dose, por conta da falta de insumos.

A UE fez encomendas a diversos fabricantes, mas os dois principais atrasaram as entregas. A Pfizer/BioNTech atribuiu a demora a mudanças para ampliar sua capacidade de produção na Bélgica. E a AstraZeneca, que desenvolveu seu fármaco com a universidade de Oxford, avisou que não conseguirá entregar os 80 milhões de doses previstos para o bloco até o fim de março, e deve fornecer só cerca de 21 milhões.

Com sede no Reino Unido, a AstraZeneca disse que o atraso se deve a problemas nas unidades de produção na Europa. Em resposta, a UE pediu, nesta quarta (27), que a empresa use lotes fabricados no Reino Unido para cumprir o contrato. No entanto, o acerto entre a farmacêutica e o governo britânico prevê que as unidades produzidas ali atendam primeiro à demanda nacional.

"Os 27 membros da União Europeia estão unidos no ponto de que a AstraZeneca precisa entregar o que foi combinado em nossos acordos", pressionou Stella Kyriakides, comissária de Saúde do bloco.

Na noite de quarta, Kyriakides disse que o impasse continuava. "Nós lamentamos que a falta de clareza sobre o cronograma de entrega continue e pedimos um plano claro da AstraZeneca para a entrega rápida da quantidade de vacinas que reservamos para o primeiro trimestre", publicou a comissária numa rede social, após uma nova conversa com a empresa.

A tensão já dura alguns dias. Na segunda (25), a UE disse que iria exigir autorizações extras para a exportação de vacinas para fora do bloco, o que poderá dificultar a chegada delas a outras partes do mundo. Um dos países afetados poderá ser o Reino Unido, que deixou a UE no ano passado, pois as doses da Pfizer aplicadas no país vêm de uma fábrica na Bélgica.

"Isso não é 'União Europeia primeiro', mas sim ter uma parcela justa [das vacinas] para a Europa", disse Jens Spahn, ministro da saúde da Alemanha, em entrevista na TV, na terça (26).

Também na terça, uma entrevista de Pascal Soriot, CEO da AstraZeneca, gerou polêmica. Ele disse que o Reino Unido assinou o contrato das vacinas em junho, três meses antes dos europeus, o que os ajudou a receber o material antes. Afirmou ainda que o contrato não obriga a empresa a cumprir prazos exatos e que, mesmo com o atraso, a Europa deverá receber, em fevereiro, 17% de toda a produção da empresa, embora represente apenas 5% da população global.

"Estamos dois meses atrás em relação ao que queríamos estar", disse Soriot, ao jornal italiano La Repubblica, sobre o andamento da produção. Ele citou problemas em etapas de fabricação, como a filtragem. "Pegamos o processo que Oxford nos deu e o modificamos para conseguir fazer bilhões de doses. Tivemos de treinar muita gente, que não sabia como produzir vacinas. E, com isso, você pode ter uma produção menor em algumas fábricas", explicou.

A AstraZeneca dividiu a produção do imunizante em várias unidades pelo mundo. O primeiro lote da marca enviado ao Brasil, por exemplo, veio da Índia.

"As fábricas com a menor produção na nossa rede atualmente são aquelas que suprem a Europa. Mas não é de propósito. Eu sou europeu, e tenho a Europa no coração", afirmou o CEO, francês. Ele negou que a empresa busque aumentar seus ganhos ao atrasar entregas e disse que a produção das vacinas não tem fins lucrativos.

Em meio ao embate, o premiê britânico Boris Johnson disse ter confiança de que os lotes prometidos ao Reino Unido serão entregues. Também afirmou que seria uma "grande pena" se o Reino Unido ainda dependesse da União Europeia para obter os imunizantes.

"Acho que temos sido capazes de fazer algumas coisas de maneira diferente e melhor em alguns aspectos", disse Boris, antes de contemporizar: "Mas ainda é cedo, e é muito importante lembrar que esse é um empreendimento internacional. Dependemos de nossos amigos e parceiros e vamos continuar a trabalhar com eles dentro e fora da UE."

O acirramento da disputa entre os países ricos pelas vacinas e os atrasos na produção podem fazer com que nações pobres demorem ainda mais tempo para conseguir o produto, inclusive porque vários deles pediram mais doses do que precisarão na prática, segundo um estudo do instituto de pesquisa The Economist Intelligence Unit, ligado à tradicional revista britânica.

Segundo a análise, divulgada nesta quarta, há a expectativa de que seja possível produzir 12 bilhões de unidades de vacinas até o fim do ano, sendo que metade delas já foram reservadas, boa parte por países ricos. "O Canadá, por exemplo, garantiu suprimentos para o equivalente a cinco vezes a sua população. Israel teria pago bem mais que outros países para garantir doses da Pfizer. Isso não é uma opção para países pobres", aponta o relatório.

O instituto fez estimativas de quando os países terão imunizado sua população: a maioria das nações altamente desenvolvidas deve concluir o processo até o fim de 2021. Países de renda média, como Índia e Brasil, deverão terminar a imunização só em 2022.

Já os países mais pobres, a maioria deles na África, não deve conseguir vacinar a maioria de sua população antes de 2023, aponta o estudo, que lembra que a imunização nesses locais pode nem ser feita, por falta de dinheiro.

"Os custos com a imunização em massa serão significativos, especialmente para países menos desenvolvidos que têm recursos públicos limitados", diz o estudo. Além do produto em si, será preciso investir em transporte e no custo para fazer as aplicações, como o pagamento a enfermeiros que aplicarão as injeções.

Muitos dos lugares mais pobres vão depender do projeto Covax, liderado pela Organização Mundial da Saúde, que prevê produzir 2 bilhões de unidades neste ano e vendê-las a preços mais acessíveis.

O material aponta que a Rússia e a China usarão as doses que produziram para tentar ampliar sua influência global, ao negociarem seus imunizantes com países de renda média e baixa. A China, por exemplo, fez acordo para fornecer a Coronavac ao Brasil, mas o envio dos insumos tem sofrido atrasos.

"México e Brasil receberam promessas de vacinas em troca de realizarem estudos clínicos ou abrigar fábricas. Isso deve dar a eles acesso antecipado a imunizantes para grupos prioritários, mas a proteção em massa também dependerá de outros fatores, como espaço fiscal [capacidade de gastar mais dinheiro público], infraestrutura e vontade política", aponta a análise.

VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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