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segunda-feira, 29 de março de 2021

Pandemia derruba lucro de estatais e compromete dividendos

 

O governo conta com mais recursos das empresas em 2021, ano em que as incertezas permanecem com o avanço da Covid

© Shutterstock

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A pandemia derrubou praticamente pela metade o resultado das grandes estatais em 2020, reduzindo os dividendos pagos à União e agravando o cenário de desequilíbrio nas contas públicas. O governo conta com mais recursos das empresas em 2021, ano em que as incertezas permanecem com o avanço da Covid.

Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, Eletrobras e BNDES –que respondem por mais de 90% dos dividendos pagos à União– terminaram a publicação de seus balanços neste mês e mostraram juntas uma queda de 44% no lucro líquido em 2020, para R$ 60 bilhões.

Os diferentes efeitos da pandemia fizeram as empresas pagarem 70% menos dividendos à União no ano (R$ 6,8 bilhões), o menor valor desde 2017 –quando as empresas ainda se recuperavam de perdas de anos anteriores.

A pandemia esteve presente nos balanços de todas elas. As empresas citaram a Covid como causa de quedas de receitas, postergação de investimentos, atrasos em fornecimento e necessidade de reservas para perdas.

A Petrobras teve redução de 13% nas receitas com vendas, impactada pela menor demanda por gasolina e querosene de aviação devido às restrições na mobilidade urbana e no setor aéreo.

A petroleira também viu o valor da commodity sofrer um choque ao se desvalorizar com a redução da atividade econômica global, principalmente no início da pandemia. A empresa ainda foi afetada pela desvalorização do real frente ao dólar e, ao fim do ano, registrou queda de 82% no lucro em 2020 (para R$ 7,1 bilhões).

Já os bancos públicos tiveram que reservar mais recursos para potenciais empréstimos não pagos –o que afetou diretamente o resultado.

O Banco do Brasil elevou a provisão para créditos de liquidação duvidosa em 47% (para R$ 22 bilhões ao fim de 2020). Além disso, teve queda em receitas com serviços pela menor procura de clientes. O lucro caiu 30%, para R$ 12,7 bilhões.

As instituições financeiras, no entanto, foram beneficiadas por medidas anticrise do governo, principalmente os programas de crédito com garantia de recursos do Tesouro (como o Pronampe, voltado a micro e pequenas empresas).

A Caixa, apesar da queda de 37% no resultado, teve o segundo maior lucro da sua história (R$ 13,2 bilhões, perdendo apenas para o ano de 2019).

O ano do banco foi marcado pelo repasse de quase R$ 300 bilhões do auxílio emergencial pagos pelo Tesouro a mais de 60 milhões de pessoas por meio de 535 milhões de movimentações financeiras.

O BNDES foi a única das grandes estatais a apresentar lucro maior em 2020 (crescimento de 17%, para R$ 20,7 bilhões). A melhora ocorreu sobretudo pela venda de R$ 45,4 bilhões em ativos em 2020.

No pacote vendido pelo BNDES, estavam ações da Petrobras (R$ 23 bilhões), da empresa de papel e celulose Suzano (R$ 6,9 bilhões) e da mineradora Vale (R$ 12,9 bilhões).

O lucro recorrente do BNDES (que desconta as vendas) foi de R$ 8,02 bilhões em 2020, leve queda em relação a 2019 (R$ 8,09 bilhões).

A Eletrobras afirmou a investidores que a Covid gerou atrasos de fornecedores, adiamento de investimentos e queda da demanda.

Em meio à crise, as empresas conseguiram manter o lucro com medidas como o corte de custos. Na Petrobras, por exemplo, só os custos com viagens caíram US$ 40 milhões (ou R$ 230 milhões) frente a 2019. Grande parte dessa redução será permanente no mundo pós-Covid, segundo a empresa.

Para a União, a queda do resultado das empresas significa queda nos dividendos. Os recursos entram nos cofres do Tesouro Nacional como receita primária e, por isso, aliviam o cenário das contas públicas.

Após um 2020 de números em baixa, o governo espera recuperação no volume de dividendos em 2021. O Ministério da Economia elevou nos últimos dias em R$ 6,1 bilhões o valor que as estatais pagarão à União neste ano –para um total de R$ 15,9 bilhões.

A justificativa para a melhora contra o ano passado decorre de fatores como o bloqueio de dividendos de bancos em grande parte do ano passado. A decisão foi tomada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para direcionar recursos ao sistema financeiro, mas agora os recursos estão liberados.

O Ministério da Economia afirma que a destinação do resultado depende das empresas e das diretrizes do controlador (no caso, a União). Para a pasta, a remuneração proporcionada pelas estatais é algo desejável.

Sérgio Lazzarini, professor do Insper, afirma que não só a crise gerada pela Covid pode prejudicar as estatais em 2021. Para ele, há risco de uma maior intervenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas empresas.

"Momentos de crise aguda são uma encrenca para as estatais, porque elas sofrem com essa pressão [política] e tendem a ser afetadas mais negativamente", disse.

Ele lembra as trocas recentes no comando de estatais após insatisfações de Bolsonaro. São eles Roberto Castello Branco (Petrobras), que conduzia uma política de preços alinhada ao mercado global; e André Brandão (Banco do Brasil), que anunciou um plano de fechamento de agências e demissões voluntárias.

Wilson Ferreira Junior também decidiu sair da presidência da Eletrobras neste ano por não acreditar que o plano de privatização da empresa vá ocorrer.

Para Lazzarini, as eleições podem agravar o cenário e levar a ações súbitas do presidente como em preços de combustíveis, juros de bancos públicos e até eletricidade.

"Estávamos em um processo de reforço da governança das estatais, e eu considero que o Bolsonaro destruiu os avanços recentes", afirma.

VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO

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