O surto ocorre ao menos desde meados de março, já que há cadetes que tiveram alta no dia 19 do mês passado, conforme planilha à qual a reportagem teve acesso
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RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O surto de Covid-19 que atinge a AFA (Academia da Força Aérea) em Pirassununga (a 211 km de São Paulo) fez com que ao menos 247 cadetes fossem isolados por terem tido contato com outros cadetes com suspeita de terem contraído o novo coronavírus. Quatro deles, com diagnóstico confirmado, foram internados no Hospital da Força Aérea de São Paulo.
No total, 39 cadetes contraíram a Covid-19 e foram isolados dos demais alunos e funcionários da AFA, dos quais 27 estão com a doença atualmente.
Os quatro cadetes que foram transferidos para o Hospital da Força Aérea estão, segundo a Aeronáutica, internados em enfermaria. Os demais 23 apresentam sintomas leves, sem a necessidade de remoção para uma unidade hospitalar.
Não é a primeira vez que a AFA enfrenta um surto interno entre seus cadetes. No ano passado, num intervalo de um mês, cerca de cem deles tiveram sarampo, o que representava 14% dos 692 cadetes da academia.
Pirassununga, cidade de 78 mil habitantes no interior paulista, viu disparar neste ano as mortes provocadas pela Covid-19. Até o início de março, eram 67 óbitos causados pela doença, total que nesta quarta-feira chegou a 180.
A origem da contaminação no maior complexo de ensino da aviação militar do país é incerta. Dos 247 isolados na quarta, o Primeiro Esquadrão, com 89, liderava os casos de isolamento, seguido pelas turmas Anúbis (64), Orthrus (52) e Mihos (42).
No primeiro esquadrão, todos foram isolados entre os dias 16 e 27, com previsão de saída que varia, até o limite de 10 de maio. Dois dos cadetes foram para o Hospital da Força Aérea –os outros dois são da Orthus e da Anúbis.
O alto número de cadetes isolados ocorre porque, conforme a AFA, quando um apresenta sintomas suspeitos de Covid-19, mesmo sem a confirmação, os que tiveram contato com ele são afastados preventivamente.
Segundo a AFA, a equipe médica está fazendo busca ativa com aferição de temperatura e nível de saturação de oxigênio no sangue, com o objetivo de detectar pacientes com sintomas iniciais para fazer isolamento precoce, além de testes PCR nos casos suspeitos.
"Devido a esse constante acompanhamento da conjuntura da doença, foi possível identificar uma elevação do número de cadetes da AFA que apresentaram sintomas gripais. Isso permitiu que a Academia afastasse os cadetes de atividades que pudessem gerar maior risco de propagação, seja pela proximidade física ou pela natureza", diz trecho de comunicado enviado à reportagem pelo comando da Aeronáutica.
O surto ocorre ao menos desde meados de março, já que há cadetes que tiveram alta no dia 19 do mês passado, conforme planilha à qual a reportagem teve acesso.
A Aeronáutica informou que os cadetes têm acompanhamento em tempo integral das equipes de saúde e que, como o efetivo está inserido na comunidade e as atividades essenciais para a formação estão em andamento, "não é possível identificar como ocorre a contaminação".
A reportagem ouviu um dos alunos da AFA diagnosticado com o novo coronavírus. Ele relatou ter tido febre alta e sintomas como fadiga e dores no corpo e na cabeça, e que esse cenário é recorrente entre os cadetes.
Um docente morreu no último dia 8 devido a complicações da Covid-19. A FAB, que lamentou o óbito, informou que os professores estavam em home office, ministrando aulas online, sem contato com o efetivo desde o início da pandemia.
No total, 138 militares, sendo 77 aviadores, 43 intendentes e 18 de infantaria, se formaram no último mês de dezembro em Pirassununga –122 homens e 16 mulheres. Um dos formandos é de Senegal.
No local, eles recebem diplomas de graduação em nível superior em áreas como ciências aeronáuticas (aviadores), militares (infantaria) e logística (intendentes). A AFA tem área construída de 215 mil m², dos quais 73 mil m² são de área residencial.
O forte avanço da pandemia em Pirassununga em 2021 fez com que o prefeito Dimas Urban (PSD), que é médico, encerrasse com irritação um vídeo no mês passado em que falava à população dos impactos provocados no município.
"Para de ser ignorante, pelo amor de Deus. A Covid está aí, e quem não acredita nela é porque é ignorante, 'zóio' tapado. Pelo amor de Deus, inferno", disse o prefeito ao final do vídeo de cerca de 15 minutos.
Ele demonstrou indignação com negacionistas da pandemia e criticou aglomerações formadas na cidade, numa fala que inspirou a operação "Entendeu? Inferno!", desencadeada nos dias seguintes e que resultou na interdição de 11 estabelecimentos.
Além das 180 mortes provocadas pela Covid-19, Pirassununga já registrou 6.692 casos confirmados da doença. A cidade tem 23 pacientes internados e há 132 pessoas em isolamento domiciliar. Seis das mortes foram confirmadas nesta quarta, de pessoas com idades entre 59 e 81 anos.
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