De acordo com o Ministério Público colombiano, apenas 17 mortes têm vínculos diretos com as manifestações
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Ao menos três pessoas morreram nesta sexta-feira (28) em Cali, na Colômbia, durante as manifestações que marcam um mês do início da onda de protestos contra o governo duramente reprimidos pelas forças de segurança.
Segundo o prefeito de Cali, Jorge Iván Ospina, as três mortes ocorreram em um tumulto formado ao redor de uma barricada de manifestantes. As vítimas se somam a outros 46 óbitos registrados desde o começo dos protestos, além de mais de 2.000 feridos e 123 desaparecidos.
De acordo com o Ministério Público colombiano, apenas 17 mortes têm vínculos diretos com as manifestações, mas grupos de defesa de direitos humanos afirmam que o número oficial está subnotificado e que dezenas de outros civis foram mortos por policiais.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram um homem caído em uma poça de sangue e outro próximo com uma arma, sendo hostilizado por manifestantes. Em seguida, as imagens mostram o suposto agressor também no chão, após aparentemente ter sido alvo de um linchamento.
"A briga trouxe essa situação maluca de morte e dor. Não podemos permitir que essas circunstâncias continuem ocorrendo em Cali. Não devemos cair na tentação da violência e da morte", disse Ospina em mensagem veiculada nas redes.
Milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades por todo o país quanto as negociações entre o governo do presidente Iván Duque e o comitê nacional de greve, que inclui movimentos sindicalistas e grupos estudantis, seguem estagnadas.
Nesta semana, as autoridades colombianas e os líderes dos protestos disseram que chegaram a um "pré-acordo" para encerrar o período de manifestações, mas o governo acabou voltando atrás na quinta-feira (27) porque parte das lideranças grevistas se recusa a condenar os bloqueios nas estradas -exigência que o governo considera inegociável. O comitê, por sua vez, acusa Duque e as autoridades de obstruir as negociações, que devem ser retomadas no próximo domingo (30).
Inicialmente, os atos eram contra a reforma tributária proposta pelo presidente. Apesar de ele ter retirado o projeto legislativo, a violenta repressão aos protestos seguiu alimentando o descontentamento. Desde então, os atos se multiplicaram, sem agenda ou direção definida, mas com demandas que exigem um país mais justo e um Estado mais solidário e que garanta vida e segurança.
Em meio a música e palavras de ordem durante as manifestações em Bogotá, participantes disseram a agência de notícias Reuters que estão dispostos a continuar os atos enquanto as reivindicações não forem atendidas.
"Temos que ficar nas ruas até que o governo nos escute", disse Alejandro Franco, 23, estudante prestes a concluir o ensino superior que contou que estava marchando por mais educação e saúde. "Se o povo não tiver paz, o governo também não terá."
O mês de manifestações também vem colocando as principais cidades colombianas sob pressão financeira. "Tenho que fechar minha loja toda vez que há protestos", contou a comerciante Laudice Ramirez, 62, no sul de Bogotá. "Vou à falência, mas os jovens não têm outras opções de oportunidades."
O Ministério das Finanças da Colômbia estima que protestos e bloqueios de estradas custaram ao país US$ 2,68 bilhões (R$ 14 bilhões). As barreiras nas estradas, segundo a pasta, levaram à escassez de alimentos e outros suprimentos, a um aumento generalizado de preços e à interrupção das operações no principal porto marítimo do país.
Em resposta à pressão popular, o governo de Duque já sofreu duas baixas no alto escalão. A primeira foi o chefe das Finanças, Alberto Carrasquilla, que deixou o cargo devido às críticas à proposta de aumentar impostos da classe média. Dias depois, foi a vez da ministra das Relações Exteriores, Claudia Blum.
Nesta sexta, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, divulgou comunicado em que expressa "preocupação e condolências" pelas mortes durante os protestos e reitera o "direito inquestionável dos cidadãos de protestar pacificamente".
No início da semana, a Casa Branca pediu que o governo colombiano aumentasse os esforços para localizar os desaparecidos nos âmbitos da manifestações, honrando o compromisso de investigar as denúncias de abusos e episódios de violência policial.
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