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quinta-feira, 29 de julho de 2021

Com partido dividido, Castillo toma posse no Peru e adia definição sobre equipe

 

Após vários dias de expectativa, o mandatário decidiu que a cerimônia se resumiria a seu juramento, a recepção dos chefes de Estado estrangeiros e a comemoração dos 200 anos da independência do Peru

© Getty

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O presidente Pedro Castillo tomou posse no Peru na tarde desta quarta-feira (28), em Lima, sem anunciar quem serão seus ministros.

Após vários dias de expectativa, o mandatário decidiu que a cerimônia se resumiria a seu juramento, a recepção dos chefes de Estado estrangeiros e a comemoração dos 200 anos da independência do Peru.

O primeiro-ministro, cujo nome ainda não é conhecido, prestará juramento apenas na quinta-feira (29), numa cerimônia na cidade histórica de Ayacucho. Os ministros só o farão na sexta-feira (30). O Peru adota um sistema presidencialista com elementos do parlamentarismo. Nesse caso, o primeiro-ministro tem o papel de chefe de gabinete.

A demora da proclamação ministerial se deve a divisões internas dentro do partido governista, Perú Libre. Há uma divisão entre os que querem um ministério com forte presença da agrupação de esquerda e os que se inclinam a um gabinete moderado e com representantes de distintas forças políticas.

Castillo sinalizou que esta segunda opção lhe agrada mais, e que também deseja buscar nomes técnicos para algumas pastas. O presidente de seu partido, Vladimir Cerrón, porém, mantém controle de várias decisões internas e tem uma postura ideológica mais radical, próxima ao chavismo. Cerrón estaria pressionando Castillo para um ministério mais ideológico.

Castillo começou seu discurso fazendo agradecimento aos povos originários e afroperuanos, afirmou que é "um orgulho e uma honra" ter ganho democraticamente a eleição.

Afirmou que os 200 anos da independência são uma data importante, mas que "a história do Peru vem de muito mais atrás" e que "é uma sequência de dor de vários povos ancestrais e silenciados". Disse que o seu será um "governo do povo para governar para o povo", e que "pela primeira vez o país será governado por um camponês".

Entre seus desafios, o primeiro a que fez referência é a pandemia do coronavírus. "Honraremos a memória dos que morreram e daremos continuidade à vacinação de toda a nossa população no menor tempo possível", afirmou.

"Escutaremos e respeitaremos a ciência em todas as decisões. As novas variantes são um desafio que enfrentaremos com os especialistas no assunto".

Afirmou que, na economia, irá respeitar a propriedade privada, mas que o modelo econômico precisa ser repensado. "Não queremos descartar os sucessos do modelo atual, nem vamos expropriar nada, mas precisamos propor mudanças. A economia manterá sua ordem e credibilidade, para que os investimentos continuem vindo. O que queremos é que acabem os abusos e o alto custo dos serviços básicos".

Disse, ainda, que haverá maior ênfase na luta contra a corrupção. "Vemos que há vários ex-presidentes presos ou investigados, mas não vejo nenhum empresário. É preciso investigar a corrupção em todos os seus níveis". Afirmou que os estrangeiros que forem condenados "terão 72 horas para sair do país".

Sobre as Forças Armadas, o novo presidente disse que irão "participar ativamente de novos projetos de desenvolvimento", e que as promoções "serão baseadas na meritocracia e não em amiguismo".

Afirmou, ainda, que haverá uma nova Constituição, redigida por uma Assembleia Constituinte eleita pela população, e que terá paridade de gênero.

A cerimônia de posse começou pela manhã, com uma missa, na qual esteve presente o presidente que deixa o cargo, Francisco Sagasti. Ele depois se encaminhou para o Congresso, onde foi homenageado pelas Forças Armadas e entregou a faixa presidencial para a presidente do Congresso, María del Carmen Alva, do partido Ação Popular (centro-direita).

Sagasti agradeceu os aplausos e saiu do palácio legislativo sorrindo. Diferentemente de mandatários anteriores, ele deixa a Presidência com uma popularidade alta para os padrões peruanos, de 51% (segundo o Instituto de Estudos Peruanos).

Tendo ficado no poder apenas oito meses, Sagasti deu estabilidade a um mandato conturbado e conseguiu fechar contratos para a aquisição de mais de 68 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus. Um dos países mais impactados pelo vírus na região, o Peru começou a ver seus casos baixarem. Segundo as pesquisas, sua alta popularidade está relacionada principalmente a suas políticas de combate à pandemia.

Todos os passos do evento de posse foram marcados por muita pompa e suntuosidade, por conta da data festiva para a qual os peruanos estavam se preparando havia meses. Em 28 de julho de 1821, o general argentino José de San Martín, após chegar a Lima com seu exército, proclamou a independência do país. A data é feriado nacional.

Estiveram presentes na cerimônia os presidentes Guillermo Lasso (Equador), Iván Duque (Colômbia), Alberto Fernández (Argentina), Sebastián Piñera (Chile), Luis Arce (Bolívia) e o rei Felipe 6º, da Espanha. O Brasil foi representado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.

Castillo venceu o segundo turno das eleições peruanas no último dia 6 de junho, contra a candidata Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que se encontra preso por crimes de corrupção e crimes contra a humanidade.

Professor de escola primária em Cajamarca, Castillo foi escolhido para representar o Perú Libre depois de a justiça eleitoral impedir seu padrinho político, Vladimir Cerrón, de competir.

Cerrón, ex-governador de Junín, está condenado por corrupção e escolheu Castillo como cabeça de chapa. Uma das incognitas deste princípio de gestão é se Cerrón será uma presença importante nas decisões do novo presidente, ou se irá preso devido aos processos de corrupção.

Na noite anterior à posse, Cerrón jantou com o ex-presidente boliviano Evo Morales, seu amigo, que também acompanhou a cerimônia, em Lima.

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