Intisar al-Hammadi, 20, foi detida no dia 20 de fevereiro por autoridades houthis, que controlam o norte do Iêmen
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - ONGs internacionais de direitos humanos denunciam que uma modelo e atriz do Iêmen está presa desde fevereiro de forma injusta. Ela teria sido obrigada a assinar um documento de confissão estando vendada, sofrido agressões físicas e verbais, além da ameaça de ser submetida a um "teste de virgindade forçado".
Intisar al-Hammadi, 20, foi detida no dia 20 de fevereiro por autoridades houthis, que controlam o norte do Iêmen, acusada de "atos indecentes" e posse de drogas.
Segundo a ONG Human Rights Watch (HRW), o caso está cheio de irregularidades e abusos.
Para a Anistia Internacional, Intisar, que postava fotos nas redes sociais sem o véu islâmico, está sendo punida por "desafiar as normas da sociedade profundamente patriarcal" do Iêmen.
Enquanto os rebeldes houthis dominam o norte do país, o sul é controlado por separatistas. As forças aliadas do governo tentam reconquistar o território nacional com a ajuda de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita. Filha de pai iemenita e mãe etíope, Intisar trabalhou como modelo por quatro anos e atuou em duas séries de TV do Iêmen em 2020. Seus parentes disseram à HRW que ela sustentava sozinha a família de quatro pessoas, incluindo seu pai, que é cego, e seu irmão, que tem deficiência física.
Khaled Al-Kamal, advogado de Intisar, afirmou que no dia 20 de fevereiro o carro dela foi parado pela polícia, e ela, presa junto com as outras três pessoas que estavam no veículo. A modelo foi levada a um prédio de investigações criminais, no qual ficou por dez dias sem acesso ao mundo exterior e sem que seus familiares tivessem nenhuma notícia. Em março, foi transferida para a prisão central de Sanaa.
A pessoas que a visitaram na penitenciária disse ter sido forçada a assinar uma confissão de prostituição e posse de drogas enquanto estava vendada no interrogatório e que autoridades prometeram libertá-la caso ajudasse a capturar inimigos seduzindo-os com "sexo, álcool e drogas", o que ela recusou.
Segundo o advogado, Intisar foi presa por estar no carro com um homem acusado de tráfico de drogas. Ele afirma ainda que o telefone dela foi confiscado e que suas fotos como modelo foram tratadas como um ato indecente.
A modelo foi a audiências judiciais nos dias 6 e 9 de junho, mas seu advogado foi proibido de trabalhar no tribunal da cidade, o que na prática o impede de representar sua cliente.
Al-Kamal disse ter sido ameaçado por um homem armado, apoiador dos houthis, que afirmou que ele e sua família pagariam um preço se ele não deixasse de representar Intisar. As autoridades desistiram do "teste de virgindade" após a Anistia Internacional lançar um documento condenando a questão.
Testes de virgindade forçados são reconhecidos internacionalmente como uma violação de direitos humanos e uma forma cruel e degradante de violência de gênero. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que esses testes não têm validade científica e que profissionais de saúde nunca devem aplicá-los.
Nesta quarta-feira (30), um jornalista iemenita postou no Twitter que Intisar tentou cometer suicídio na prisão. Ele atribuiu a informação a um parlamentar do país.
Uma campanha virtual usa as hashtags #FreeIntisar e #FreeEntisar para pedir a libertação da modelo.
A porta-voz da HRW para a região, Lynn Maalouf, afirmou que as autoridades houthis têm histórico de prender e torturar pessoas sem base legal, para punir críticos, jornalistas, ativistas e minorias religiosas. A ONG pediu explicações ao governo controlado pelos houthis, mas não recebeu resposta.
Segundo reportagem de 2020 da agência de notícias Associated Press, está crescendo a repressão dos houthis às mulheres, com desaparicimentos e tortura de detidas. A modelo seria apenas uma das muitas iemenitas presas de forma arbitrária. O advogado de Intisar disse que há outras cinco mulheres presas no mesmo lugar, acusadas de "crimes" relacionados a "atos indecentes".
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