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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Irã e potências do Ocidente retomam negociações sobre acordo nuclear em meio a ceticismo

A expectativa inicial era salvar o acordo de 2015, que foi abandonado pelo ex-presidente Donald Trump em 2018, e começou, a partir de então, a ser violado pelo Irã

© Shutterstock

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após cinco meses de paralisação, Irã e potências ocidentais retomaram nesta segunda (29) em Viena as negociações sobre o acordo nuclear que estabelece mecanismos de controle no programa atômico de Teerã, com o país tentando suspender as sanções internacionais em meio a ceticismo generalizado.

A expectativa inicial era salvar o acordo de 2015, que foi abandonado pelo ex-presidente Donald Trump em 2018, e começou, a partir de então, a ser violado pelo Irã –que afirma querer enriquecer urânio apenas para usos civis. Diplomatas do Irã, Reino Unido, China, Alemanha, Rússia e França estão presentes, mas as conversas no fundo são negociações indiretas entre Teerã e Washington, já que o país se recusa a se sentar à mesa com um emissário dos Estados Unidos.

O time de negociações do Irã estabeleceu demandas que diplomatas americanos e europeus consideram irreais, disseram representantes ocidentais envolvidos. O país exige incluir a suspensão de todas as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia desde 2017, incluindo as que não têm relação com o programa nuclear iraniano.

Antes do encontro em Viena, o enviado dos Estados Unidos para questões sobre o Irã, Rob Malley, disse que a atitude de Teerã "não aponta nada bom para as negociações". "Se o Irã pensa que pode ganhar tempo para aumentar sua influência e depois voltar dizendo que quer algo melhor, simplesmente não vai funcionar. Nós e nossos parceiros não vamos aceitar isso", disse Malley em entrevista à BBC.

A princípio, o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Said Khatibzadeh, disse que se "os Estados Unidos chegarem a Viena com a determinação de sair do beco sem saída e superar os problemas em que não concordávamos nas negociações anteriores, a via do diálogo será claramente mais fácil."

Mas em artigo publicado no Financial Times no domingo, o principal negociador nuclear do país, Ali Bagheri Kani, foi mais incisivo. "Para garantir que qualquer acordo futuro seja consistente, o Ocidente precisa pagar um preço por não ter cumprido sua parte do acordo. Como em qualquer negócio, um acordo é um acordo, e quebrá-lo tem consequências", escreveu.

Seis rodadas de conversas indiretas aconteceram entre abril e junho, quando os negociadores encerraram a primeira fase dos diálogos com um tom positivo e afirmaram que estavam próximos a um acordo. A perspectiva mudou com a chegada ao poder do presidente ultraconservador iraniano Ebrahim Raisi. Depois disso, o país ignorou durante meses os apelos dos países ocidentais para a retomada dos diálogos, enquanto fortalecia seu programa nuclear.

O acordo de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), contemplava suspender algumas sanções econômicas contra o Irã em troca de limites rígidos a seu programa nuclear. Depois que Trump retirou os EUA do pacto, o Irã passou a ultrapassar os limites da atividade nuclear. Nos últimos meses, o país começou a enriquecer urânio a níveis sem precedentes e restringiu as atividades dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo da ONU responsável por supervisionar as instalações iranianas.

O diretor da AIEA, Rafael Grossi, visitou Teerã na semana passada com a esperança de abordar vários pontos de divergência entre a agência e o Irã. Após a viagem, ele afirmou que não conseguiu avanços nos temas apresentados. Para não agravar a situação, diplomatas ocidentais decidiram não pressionar por uma resolução crítica do Irã na semana passada durante a reunião do conselho de ministros da AIEA.

O governo dos Estados Unidos, no entanto, informou que convocaria uma reunião especial do conselho em caso de continuidade da estagnação. "A relutância do Irã em alcançar um compromisso relativamente claro com a AIEA é negativo para o próximo diálogo", afirmou Henry Rome, especialista do grupo Eurasia.

"A situação dos avanços nucleares iranianos é cada vez mais precária", destacou Kelsey Davenport, especialista da Associação de Controle de Armas. Davenport disse a jornalistas na semana passada que "embora o governo Trump tenha fabricado esta crise, as ações do Irã a estão prolongando".

Um ponto de grande preocupação para a AIEA é uma unidade de fabricação de componentes para centrifugação em Karaj, perto de Teerã. A AIEA não tem acesso às instalações desde que suas câmeras foram danificadas por um "ato de sabotagem" em junho. O Irã acusou Israel de atacar a central.

"Em caso de brechas no monitoramento da AIEA, isto provocará boatos de que o Irã se envolveu em atividades ilegais, que tem um programa secreto, com ou sem evidências", disse Davenport, que alertou que isto poderia "minar as perspectivas de manter o acordo".

Principal inimigo do Irã, Israel, que se opôs ao acordo original por dizer que era muito limitado em escopo e duração, afirmou que opções militares estarão sobre a mesa se a diplomacia falhar. "Eles [os iranianos] vão ganhar tempo, ganhar bilhões com a remoção das sanções, continuar a enganar o mundo e promover secretamente seu programa nuclear", disse o ministro das Relações Exteriores israelense, Yair Lapid, a repórteres em Londres.

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