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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Justiça dos EUA levou 40 anos para condenar milionário com bizarro histórico de crimes

Robert Durst diz que as acusações contra ele são invenções sem fundamento

© iStock


WASHINGTHON, EUA (FOLHAPRESS) - O milionário Robert Durst teve inúmeras chances de sair impune dos assassinatos que cometeu, mas acabou deixando pistas. Ou sendo preso por crimes banais, como furtar um sanduíche. O jogo de perseguição entre ele e a Justiça dos EUA começou há exatos 40 anos, quando sua esposa, Kathie, desapareceu na noite de 31 de janeiro de 1982.

À época, o caso ganhou destaque na imprensa porque Durst era herdeiro de uma família que enriqueceu no setor imobiliário de Nova York e é dona de diversos prédios importantes, incluindo uma parcela do World Trade Center.

Ele teve milhões de dólares para gastar como queria, mas ao mesmo tempo viveu muitos problemas pessoais. Quando tinha sete anos, sua mãe morreu após cair do telhado, em circunstâncias não esclarecidas. Seu pai lhe deu pouca atenção na infância, e o empresário acabaria brigando feio com os irmãos depois de adulto.

Nos anos 1970, conheceu Kathie McCormack, uma jovem de classe média. Eles foram morar juntos após poucos encontros e logo se casaram. Aos 30 anos, Robert não quis se envolver com os negócios do pai e preferiu abrir uma pequena loja de comidas naturais, chamada All Good Things, ao lado da mulher.

Após nove anos de união, Kathie desapareceu subitamente. Em uma quinta-feira, Durst procurou a polícia e contou que a mulher havia sumido há alguns dias. Os dois tinham uma casa na beira de um lago em Westchester, nos arredores de Nova York. O milionário disse que tinha visto a esposa pela última vez no domingo a noite, quando a levou para pegar um trem rumo a Nova York.

Kathie tinha aulas de medicina na metrópole, e costumava passar a semana por lá, em um apartamento do casal. Durst disse que telefonou para a esposa na noite de domingo e confirmou que ela tinha chegado bem, mas que nos dias seguintes ela não atendeu mais aos seus contatos. A polícia acreditou na versão dele e tratou o caso como um desaparecimento.

Já a família de Kathie tinha suspeitas sobre Durst e fez pressão durante anos para tentar entender o que houve. Durst não se dava bem com os parentes da mulher, e o casamento estava em ruínas. Vítima de agressões, ela chegou a ir ao hospital com ferimentos no rosto pouco antes de desaparecer, e tinha comentado a pessoas próximas ter medo do marido.

Em uma investigação por conta própria, a família dela descobriu que Durst estava se desfazendo aos poucos dos pertences da mulher, em um sinal de que sabia que ela jamais voltaria. Também encontraram um papel, escrito à mão, com uma lista de tarefas que poderiam servir para se livrar de um corpo. Nada disso, no entanto, fez a polícia tratar o empresário como suspeito.

O caso teve grande cobertura pela imprensa na época, mas acabou esquecido depois de alguns anos. Ao mesmo tempo, a vida de Durst foi perdendo o rumo. Nos anos 1990, deixou os negócios da família e rompeu relações com o irmão, Douglas, que passou a andar com segurança reforçada por medo.

Em 2000, a polícia de Nova York decidiu reabrir o caso. Semanas depois, Susan Berman, amiga de longa data de Durst que o ajudou a lidar com a imprensa nos anos 1980, foi morta na casa onde morava, em Los Angeles, com um tiro na cabeça. A polícia recebeu uma carta anônima, com o endereço dela e a palavra "cadáver", escrita à mão.

Na época, Durst também não foi considerado suspeito. Mas, no mês seguinte, em janeiro de 2001, ele foi preso por matar um vizinho em Galveston, no Texas. O empresário disse que quis passar um tempo lá para se afastar da perseguição que estava sofrendo devido à reabertura do caso. Para isso, deu um nome falso e fingia ser uma mulher.

O corpo do vizinho, Morris Black, foi encontrado aos pedaços, em sacos jogados em uma baía. A polícia chegou a Durst porque notou, junto aos restos mortais, um pedaço de jornal com o endereço da casa onde o crime foi cometido. Lá, havia serras e plástico para cobrir o chão. E Durst foi visto comprando esses itens em uma loja de material de construção da cidade. Havia ainda uma serra em seu carro.

Durst foi preso, mas ficou só uma noite na cadeia: obteve liberdade condicional após pagar fiança de US$ 250 mil (R$ 1,4 milhão, na cotação atual). Meses depois, faltou ao julgamento e se tornou foragido. Ele rodou por vários estados, usando um documento que pertencia a Black, o vizinho assassinado. Sua prisão aconteceu por algo banal: ele foi detido por furtar um sanduíche de frango em um supermercado, mesmo tendo milhares de dólares em dinheiro vivo no carro.

Em 2003, Durst foi a julgamento. Com apoio de advogados experientes, convenceu o júri de que ele matou Black de modo acidental, por legítima defesa, em meio a uma briga depois que o vizinho teria entrado na casa dele sem autorização. Assim, foi inocentado da acusação de assassinato. Em dezembro de 2004, em outro julgamento, foi sentenciado à prisão por violar as regras da condicional e por tentar esconder o corpo de Black, mas foi novamente liberado em julho de 2005, ainda sob condicional.

Ao ser solto, seguiu causando problemas. Em dezembro de 2005, Durst atacou uma juíza que presidiu seu julgamento ao encontrá-la em um centro comercial em Houston. Foi preso de novo, mas liberado de vez em março de 2006, ao terminar de cumprir a pena.

Quatro anos depois, em 2010, foi lançado o filme "Entre Segredos e Mentiras", baseado na história do sumiço de Kathie. Depois de assistir, ele procurou o diretor da produção, Andrew Jarecki, e disse que queria contar sua versão da história. Suas entrevistas deram origem à série documental "The Jinx", lançada em 2015 e atualmente disponível na HBO Max.

Na conversa, Durst se mostra um homem frio. Conta com tranquilidade para a câmera que agrediu a ex-esposa diversas vezes e a forçou a fazer um aborto porque ele não queria ter filhos. Também assumiu que mentiu para a polícia sobre vários fatos da noite do desaparecimento: ele não havia telefonado para a mulher para confirmar que ela tinha chegado à cidade.

Em um momento das gravações, ele foi ao banheiro. Com o microfone ainda ligado, disse para si mesmo "É isso. Você foi pego. O que diabos eu fiz? Matei todos eles, é claro". No entanto, houve questionamentos de que a fala teria sido editada a partir de várias frases soltas dele.

Durst foi preso no mesmo dia da exibição do último capítulo da série, pela acusação de matar sua amiga Susan. Desta vez, não teve direito a fiança. O julgamento, realizado na Califórnia, começou em março de 2020, mas foi suspenso por causa da pandemia e retomado em maio de 2021. Foram quatro meses de audiências, até que o júri o considerou culpado de assassinato, sob agravante de que a razão do crime foi a tentativa de impedir que Susan revelasse informações sobre a morte de Kathie. A condenação foi de prisão perpétua, sem direito a condicional.

Em novembro de 2021, outro julgamento, em Nova York, apontou Durst como responsável pela morte da esposa. O júri o considerou culpado com base em seu histórico e por seus esforços em tentar esconder as informações. No entanto, o corpo da vítima, até hoje, não foi encontrado.

Hoje com 78 anos, Durst segue dizendo que não matou a mulher. Porém, durante seu julgamento, admitiu aos promotores que não falaria a verdade caso a tivesse matado de fato. Ele cumpre pena na Califórnia e enfrenta vários problemas de saúde, incluindo um câncer na bexiga. Seus advogados disseram que ele está perto da morte.

A família de Kathie celebrou a condenação, mas questionou a demora da Justiça. "Nossa família e nossos advogados ofereceram testemunhas e evidências de que Robert Durst matou Kathie, mas a promotoria demorou quase 40 anos para processá-lo. A questão mais importante é: por que demorou tanto? Merecemos respostas", disse James McCormack, irmão da vítima, após a divulgação da sentença.

Os parentes da vítima suspeitam que os Durst subornaram autoridades locais para que o caso fosse esquecido. Bob Abrams, advogado da família, pediu que a abertura de uma investigação a respeito de uma doação de campanha de US$ 400 mil feita por Douglas Durst ao então governador de Nova York George Pataki, republicano que permaneceu no cargo de 1995 a 2006). A suspeita é de que o dinheiro pode ter sido uma forma de influenciar no caso do empresário. Porta-vozes de Pataki e dos

Durst dizem que as acusações são invenções sem fundamento.
Outra dúvida que a família ainda busca solucionar é o que de fato aconteceu com Kathie. Apesar de tantas investigações e da condenação ao longo de 40 anos, ainda não se sabe como ela morreu. Durst parece gostar de revelar informações aos poucos, e há chances de que ele conte mais alguma coisa na reta final de sua vida. Ou talvez escreva um bilhete.

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