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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Guerra na Ucrânia agrava inflação e desaceleração econômica no Brasil

Segundo economistas ouvidos pela reportagem, mesmo que a guerra tenha curta duração, deixará marcas que serão sentidas por consumidores, investidores e trabalhadores, como a pressão adicional sobre os preços de alimentos e combustíveis

© Getty

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O conflito entre Rússia e Ucrânia agrava dois problemas que afetam a economia brasileira desde meados do ano passado: a inflação e a desaceleração da atividade.

Além disso, pode ter antecipado o movimento de desvalorização do real que era esperado para o segundo semestre deste ano pela proximidade do processo eleitoral.
Segundo economistas ouvidos pela reportagem, mesmo que a guerra tenha curta duração, deixará marcas que serão sentidas por consumidores, investidores e trabalhadores, como a pressão adicional sobre os preços de alimentos e combustíveis e o adiamento nas decisões de investimento e contratação pelas empresas.

Nesta quinta-feira (24), a moeda americana subiu 2,01%, fechando a sessão a R$ 5,1040. O salto ocorreu um dia depois da divisa americana ter atingido o seu menor valor frente ao real desde o final de junho (R$ 5,0030).

A experiência histórica mostra que choques geopolíticos têm uma duração não muito longa, mas são muito intensos em um primeiro momento, afirma o economista Armando Castelar, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Isso provoca movimentos de corrida para ativos mais seguros e pode deixar algum impacto mais permanente na inflação e no crescimento.

"A aversão a risco é o impacto dominante a curto prazo. O dólar se valoriza contra outras moedas. O câmbio, que vinha caminhando em uma boa direção [no Brasil], virou", afirma.
Castelar diz que a incerteza em relação ao conflito tende a se reduzir, e a discussão determinante para a economia voltará a ser a questão da pandemia.

Passado esse primeiro momento, alguns preços devem voltar a cair, mas ele lembra que o processo de alta da inflação é mais rápido do que o movimento de queda. Por isso, avalia que há mais um motivo para que o Banco Central seja pressionado a elevar a taxa básica de juros dos atuais 10,75% para pelo menos 12,75% ao ano.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, afirma que o principal impacto do conflito para o Brasil neste momento está relacionado à alta nos preços das commodities, como petróleo e trigo.

Por um lado, isso vai pressionar a inflação. Por outro, pode haver algum impacto positivo para os exportadores desses produtos, em seus resultados e em suas ações, por exemplo.

O barril do petróleo Brent, referência mundial para essa mercadoria, superou a marca de US$ 105 durante o dia, maior valor desde 2014, mas fechou abaixo dos US$ 100.

A alta dos preços dos produtos básicos é um dos fatores que contribuíram para a queda do dólar frente ao real neste início de ano. Com o conflito, no entanto, muitos investidores já buscam proteção em ativos de menor risco, como títulos dos EUA, afirma Mercadante, enfraquecendo a moeda brasileira.

"Caso esse cenário de guerra piore, a perspectiva é que a gente veja uma migração para ativos mais seguros, e a Bolsa deve perder alguma força."

O economista da Rio Bravo avalia que a inflação mais alta não deve levar o Banco Central brasileiro a aumentar os juros acima dos 12,25% ao ano esperados por grande parte dos analistas, mas afirma que a taxa pode demorar mais a cair se a alta de preços se tornar mais persistente.

Outro risco para o país, segundo ele, é um possível enfraquecimento da economia global, a depender, por exemplo, do impacto da guerra nos fluxos de comércio. Uma pressão adicional na inflação nas economias desenvolvidas também pode levar a juros mais altos no exterior.

O professor do Insper Eduardo Correia afirma que, mesmo no cenário de uma guerra limitada e de curta duração, o conflito adia a retomada da economia global e complica o cenário de inflação para o Brasil, duas notícias ruins para os planos de reeleição do presidente da República.

Ele cita, por exemplo, a questão do câmbio, que poderia ajudar a amenizar a pressão sobre os preços.

"Não esperava que o dólar fosse ficar a R$ 5,00 até o final do ano, e essa crise precipitou o cenário de desvalorização, porque todo mundo segue para o ativo mais seguro, que é o dólar", afirma.

"Pode ser que demore ainda mais para a economia brasileira vencer esses problemas: recessão com desemprego e inflação."

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