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terça-feira, 1 de março de 2022

Economia fraca retarda plano do BNDES de venda de ações de campeãs nacionais

Em 2019, quando Bolsonaro assumiu, o banco detinha R$ 125 bilhões em participações de grandes empresas, a maior parte campeãs nacionais, como Petrobras, Vale, JBS, Marfrig e Suzano. Hoje, essa participação caiu para R$ 70 bilhões

 

© Shutterstock

(FOLHAPRESS) - Os danos causados pelo coronavírus à economia atrapalharam a meta do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de se desfazer da participação acionária de empresas que, no passado, foram eleitas "campeãs nacionais".

É o que ajuda a explicar o baixo nível de remuneração obtido nas vendas de ações em posse do banco desde o início do mandato de Jair Bolsonaro (PL), que enfrenta dificuldades com o baixo nível de crescimento da economia.

Em 2019, quando Bolsonaro assumiu, o banco detinha R$ 125 bilhões em participações de grandes empresas, a maior parte campeãs nacionais, como Petrobras, Vale, JBS, Marfrig e Suzano. Hoje, essa participação caiu para R$ 70 bilhões.

Dados do próprio BNDES mostram que a remuneração obtida com a venda de participações societárias sob Bolsonaro está entre as mais baixas em quase uma década.

As informações, no entanto, não separam ações de outros ativos, como debêntures (títulos de dívida que podem ser convertidas em ações), em posse do banco.

Apesar de ter registrado ganhos com essas operações, o retorno não foi tão bom quanto se esperava. Em 2019, por exemplo, o banco vendeu R$ 17,2 bilhões em ações e outros títulos e obteve R$ 2,8 bilhões como remuneração, o equivalente a 16% do desinvestimento.

No ano seguinte, já sob severos efeitos da pandemia, o desinvestimento foi maior (R$ 47 bilhões) e o retorno, pior –R$ 3,3 bilhões (7%).

Entre 2012 e 2018, o ganho anual médio com venda de ativos chegou a 73%, em 2014, e foi praticamente zero em 2013.

O banco explica que parte desse resultado se deve ao valor das ações, que sofreram baixa durante a pandemia, e outra parte são impostos que incidiram sobre as transações.

Durante a pandemia, diante da incerteza sobre o futuro da economia -comprometida com as políticas de distanciamento social-, o mercado acionário registrou baixa. Hoje, o BNDES ainda tem participações em empresas fechadas do grupo Odebrecht, Oi, Embraer e JBS.

Entre 2020 e 2021, no entanto, o banco informa que, somente em ações, a venda totalizou R$ 22,7 bilhões, em 2020, e R$ 12,8 bilhões, em 2021. Os ganhos líquidos nesse período foram de R$ 14 bilhões e R$ 8 bilhões, respectivamente -62,5% do valor do desinvestimento.

Boa parte desse resultado se deve à valorização dos papéis da JBS e da Vale, que vinha se recuperando de perdas com a alta das commodities.

Somente Klabin e Vale renderam R$ 3,7 bilhões em ganhos líquidos ao banco no ano passado.

Em fevereiro deste ano, o banco vendeu um lote de 50 milhões de ações da gigante global de alimentos JBS por cerca de R$ 1,9 bilhão. Em meados de dezembro, já tinham sido vendidas 70 milhões de ações da companhia por R$ 2,7 bilhões.

Durante o anúncio de resultados, nesta sexta-feira (25), o banco informou que o lucro líquido com a operação de dezembro foi de R$ 1 bilhão. O BNDES disse ainda não ter apurado o ganho líquido com a segunda transação.

Sem detalhar os ganhos com a JBS, o presidente do banco, Gustavo Montezano, afirmou que a venda foi feita em um momento de alta dos papéis de forma a garantir lucro para o banco.

Os desinvestimentos foram o carro-chefe para o resultado recorde registrado pelo banco no ano passado –R$ 34,1 bilhões, um aumento de 65% em relação ao ano anterior.

Em 2019, quando Bolsonaro assumiu a Presidência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, condenou a política de subsídio para financiar grandes empresas, base do programa conduzido pelos governos do ex-presidente Lula e Dilma Rousseff conhecido como "campeões nacionais".

Entraram nesse programa empreiteiras, fabricantes de alimentos, empresas de bens de capital, dentre outras. Por ele, o Tesouro subsidiou juros do BNDES para financiar a internacionalização de grupos nacionais.

A resistência em elevar o volume de devoluções de empréstimos do Tesouro foi um dos motivos de insatisfação do governo com Joaquim Levy, primeiro presidente do BNDES após a posse de Bolsonaro, que durou pouco mais de seis meses no cargo.

Ao assumir, seu substituto, Montezano, elencou a devolução como uma das metas de sua gestão, ao lado da redução da carteira de participações acionárias do BNDESPar (braço de investimento do banco) e da abertura da chamada "caixa-preta" da instituição.

Montezano anunciou a venda de ações das "campeãs nacionais" como um dos pilares da reestruturação do banco, que se tornou uma instituição voltada à estruturação de projetos de desestatização e de apoio a operações de crédito para pequenas e médias companhias.

Para os grandes conglomerados, o banco passou a atuar na elaboração de operações de mercado -lançamento de papéis de dívida (como debêntures).

O BNDES deixou, ainda segundo Montezano, de ter "posição especulativa" com esses papéis na Bolsa.

"Elas já se desenvolveram. Não precisam mais do banco", disse Montezano durante o anúncio de resultados. "Manter posição em Bolsa com ações dessas companhias é especulação. É preciso realocar esses recursos para o desenvolvimento do país."

Segundo ele, o alvo da próxima rodada de investimento do banco serão as micro, pequenas e médias empresas (MEI), chamadas por ele de "heróis nacionais".

Na pandemia, essas empresas, que respondem pela maioria dos empregos gerados no país, receberam menos do que o necessário, segundo representantes do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro, Pequenas e Médias Empresas).

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