Relatos de autoridades locais dizem que as tropas de Kiev têm conseguido retomar o controle de porções importantes do território.
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ucrânia e Rússia se preparam para as primeiras negociações de paz a serem feitas de forma presencial em mais de duas semanas, que devem ocorrer a partir desta terça-feira (29) na Turquia -mas não há expectativas de grande avanço, disseram autoridades ucranianas nesta segunda (28).
O fato de a rodada ocorrer presencialmente, pela primeira vez desde uma reunião tensa entre os chanceleres dos dois países em 10 de março, porém, pode sinalizar uma mudança de tom. Isso à medida que a Rússia tem encontrado dificuldade em avançar e ganhar território na Ucrânia.
Relatos de autoridades locais dizem que as tropas de Kiev têm conseguido retomar o controle de porções importantes do território.
Em Irpin, cidade nos arredores da capital e uma artéria para chegar à cidade, as forças do país teriam retomado controle total, segundo o prefeito Oleksandr Markushin. Partes das periferias de Sumi e de Kharkiv também teriam sido retomadas, mas as informações não puderam ser confirmadas de maneira independente.
Já na região da usina de Tchernóbil, onde ocorreu o mais grave acidente nuclear da história, em 1986, novos incêndios foram registrados, de acordo com informações do governo. O órgão das Nações Unidas responsável pelo assunto desse que apesar disso não há alterações no quadro de segurança local.
Os movimentos no front parecem desenhar uma consequência do anúncio russo de que já teria completado a primeira etapa da guerra e, agora, buscaria avançar no Donbass,. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, nesta segunda, também relatou que os russos estariam mudando seu foco no conflito para agora controlar a região a leste, onde estão as repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk.
Ainda assim, a Ucrânia teve de suspender o funcionamento de corredores humanitários para retirada de civis. Autoridades do país justificaram a medida alegando ter informações de possíveis ataques por parte dos russos nesses locais.
Até aqui, o conflito gerou 3,8 milhões de refugiados, segundo os dados mais recentes da ONU. A maioria emigrou para a Polônia, onde entraram quase 2,3 milhões de ucranianos.
Também avança a repressão em solo russo aos que se manifestam contra a guerra -ao menos 15,1 mil já foram presos, diz a ONG OVD-Info- e aos veículos independentes de imprensa. O Novaia Gazeta (novo jornal), último grande jornal independente da Rússia e editado pelo Nobel da Paz Dmitri Muratov, anunciou que irá suspender suas atividades até o fim da guerra na Ucrânia.
No campo da diplomacia, o presidente dos EUA, Joe Biden, que no sábado havia dito que Putin "não pode permanecer no poder", afirmou nesta segunda que não retira o que disse. Segundo ele, a fala foi uma manifestação pessoal, não política -a diplomacia americana vinha tentando colocar panos quentes e esclarecer que Washington não pretende mudar o regime na Rússia.
Já o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, disse ter orientando o chefe de ajuda internacional do organismo a falar com as partes envolvidas sobre a possibilidade de um cessar-fogo humanitário na Ucrânia e tentar mediar a negociação.
O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, aliás, afirmou em discurso televisionado que a principal meta do país nas negociações desta terça, na Turquia, será estabelecer um cessar-fogo, indicando que um ponto final nos ataques não está no horizonte próximo.
Quando os dois lados da guerra se viram pela última vez, a Ucrânia acusou o chanceler russo, Serguei Lavrov, de ignorar os apelos do país para discutir um cessar-fogo, e Lavrov afirmou que a interrupção dos combates nem estava na agenda. Desde então, eles se reuniram apenas por videochamada.
Tanto Moscou quanto Kiev afirmam que há progressos quanto às propostas de a Ucrânia aceitar algum tipo de status formal neutro -sem aderir à Otan, por exemplo-, mas não parecem próximos de chegar a um acordo quanto às demandas territoriais da Rússia, incluindo a Crimeia, anexada pelos russos em 2014, e os territórios a leste na região do Donbass, que Moscou exige que Kiev ceda aos separatistas.
"Não acho que haverá qualquer avanço nas principais questões", disse o assessor do Ministério do Interior ucraniano Vadim Denisenko.
O presidente Volodimir Zelenski tem passado mensagens ambíguas. Em discurso em vídeo voltado à população divulgado na noite de domingo, afirmou que vai priorizar a integridade territorial do país nas negociações em Istambul.
Mas em comentários feitos a jornalistas russos horas antes adotou um tom diferente, dizendo que a Ucrânia estava disposta a discutir o status das regiões separatistas, repetindo que qualquer acordo deve ser submetido a um referendo. "Garantias de segurança e neutralidade, status não nuclear de nosso Estado. Estamos prontos para isso", acrescentou, falando em russo.
Além do encontro entre os chanceleres russo e ucraniano no dia 10, em Antália, na Turquia, delegações da Rússia e Ucrânia se encontraram anteriormente três vezes na Belarus e focaram nas conversas a questão humanitária, sobretudo na abertura de corredores para retirar civis do país -não houve avanços concretos, porém.
Nesta segunda, Lavrov respondeu aos pedidos de Zelenski por uma reunião de cúpula com o presidente Vladimir Putin. Segundo o chanceler russo, um encontro nesse momento seria "contraproducente" e só ocorreria se a Ucrânia concordasse com as exigências de Moscou nas negociações.
Putin "disse que nunca rejeitaria um encontro com o presidente Zelenski, mas é necessário que este encontro seja bem preparado", afirmou Lavrov.
Desde o início da guerra, países ocidentais afirmam que o verdadeiro objetivo da Rússia era derrubar rapidamente o governo de Kiev, o que Moscou não conseguiu diante da resistência ucraniana. A Rússia mantém a pressão no sudeste ucraniano, com o cerco à cidade portuária de Mariupol, onde ainda há dezenas de milhares de civis que não conseguem sair.
O prefeito da cidade, Vadim Boichenko, afirmou que 160 mil civis estão presos no local, sem aquecimento e energia. Vinte e seis ônibus aguardam para retirá-los, mas as forças russas não concordaram em dar passagem segura, segundo o político.
"A situação na cidade continua difícil. As pessoas estão além da linha de catástrofe humanitária", disse Boichenko pela TV. "Precisamos retirar todos os civis de Mariupol."
A ONU confirmou 1.119 mortes de civis e 1.790 feridos em toda a Ucrânia desde o início da guerra, mas diz que o número real provavelmente será maior. A Ucrânia disse no domingo que 139 crianças foram mortas e mais de 205 ficaram feridas até agora no conflito.
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