O cacique disse que testemunhas chegaram a identificar um provável atirador, que estaria rondando a aldeia há alguns dias
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(FOLHAPRESS) - O indígena da etnia pataxó Iris Braz dos Santos, 44, morreu na madrugada deste domingo (24) após não resistir aos tiros disparados contra ele na tarde do sábado (23), na aldeia Novos Guerreiros, em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, segundo a Polícia Civil.
A aldeia fica situada às margens da BR-367, do lado oposto à praia, em um território que tem sido reivindicado por membros da etnia, mas cujo processo de demarcação ainda não teria sido homologado pela Funai, dizem lideranças locais.
Iris era tio da jovem liderança pataxó Vitor Braz de Souza, 22, que foi assassinado na madrugada de 14 de março, na mesma aldeia, por ter reclamado do som alto de uma festa clandestina que impedia o filho recém-nascido de dormir.
Esse é o terceiro episódio de violência contra indígenas no sul da Bahia, em pouco mais de um mês. Antes, no último dia 19, Dia do Índio, a indígena pataxó hã-hã-hãe Priscila Lima, 31, foi espancada, segundo testemunhas, por policiais militares, durante uma micareta no município de Pau Brasil.
Segundo a liderança Thyara Pataxó, o clima de medo instalado na região tem levado os demais indígenas a trocarem os números dos telefones. Para ela, ainda é prematuro afirmar se ambos assassinatos têm alguma ligação, já que as investigações ainda não avançaram.
"No caso de Vitor, o que sabemos é que a morte foi provocada por ele ter reclamado do som da festa", afirmou. "Mas, em relação a Iris, é algo que todos nós estamos nos perguntando, já que se tratava de uma pessoa muito reservada".
De acordo com o cacique José Roberto de Jesus, conhecido como Tukun Pataxó, Iris foi perseguido por um homem enquanto trabalhava na oficina a poucos metros de casa, por volta das 15h30, onde produzia artesanatos elaborados a partir da casca de coco seco.
"Foi um horário em que havia movimento tanto na aldeia quanto na praia, já que ainda era cedo", disse o cacique, que chegou a ouvir os disparos. "Minha casa fica a cerca de 300 metros da dele. Chegamos a pensar que era bomba, até recebermos a notícia".
O cacique disse que testemunhas chegaram a identificar um provável atirador, que estaria rondando a aldeia há alguns dias. Durante o socorro a Iris, ainda vivo na ambulância, ele teria dito à mulher ter avistado o homem duas vezes, segundo o cacique.
A liderança lamenta a atual situação de vulnerabilidade da aldeia em relação à segurança dos indígenas. "Ficamos todos de olho, nos revezando 24 horas. Pedimos ajuda dos órgãos de segurança", disse.
Iris era pai de sete filhos, diabético, hipertenso e gostava de jogar futebol. "Até então, na comunidade, não temos nada o que falar em relação ao comportamento dele".
Por meio de nota, a Polícia Civil da Bahia afirmou que o homicídio de Iris será investigado pela Delegacia Territorial de Porto Seguro. A unidade ouviu 14 testemunhas no inquérito que apura a morte de Vitor. Foi autorizada pela Justiça a prisão preventiva do autor, que continua foragido.
No último dia 19, a indígena Priscila Lima, da etnia pataxó hã-hã-hãe, foi agredida por policiais militares com golpes de cassetetes, enquanto participava com a família de uma micareta no município de Pau Brasil. Vídeos da ação policial circularam pelas redes sociais.
Na época, a mulher afirmou que as agressões ocorreram enquanto tentava defender o marido, que teria sido agredido por ter se colocado entre uma fila de policiais que trabalhavam na segurança da festa, quando tentava chegar próximo ao palco para tirar fotos.
Procurada, a Polícia Militar disse que os agentes teriam avistado um casal arremessando garrafas de vidro no espaço da festa. Quando se aproximaram, segundo nota da corporação, a dupla teria passado a direcionar os objetos para os policiais.
Após contido, diz a nota, o casal foi encaminhado a uma unidade de saúde, junto com um policial ferido pelas garrafas, para que recebesse atendimento médico. Ambos foram conduzidos para a delegacia de Pau Brasil, onde foi registrado um boletim de ocorrência.
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