O relato engrossa um número crescente de queixas do tipo.
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RENAN MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O último dia das férias da comunicadora Barbara Thomaz, 37, em Portugal foi marcado por um episódio de humilhação e violência que transformou -para pior- a reta final da viagem. Ela conta que foi xingada em um ataque xenofóbico de um motorista da Uber.
O relato engrossa um número crescente de queixas do tipo. A questão foi reconhecida pela ministra de Assuntos Parlamentares de Portugal, Ana Catarina Mendes, em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo.
Barbara conta que na madrugada de quinta-feira (28) pediu, com duas amigas também brasileiras, um carro por aplicativo depois de um jantar em Lisboa. O motorista logo passou a dirigir em alta velocidade e de forma imprudente, fazendo curvas bruscas e ignorando semáforos vermelhos -a ponto de, segundo ela, não permitir que as passageiras afivelassem o cinto de segurança, travado com o movimento.
Ainda de acordo com o relato, feito também nas redes sociais, a comunicadora e as amigas pediram ao motorista para que diminuísse a velocidade, mas foram ignoradas, o que as deixou apavoradas, "se sentindo em uma roleta russa".
Diante da insistência, "ele brecou repentinamente numa avenida completamente deserta e, aos berros, bradou: 'aqui não é o Brasil, voltem para aquela merda de país'", conta Barbara. Depois de xingar as passageiras, o motorista chegou a sair do veículo e abrir uma das portas, para tentar arrancá-las à força. "Eu saí pelo outro lado e fui puxando minhas amigas, porque ele estava descontrolado e agressivo."
Segundo ela, por sorte um táxi estava passando do outro lado da avenida -e as três, nervosas, praticamente se jogaram na frente do veículo, para chamar a atenção e conseguir embarcar. "Passei o dia chorando. O último dia da viagem virou o enterro da minha alegria. Estamos vivas, mas definitivamente não estamos bem. Nossa nacionalidade, gênero e segurança foram atacados", escreveu a comunicadora.
De volta ao Brasil, ela tenta agora denunciar o motorista, mas alega que ainda não recebeu da Uber os dados completos dele -sem os quais, diz, não consegue abrir um boletim de ocorrência.
Procurada, a Uber Portugal afirmou em nota que não tolera qualquer forma de discriminação. "Sempre que temos conhecimento, através do aplicativo, de situações como a indicada, o usuário e o motorista são contatados com o objetivo de tomar as medidas adequadas, que podem passar pela remoção do acesso do motorista." A empresa informou ainda ter criado, no app, canais de denúncia contra casos de discriminação ou racismo.
Diante da repercussão do caso, Barbara conta ter sido contatada pela Uber do Brasil, que prometeu ajudar nas investigações. A equipe, porém, ainda não informou que medidas serão tomadas.
A comunicadora afirma que foi a primeira vez que se sentiu tão humilhada em uma viagem. Dias antes, também em Portugal, onde havia chegado no dia 21 de julho, passou por outro momento constrangedor ao ouvir, em conversa com um português, a sugestão para virar prostituta, em um tom supostamente de brincadeira.
Os relatos de xenofobia contra brasileiros em Portugal acompanham o crescente interesse pelo país europeu. Em 2021, atingiu-se o recorde de 209.072 brasileiros residindo legalmente no país -mas a cifra não inclui quem tem dupla cidadania nem os que estão em situação irregular.
Diante da escassez de mão de obra no país, sobretudo nos setores de turismo e serviços, o Parlamento português aprovou na semana passada um programa que amplia e facilita a concessão de vistos de trabalho a cidadãos dos países da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa), incluindo brasileiros. Nesta sexta (29), o presidente Marcelo Rebelo de Sousa prometeu rapidez para sancionar as mudanças na lei de Estrangeiros.
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