Sites ucranianos mostraram vídeos de tiroteios registrados na cidade, que tinha 280 mil pessoas antes da guerra.
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IGOR GIELOW (FOLHAPRESS) - Em meio a relatos contraditórios naturais em uma guerra que antes de tudo é de propaganda, a contraofensiva anunciada pela Ucrânia para tentar retomar áreas ocupadas pelos russos no sul do país registrou combates mais intensos nesta terça (30).
Como seria óbvio, Kiev diz estar avançando, e Moscou, que as tentativas ucranianas foram todas rechaçadas. Em comum, apenas a concordância de que há combates em curso na região de Kherson, cuja capital homônima foi a primeira cidade significativa a ser tomada pelos russos, em 3 de março, logo após a invasão de 24 de fevereiro.
Sites ucranianos mostraram vídeos de tiroteios registrados na cidade, que tinha 280 mil pessoas antes da guerra. Não é possível assegurar sua veracidade ainda, mas a administração russa da cidade confirmou ter havido conflitos na região.
Com efeito, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, apenas disse nesta terça que "a operação militar especial segue conforme o plano", o mantra de seu chefe, Vladimir Putin. Ele respondia à ameaça feita pelo homólogo ucraniano do presidente, Volodimir Zelenski, que na noite anterior havia dito que os russos precisariam fugir para sobreviver.
A ofensiva lançada na segunda não tem um desenho ainda definido, o que gera dúvidas acerca da capacidade de Kiev de romper de forma efetiva as linhas russas, que foram reforçadas durante o mês em que a ação foi propagandeada por Zelenski no intuito de obter mais apoio militar do Ocidente.
Nesse período, a Ucrânia introduziu o emprego de sistemas de artilharia com mísseis de precisão Himars norte-americanos. Eles foram usados para atacar depósitos de munição e quartéis russos mais distantes das linhas de frente e também para ajudar a isolar a cidade de Kherson.
Como fica separada do resto do território ocupado pelos russos pelo rio Dnieper, a capital regional está em uma posição vulnerável. Pontes foram atacadas e fechadas, obrigando a construção de pontões e o uso de barcaças para transporte de suprimentos para a cidade pelos russos.
Ainda assim, uma tomada física da cidade demandaria o tipo de combate de atrito que os russos têm preferido na guerra, com grande destruição, e diferentemente de outros locais ocupados há muitos ucranianos morando ainda em Kherson.
Enquanto não se sabe o real rumo da ofensiva, alguns detalhes começam a emergir de sua preparação. Segundo o jornal americano The Washington Post, Kiev construiu diversos modelos de madeira dos lançadores Himars para enganar os russos e fazê-los desperdiçar mísseis e artilharia.
É uma tática tão antiga quanto as guerras, e nesse caso teria sido usada para atrair drones de Moscou que orientam o disparo de mísseis e obuses. Isso explicaria o alto número de sistemas Himars que os russos dizem ter destruído (6 dos 16 entregues até aqui) e o contínuo uso do armamento.
Novamente, pode ser só propaganda, como ocorre de lado a lado. Segundo o governador da região de Mikolaiv, que fica anexa a Kherson e foi o ponto em que as tropas russas pararam no seu caminho ao porto de Odessa, "combates pesados continuam". "A liberação virá logo", disse Vitali Kim a uma TV local.
Já em Kherson, o adjunto da administração russa local foi assassinado a tiros no domingo (28). Ele se chamava Alexander Kovalev e era um deputado ucraniano que mudou de lado com a invasão. O chefe dele, o também colaborador Kirill Stremusov, foi flagrado por internautas gravando um pronunciamento em vídeo de Voronej, no sul da Rússia, o que sugere que ele pode ter fugido.
Alguns vilarejos foram tomados, afirmou a mídia ucraniana, enquanto o Ministério da Defesa russo postou um vídeo de uma vila completamente obliterada, dizendo que ela havia sido "libertada". Enquanto isso, combates seguem em regiões de Donetsk, província do leste cuja parte ainda sob controle de Kiev está sob ataque desde que Moscou conquistou a vizinha Lugansk.
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