Para o estudo, foram analisados dados de 10.775 brasileiros entre 35 e 74 anos durante 10 anos
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Para o estudo, apresentado na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer nos Estados Unidos, foram analisados dados de 10.775 brasileiros entre 35 e 74 anos durante 10 anos.
Eles foram divididos em quatro grupos conforme a ingestão diária de ultraprocessados e, a partir disso, foi concluído que o impacto na cognição de quem consome mais de 20% de calorias diárias desse tipo de alimento foi 28% maior do que aqueles que ingeriram menos.
Diariamente, células nascem e morrem no corpo humano, o que é um processo normal e biologicamente programado. Com o passar dos anos e com o envelhecimento, há um comprometimento de memória e de aprendizado. No entanto, segundo o neurocientista e professor Leandro Freitas Oliveira, a ingestão destes alimentos não só causam vício ao cérebro, mas aceleram todos esses processos naturais do corpo.
"Cada alimento que ingerimos é metabolizado e o cérebro o processa. Mas a grande questão é que, nesse caso de alimentos ultraprocessados, o cérebro vicia facilmente e sente prazer com açúcar e gordura. Tanto que pessoas com hábitos ruins, quando tentam mudar, entram em um processo de abstinência. Então, apesar de várias doenças serem genéticas, uma má alimentação pode contribuir para acelerar o Alzheimer, Parkinson, comprometimento de memória, quadros depressivos e ansiedade", afirma o neurocientista.
Descasque mais e desembale menos Fatores como preço e durabilidade fazem que os alimentos ultraprocessados sejam consumidos com bastante frequência.
Entre 1995 e 2017, pesquisadores brasileiros analisaram os preços de 102 tipos de alimentos mais consumidos no país, com uma projeção até 2030. Segundo este estudo, publicado no jornal da Universidade de Cambridge, a carne era mais cara do que a salsicha, isso porque em 1995, o primeiro item custava R$ 9,08 enquanto o segundo valia R$ 10,30. De 2011 até 2018, a salsicha estava R$ 11,33 e a carne R$ 13,10.
Um outro estudo feito pelo Datafolha, sob encomenda do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor durante a pandemia, o consumo de ultraprocessados aumentou de 9% para 16% (entre 2019 e 2020), na faixa etária entre 45 e 55 anos.
Outro ponto observado é que a ingestão de pelo menos uma fruta caiu de 68% para 62% em cidades do interior. No Nordeste, em 2019, a ingestão de pelo menos uma fruta era de 72%, número que caiu para 64% em 2020.
Para Annie Bello, professora de Nutrição da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e pesquisadora do INC (Instituto de Nutrição Comportamental), o brasileiro vem se alimentando mal nos últimos anos, e o aumento da oferta de ultraprocessados ocorre devido à praticidade que o alimento oferece.
"Então, por exemplo, ao invés do milho in natura, a pessoa vai comprar um salgadinho ou até mesmo em troca de um pedaço de abacaxi, é mais fácil comprar um suco de caixinha de abacaxi, que passa por todo um processo industrial. Esses alimentos têm um baixo valor nutricional e possuem um caráter mais inflamatório" aponta.
A dieta rica em alimentos saudáveis e nutritivos, e acompanhada de exercícios físicos faz parte da cartilha do bem-estar de quem quer uma vida com menos risco de doenças. O neurocientista Leandro Freitas afirma que muitos desses hábitos são lembrados apenas para prevenção de problemas cardiovasculares e obesidade, mas é preciso estar atento aos cuidados com o cérebro.
"O que eu sempre digo é que nós somos aquilo que comemos. Então se a gente tem uma alimentação rica em gordura e açúcar, ela impacta diretamente nosso cérebro. E as nossas células acabam desenvolvendo o que chamamos de morte celular programada. Então pessoas que se alimentam bem vão apresentar um melhor desempenho cognitivo comparadas com aquelas que têm uma alimentação desregular, diz.
Para fugir dos ultraprocessados, uma das dicas é a organização. Mesmo com a rotina corrida é possível se alimentar bem, de forma saudável e mantendo um custo baixo, segundo Bello.
"Alimentos da época, como frutas e vegetais, têm um custo menor e são mais saborosos. Além do arroz e feijão, que é bastante consumido pelo brasileiro, pode acrescentar sementes que são baratas como a linhaça, aveia e gergelim. E para substituir a carne, que está bem cara, pode ser um frango, um peixe. Mas, para isso, é preciso planejamento, organização e gestão do tempo. Não é difícil manter uma alimentação saudável durante a correria do dia a dia", conclui a nutricionista.
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