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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Zema resiste a Bolsozema, 'aceita' eleitor de Lula e adota neutralidade em Minas

Eleito na esteira da onda "antipolítica" e bolsonarista de 2018, e tido como um dos gestores mais próximos a Bolsonaro ao longo do mandato, o hoje autointitulado "político" Zema passou a se distanciar do presidente nos últimos meses, evitando fechar um palanque conjunto e fazendo acenos mais discretos ao mandatário.

© Getty Images


(FOLHAPRESS) - Era 2018. A poucos dias do segundo turno das eleições, o candidato ao Governo de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) aparecia em um vídeo em que repetia ao lado de apoiadores: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Ao final, vinha o grito: "Bolsozema!", em referência ao apoio declarado por ele ao então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PL).

A cena parece distante do atual cenário de 2022, momento em que o agora governador adota a neutralidade em relação à disputa nacional como estratégia em busca da reeleição. Seu principal opositor hoje é o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).

Eleito na esteira da onda "antipolítica" e bolsonarista de 2018, e tido como um dos gestores mais próximos a Bolsonaro ao longo do mandato, o hoje autointitulado "político" Zema passou a se distanciar do presidente nos últimos meses, evitando fechar um palanque conjunto e fazendo acenos mais discretos ao mandatário.

Em entrevistas recentes, tem dito que a associação do seu nome ao de Bolsonaro ocorre por coincidência, por terem sido eleitos juntos como desconhecidos. Também diz que deve cobrar mais ações do governo federal em relação a Minas.

Já quando questionado sobre um eventual apoio no segundo turno, evita citar diretamente Bolsonaro, ao mesmo tempo em que diz "não voto em partido corrupto, não voto no PT".
Até lá, Zema afirma apoiar o candidato do próprio partido à Presidência, Felipe d'Ávila.

Aliados do governador ouvidos pela Folha de S.Paulo dizem que há motivos para a corda bamba em relação ao presidente. Entre eles está o alto índice de rejeição a Bolsonaro, cuja aliança é vista como potencial prejuízo ao governador, que busca a vitória ainda no primeiro turno.

Outro fator é o contingente de eleitores que, nas sondagens atuais, declaram votar em Lula para a Presidência e Zema no estado -um fenômeno que já ganhou apelido próprio: "Luzema".

Estimativas do Novo com base nas pesquisas já divulgadas apontam que 39% dos eleitores de Lula estariam nesse quadro, tido como mais forte na região norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha.

Alguns aliados e integrantes do partido já falam que Zema, caso não vença no primeiro turno, poderia até ser aconselhado a manter a neutralidade em uma segunda rodada.

A distância protocolar em relação ao presidente contrasta com o histórico dos últimos anos. Sem experiência política antes de 2018, o empresário Zema estava na rabeira das intenções de voto naquele ano quando chamou a atenção ao pedir votos a Bolsonaro ao fim de um debate na TV Globo.

Na época, faltavam cinco dias para o primeiro turno e o Novo já tinha um candidato próprio, João Amoêdo. "Aqueles que querem mudança, com certeza, podem votar aí nos candidatos diferentes, que são o Amoêdo e o Bolsonaro", disse na ocasião.

A situação foi vista como um dos principais impulsos para uma virada nas pesquisas. Alçado ao segundo turno, declarou oficialmente apoio a Bolsonaro e adotou o bordão Bolsozema, ainda que não tenha tido apoio explícito do PSL, partido do presidente à época. Venceu com 71,8% dos votos.

Embora tenha sempre recusado a alcunha de aliado, a postura alinhada a Bolsonaro chamou a atenção em diferentes momentos. Em 2020, recusou-se a assinar cartas de governadores que cobravam medidas em relação à crise da Covid e em apoio a presidentes da Câmara e Senado, alvo de embates com o governo federal.

Chegou a dizer à Folha de S.Paulo em 2021 que Bolsonaro poderia ter capitaneado ações contra a Covid, mas que via "certa perseguição a ele".

A pandemia, porém, também foi o momento em que mais foi obrigado a rever suas posições, saindo de falas em que defendeu "deixar o vírus circular", em alinhamento ao que defendia Bolsonaro, a outras em que, em fase mais restritiva, disse que quem saía às ruas e fazia aglomeração poderia "ser tachado de assassino".

No mesmo ano, criticou a defesa de voto impresso e rebateu o presidente quando ele tentou culpar governadores sobre a escalada do preço dos combustíveis. Pouco depois, porém, voltaram a estar próximos em eventos.

Para o cientista político Carlos Ranulfo, a postura de Zema neste ano, embora contraste com 2018, condiz com o cenário que aponta terreno confortável ao governador na disputa.

"O que aconteceu de lá para cá é que Zema ganhou luz própria, tem uma administração considerada boa e não precisa de Bolsonaro para vencer a eleição."

Segundo ele, pesa também nesse cenário o fato de Lula estar à frente em Minas nas intenções de voto à Presidência e de o candidato apoiado por Bolsonaro no estado, Carlos Viana, ainda não ter decolado.

Aliados de Zema também veem no discurso atual uma forma de fazer acenos a bolsonaristas -como ao dizer que não vota no PT- sem nacionalizar totalmente o debate.

Na visão do grupo, o governador também mantém terreno no eleitorado Luzema com o fato de não receber críticas diretas de Lula.

"Não é brigando que a gente resolve os problemas, é com diálogo, com parceria. Foi assim que lidei com o presidente e com o governo federal, e será assim com quem quer que seja eleito presidente", disse Zema em campanha na TV.

Para o deputado estadual Roberto Andrade (Patriota), líder do governo na Assembleia, Zema "virou maior do que o Novo" e "Lula é maior do que o PT", daí um impulso para potenciais votos Luzema.

A atual coligação que apoia o governador também tem partidos que defendem a mesma dobradinha, caso do Avante e Solidariedade.

Já para o deputado estadual Agostinho Patrus (PSD), presidente da Assembleia e coordenador da campanha de Kalil, o fato de o ex-prefeito ainda ser desconhecido no interior como aliado de Lula aponta que é cedo para dar como certo um movimento Luzema.

"Estão tentando voltar a 2006 [quando houve o Lulécio], que era uma disputa diferente da de agora, polarizada e radicalizada", afirma. "O que temos nas nossas pesquisas é que à medida que conhecerem o Kalil, votarão no Kalil."

VIA...NOTÍCIAS AO MINUTO 

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