Desde que a campanha eleitoral teve início, em 16 de agosto, Ciro tem oscilado entre 7% e 9% na pesquisa Datafolha, bem atrás dos líderes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
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(FOLHAPRESS) - Sem conseguir furar a polarização no país, o candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, entra na reta final de sua quarta participação nas eleições com acenos à direita, intensificando os ataques ao PT e com a possibilidade de ser derrotado no Ceará, onde construiu sua base política.
Nas últimas semanas, a campanha adotou um tom mais agressivo em relação ao PT e a Lula, particularmente, e marcou presença em programas voltados à audiência bolsonarista em uma tentativa de furar a bolha de influência do presidente em busca de votos.
Desde que a campanha eleitoral teve início, em 16 de agosto, Ciro tem oscilado entre 7% e 9% na pesquisa Datafolha, bem atrás dos líderes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). A rejeição se manteve no patamar de 24%.
O aceno de Ciro à centro-direita ganhou força após a ofensiva petista pelo voto útil para tentar liquidar a eleição no primeiro turno. O apelo ecoou no mundo artístico e em parte do mundo político, que passou a defender o voto em Lula para evitar o segundo turno. Integrantes do PDT também se declararam dissidentes da campanha por causa do aumento no tom das críticas ao ex-presidente.
Como reação, o pedetista passou a criticar antigos apoiadores, como Caetano Veloso e Tico Santa-Cruz, e lançou um manifesto no qual se diz vítima de intimidação nacional e internacional para retirada de sua candidatura. "Por mais jogo sujo que pratiquem, eles não me intimidarão", disse Ciro, destacando que continua como candidato "para livrar nosso país de um presente covarde e de futuro amedrontador".
Os ataques de Ciro a Lula e ao PT também têm como origem uma disputa no Ceará que pode deixar seu grupo político fora do poder no estado. No PDT, uma ala defendia o nome da atual vice-governadora, Izolda Cela, para enfrentar Capitão Wagner (União Brasil).
Aliados do presidenciável, no entanto, optaram por Roberto Cláudio, que acabou escolhido, criando um racha que levou o PT a romper aliança com o PDT no estado. A última pesquisa Ipec mostrou Elmano de Freitas (PT) com 30%, empatado tecnicamente com Capitão Wagner, que tem 29%. Roberto Cláudio aparece com 22%.
A disputa abalou a relação entre Ciro e os irmãos Cid e Ivo Ferreira Gomes, que nos últimos anos ditaram os rumos políticos no estado. "Eu dei minha vida ao povo cearense e algumas lideranças, todas que ajudei a formar, se reuniram e meteram a faca nas minhas costas", disse Ciro Gomes em entrevista ao Flow Podcast, na segunda-feira (26).
"O Ciro corre o risco de sair dessa eleição sem o governo do Ceará, inclusive", diz Marco Antonio Teixeira, cientista político da FGV. "A incapacidade política dele está refletida no próprio estado que ele governou. Ele conseguiu rachar a própria família. Eu vejo, hoje, o Ciro num processo de isolamento que é muito difícil de ele se reconstituir."
O especialista avalia que a agressividade de Ciro contra Lula e o PT ficou evidente na leitura do manifesto. "Ele critica toda trajetória do governo Lula sem lembrar que ele foi ministro, que ele fez parte desse governo também."
Na avaliação de Teixeira, a narrativa que o candidato construiu até agora inviabiliza apoio a Lula ou Bolsonaro em um eventual segundo turno. "Vai ser muito mais fácil o PDT fechar apoio no segundo turno do que o Ciro subir num palanque", ressalta. "Ele passou tanto do ponto que as coisas se complicaram do ponto de vista de ele funcionar como político protagonista no segundo turno."
A concentração de ataques a Lula também foi acompanhada de acenos à direita. No início de setembro, Ciro deu entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, emissora considerada a voz do bolsonarismo, onde declarou que "Lula tinha filho ladrão e Bolsonaro tem filho respondendo por coisas de corrupção".
A fala foi alvo de ação na Justiça por parte da família do ex-presidente. Cerca de dez dias antes o candidato foi sabatinado por apresentadores da Jovem Pan na TV.
No fim de setembro, concedeu entrevista de duas horas ao programa do podcaster e youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, desligado do Flow após defender o direito de existência de um partido nazista.
A estratégia de usar as críticas a Lula na tentativa de dialogar com os apoiadores de Bolsonaro foi desenhada pelo marqueteiro João Santana desde o início da campanha. A princípio, a tática tinha como foco os vídeos de Ciro atacando o petista postados no YouTube.
A ideia surgiu após Ciro ter virado munição bolsonarista nas redes sociais com a repercussão do bate boca com o comediante Gregorio Duvivier. O então pré-candidato à presidência se referiu a Lula como um "ignorante corrupto" o que causou reação de Duvivier. "Eu acho errado chamar o Lula de corrupto exatamente porque ele foi inocentado", disse o humorista.
No mesmo vídeo, Ciro rebateu argumento de que Lula foi inocentado das acusações de corrupção no STF (Supremo Tribunal Federal). "Ele não foi inocentado, é mentira do PT. Lula teve os processos anulados. Ele volta à presunção de inocência, mas ele não foi inocentado." A declaração o tornou alvo de uma enxurrada de críticas de personalidades ligadas à esquerda.
Em vídeo postado nas redes sociais de Ciro no último domingo, Duvivier foi equiparado a Adrilles Jorge (PTB), comentarista da Joven Pan denunciado por fazer um gesto considerado nazista. O vídeo gerou bastante controvérsia, principalmente por ter adotado a estética vaporwave, de um futurismo retrô com influência da década de 1980 e que foi apropriada pela nova direita.
A gravação gira principalmente em torno dos luloplanistas, descritos como "aficcionados por toalhas" que passam pano e idolatram corruptos. "E têm o péssimo hábito de chamar de fascistas todos aqueles que não baixam a cabeça para o líder da seita", diz um narrador.
Os ataques constantes a Lula deflagraram, recentemente, uma debandada de apoiadores e integrantes do próprio PDT que declararam voto no ex-presidente. Segundo dissidentes da campanha de Ciro ouvidos pela reportagem, a estratégia, na prática, se converte em apoio ao presidente Bolsonaro.
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