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terça-feira, 29 de novembro de 2022

É só chegar que vamos envasar, diz o Butantan sobre Coronavac contra ômicron

"Nossa parceria com a Sinovac prevê a transferência de formulação e envase. A Coronavac atualizada eles já têm, é só chegar [o IFA], fazer o envase e aí tem a parte regulatória", disse Ricardo Oliveira

© Getty Images

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vacina Coronavac atualizada contra a variante ômicron já está disponível e em uso na China. Por aqui, porém, o imunizante aplicado em pessoas com 3 anos ou mais ainda é a formulação antiga, feita com a cepa do coronavírus de Wuhan.

Segundo o diretor de produção de vacinas do Instituto Butantan, Ricardo Oliveira, para começar a aplicação da vacina bivalente "é só chegar" a nova fórmula.

"É só chegar [que temos capacidade de envasar]. É claro que depende do governo federal, do Ministério da Saúde, e do PNI [Programa Nacional de Imunizações] de ter interesse em incorporar a vacina", disse Oliveira, em evento para jornalistas na manhã desta terça-feira (29) na sede do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo.

O governo federal, por meio da pasta da Saúde, fez um acordo com o Butantan para a compra de 100 milhões de doses em 2021. Depois, em 2022, o governo fez uma compra adicional de 10 milhões de doses pediátricas, porém não houve renovação de contrato para a inclusão de doses atualizadas.

Várias capitais suspenderam a vacinação de crianças de 3 e 4 anos por falta de doses da Coronavac na última semana.

A vacina atualizada contra a ômicron da Pfizer foi aprovada pela Anvisa na última terça-feira (22), e as primeiras doses devem ser entregues nas próximas semanas. No Brasil, não há ainda a aplicação de imunizantes bivalentes como reforço, já em uso em mais de 30 países incluindo EUA, Chile e Canadá desde o primeiro semestre deste ano.

"Nossa parceria com a Sinovac prevê a transferência de formulação e envase. A Coronavac atualizada eles já têm, é só chegar [o IFA], fazer o envase e aí tem a parte regulatória. Temos que ver com a Anvisa o que eles irão exigir de estudos, o que é normal, mas tudo isso é uma engrenagem que está travada. Vamos seguir com qual vacina no Brasil?", questionou.

Segundo ele, seria importante uma decisão do governo federal para definir qual a estratégia a ser adotada daqui para frente. "A gente não consegue ter um planejamento a longo prazo. E uma vacina que precisamos produzir cem milhões de doses precisa ter um planejamento, e isso a gente não tem. Esperamos que agora com a mudança de governo e de ministério isso mude", completou.

De acordo com a Sinovac, a vacina Coronavac atualizada com a ômicron está em fase 2 de estudos clínicos com voluntários no Chile. A ideia é testar a fórmula como um reforço em 826 adultos já vacinados inclusive com dois reforços (de Pfizer ou de Coronavac) para avaliar a produção de anticorpos contra as novas formas do vírus em circulação.

Resultados preliminares completados na China com pseudovírus modificados (pequenas moléculas que imitam partes do vírus para gerar resposta imune) apontaram para uma boa capacidade de neutralização da ômicron.

Diversos estudos já apontaram como a formulação tradicional da Coronavac, inclusive uma terceira dose do imunizante, possuem uma menor eficácia contra a ômicron e suas subvariantes.

Estudo feito a partir de observação em vida real das vacinas aplicadas no Brasil mostrou que o reforço heterólogo (ou seja, com um imunizante diferente do aplicado inicialmente) é sete vezes mais eficaz do que um reforço homólogo (quando o mesmo imunizante é usado em todas as fases) da Coronavac contra ômicron.

Outros estudos indicam, ainda, que uma 5ª dose (ou o terceiro reforço) pode gerar níveis de anticorpos neutralizantes mais altos do que aquele observado pré-reforço. Isso é especialmente importante em um contexto de maior circulação do vírus, como a nova onda de Covid observada nas últimas semanas.

Além das pesquisas da Coronavac contra ômicron, a Sinovac busca duas novas formulações de sua vacina inativada, uma trivalente, que apresentaria duas variantes da ômicron além da cepa ancestral de Wuhan, e uma formulação recombinante, produzida com a inserção da proteína S (ou espícula, gancho molecular usado pelo coronavírus para entrar nas células) da ômicron na cepa ancestral, gerando assim uma resposta mais potente.

Por aqui, o Butantan aposta ainda na vacina Butanvac como uma estratégia de reforço. Atualmente no final da fase 1, a vacina já recebeu autorização para início da fase 2 em indivíduos vacinados com reforço que tenham recebido qualquer um dos imunizantes em uso no Brasil como esquema primário (Coronavac, Pfizer, AstraZeneca ou Janssen).

A vacina, que havia sido anunciada pelo ex-governador João Doria como a primeira vacina 100% brasileira, tem tecnologia produzida no Hospital Mount Sinai, de Nova York, e é uma parceria para produzir e testar o imunizante em três países: Brasil, México e Tailândia.

Resultados iniciais da vacina mostraram uma boa produção de anticorpos em indivíduos vacinados, segundo estudo feito na Tailândia.

Até o momento, o Butantan não divulgou os resultados preliminares do estudo de fase 1 conduzido no país. Alguns percalços fizeram com que os estudos clínicos atrasassem.

Para Oliveira, se fosse pensar em uma "aposta" para o futuro do instituto, a Butanvac seria a melhor opção, por ser produzida a partir de ovos embrionados, tecnologia já dominada pelo instituto para a fabricação do imunizante contra gripe.

"A Butanvac atrasou justamente porque a dinâmica da pandemia mudou, a vacinação avançou e tivemos dificuldades em encontrar voluntários não vacinados. Tivemos que mudar o ensaio clínico junto à Anvisa. Agora, ela não é mais uma vacina de primeira imunização, mas sim uma proposta como reforço", disse.

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