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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Extremista mata 3 pessoas no Paquistão por associar vacinação à espionagem

O episódio foi reivindicado por uma organização ligada ao Talibã

@Shutterstock

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao menos três pessoas morreram e 30 ficaram feridas, nesta quarta-feira (30), após um ataque terrorista contra a escolta policial de uma equipe de vacinação de poliomielite no sudoeste do Paquistão. O episódio foi reivindicado por uma organização ligada ao Talibã, grupo fundamentalista islâmico que governa o Afeganistão.

Segundo autoridades paquistanesas, um homem-bomba jogou seu veículo contra o caminhão da polícia perto da cidade de Quetta, capital da província do Baluchistão. Após a explosão, o veículo ainda teria caído em um barranco. Entre as vítimas está um policial, uma mulher e uma criança, e alguns dos feridos estão em estado crítico, disse um policial à agência de notícias Reuters.

Militantes islâmicos no Paquistão frequentemente visam equipes de vacinação contra a poliomielite. Os grupos alegam que a campanha imunização é uma ferramenta ocidental para espioná-los e tornar as crianças muçulmanas inférteis. Outras teorias afirmam que as vacinas contêm gordura de porco e, portanto, são proibidas para os muçulmanos.

Pesa também contra as campanhas de vacinação no país uma operação de 2011 da CIA, a agência americana de inteligência. Na ocasião, o governo americano organizou um falso programa de vacinação na cidade onde acreditava que Osama bin Laden estava escondido. A ação tinha o objetivo de obter o DNA da família do terrorista.

À época, os americanos recrutaram um médico paquistanês, que organizou a campanha em um das regiões mais pobres da cidade de Abbottabad. No mesmo ano, os EUA conseguiram encontrar o esconderijo de bin Laden e o mataram. Já o profissional de saúde foi preso pela agência de inteligência paquistanesa.

De acordo com a imprensa local, mais de 70 vacinadores contra a poliomielite foram assassinados desde 2012 no país, em particular na província de Khyber Pakhtunkhwa, onde o Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP) tem forte presença.

A atual campanha de vacinação no país asiático começou na última segunda (28) e tem o objetivo de vacinar mais de 13 milhões de crianças contra a poliomielite. Em abril, o Paquistão registrou o primeiro caso da doença em 15 meses e, desde então, foram detectados 20 novos casos. Muito contagiosa, a poliomielite é provocada por um vírus que ataca o sistema nervoso e pode causar paralisia irreversível.

O primeiro-ministro do país, Shehbaz Sharif, condenou o ataque e disse que seu governo continuará com a campanha de vacinação.

Ainda na segunda, o TTP suspendeu um acordo instável de cessar-fogo estabelecido com o governo em junho e ordenou a seus combatentes que retomassem os ataques em todo o país. O atentado desta quarta foi executado, segundo os extremistas, para "vingar a morte" de um alto comandante e fundador do grupo que morreu em agosto.

Paralelamente, o Exército paquistanês disse ter matado dez terroristas no Baluchistão na terça (29), mas não deu detalhes sobre a operação e nem sobre a que grupo os milicianos pertenciam.

Embora o Paquistão tenha mantido relações com o Talibã afegão durante a longa insurgência para expulsar as forças ocidentais do Afeganistão, o país combate o TTP em suas próprias fronteiras há anos. O grupo extremista quer derrubar o governo do Paquistão para substituí-lo por um sistema com sua própria interpretação das leis islâmicas, aos moldes do que acontece em Cabul.

Desde que o Talibã afegão voltou ao poder, aliás, o TTP intensificou suas ações no Paquistão. Segundo o Instituto Pak de Estudos para a Paz, os ataques aumentaram 50% desde então e mataram 433 pessoas. Em menos de uma década, a organização matou dezenas de milhares de civis paquistaneses e policiais.

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