O entendimento nesses grupos é que ações sobre a fiscalização do processo eleitoral devem vir apenas das Forças Armadas, o que é contra a Constituição
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ofensiva de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, pela anulação de parte de votos do segundo turno da eleição não agradou parte da militância bolsonarista.
Entre os mais radicais, que estão em grupos de conversa convocando para os quartéis, a leitura é que Valdemar jamais poderia ter deixado uma decisão final para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), considerado por eles um inimigo de Jair Bolsonaro (PL).
O entendimento nesses grupos é que ações sobre a fiscalização do processo eleitoral devem vir apenas das Forças Armadas.
Mesmo que o Ministério da Defesa emita notas dúbias em relação à suposta fraude defendida por apoiadores do presidente, não há nenhum aceno ou possibilidade de se unirem aos grupos golpistas acampados em frente aos quartéis.
Bolsonaristas criticam um trecho da entrevista que Valdemar concedeu à imprensa ao entrar com a representação no TSE. "Como vamos conviver com o fantasma da eleição de 2022? Temos que solucionar isso e pedimos ao Tribunal Superior Eleitoral que decida a questão", disse na terça-feira (23).
Eu um áudio compartilhado nesses grupos, que já integram a fatia mais radical dos eleitores de Bolsonaro, um militante diz que o único processo válido que levaria a uma suposta vitória é o que segue o rito constitucional definido pelas Forças Armadas e que a interferência política do PL é inapropriada e cheira à tentativa de desestabilizar o procedimento articulado pelas ruas.
Essa leitura é partilhada por muitos militantes em diversos grupos com ideias antidemocráticas acompanhados pela reportagem.
Há o entendimento de que o PL deu poder ao TSE, que a população nas ruas estaria caminhando para um suposto desfecho com apoio das Forças Armadas e que esse relatório vai contra a estratégia da militância acampada, que cobra a divulgação do código-fonte das urnas.
Desde a derrota de Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bolsonaristas estão acampados em frente a quartéis e alguns participam de bloqueios e protestos em rodovias, onde a violência escalou nos últimos dias.
Nos dias 2 e 15 de novembro, eleitores se uniram aos acampados em protestos contra a vitória de Lula, pedindo intervenção golpista das Forças Armadas.
Um membro de um dos grupos da autointitulada "resistência civil" disse que o mais importante para o movimento é a apresentação do código-fonte, que seria capaz de comprovar a suposta fraude e complicar a vida dos ministros da corte eleitoral e do STF (Supremo Tribunal Federal).
O Ministério da Defesa, entretanto, não pediu acesso ao código-fonte em seu relatório pós-eleição. Uma das críticas da pasta foi não ter acesso a todos os arquivos que solicitou.
A narrativa de que seria preciso acessar o código foi insuflada por bolsonaristas como a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e tem sido usada como discurso nos atos golpistas. Eles são contrários à anulação da eleição e defendem que haja pressão para que se comprove a tal fraude a partir do que já foi apresentado pelas Forças Armadas.
Esse discurso nos grupos destoa dos de parlamentares mais vocais do bolsonarismo, que endossam a representação do PL e têm manifestado publicamente que abririam mão de seus mandatos pelo que chamam de "eleição limpa".
"Queremos transparência nas eleições, mesmo que isso custe mandatos dos já eleitos. É uma nação que está em jogo", escreveu o senador Magno Malta (PL-ES) em uma rede social.
O mesmo foi publicado pelo deputado Filipe Barros (PL-PR), que acrescentou: "Não há democracia sem transparência".
Outros deputados publicaram o mesmo, bem como um perfil de apoio a Nikolas Ferreira (PL-MG), que está com a conta bloqueada no Twitter.
Há também, nos grupos bolsonaristas, quem defenda que a ação do PL possui um plano B e que é melhor ter apoio do presidente do PL na causa de deslegitimar o resultado da eleição.
Na noite de quarta (23), o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, negou a ação do partido que visava invalidar votos em parte das urnas no segundo turno e condenou a coligação de Bolsonaro, formada por PL, PP e Republicanos, ao pagamento de multa de quase R$ 23 milhões por litigância de má-fé.
Moraes ainda determinou o bloqueio dos fundos partidários das três legendas até o pagamento da penalidade imposta.
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