No começo da tarde, ele decolou para os Estados Unidos para passar a virada do ano. Bolsonaro decidiu desprezar o rito democrático e não passará a faixa para Lula.
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MATHEUS TEIXEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma live de despedida do cargo na manhã desta sexta-feira (30), na qual condenou a tentativa de um ato terrorista em Brasília, criticou a montagem do governo Lula (PT), repetiu o discurso de perseguido, ensaiou uma fala como líder da oposição e defendeu os atos antidemocráticos de seus apoiadores pelo país.
No começo da tarde, ele decolou para os Estados Unidos para passar a virada do ano. Bolsonaro decidiu desprezar o rito democrático e não passará a faixa para Lula.
"É um governo que começa capenga", disse Bolsonaro na live, sobre a gestão petista que se inicia neste domingo (1º). O presidente ainda ensaiou um discurso de oposição ao governo Lula, o que vinha evitando em sua reclusão após a derrota de outubro.
"Não tem tudo ou nada. Inteligência. Vamos mostrar que somos diferentes." Ainda sobre o Lula 3, disse que "nada está perdido" e que o "Brasil não vai se acabar nesse 1º de janeiro". "O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês", afirmou o presidente. "Perde-se batalha, mas não perderemos a guerra."
Na live, Bolsonaro não chegou a mencionar sua viagem ao exterior, mas embarcou horas depois em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). Também nesta sexta, o governo publicou uma autorização para que assessores o acompanhem na ida para Miami de 1 a 30 de janeiro. Foram autorizados a viajar com ele 4 dos 8 nomes que foram nomeados para serem assessores de Bolsonaro após ele deixar o governo.
Ao falar dos limites de sua caneta, Bolsonaro ficou com os olhos marejados na live que durou quase uma hora. Disse ter feito o possível pela reeleição, criticou os nomes indicados para o ministério de Lula e repetiu o discurso de que teria sido perseguido por imprensa e Judiciário ao longo de seus quatro anos de mandato.
No mesmo pronunciamento, Bolsonaro mais uma vez criticou a Justiça Eleitoral, dizendo que a eleição não foi imparcial, em novo ataque ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sob o comando de Alexandre de Moraes. "Não vamos duvidar das urnas aqui", disse em seguida, ao oscilar o tom da crítica.
O presidente disse que não quis se envolver nos atos antidemocráticos em frente aos quartéis, aos quais chamou de pacíficos. Os atos, porém, pedem um golpe militar e escalam em casos de violência pelo país. Eles têm sido atiçados pelo próprio Bolsonaro desde a derrota para Lula no segundo turno das eleições.
Segundo Bolsonaro, esses atos foram espontâneos e não serão perdidos com o tempo. As pessoas que estão ali e pedem golpe militar, segundo o presidente, estão em busca da liberdade e da democracia.
"Nada justifica aqui em Brasília essa tentativa de ato terrorista no aeroporto de Brasília. Nada justifica. Um elemento que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com nenhum cidadão. Agora massifica em cima do cara como bolsonarista o tempo todo. É a maneira da imprensa tratar", disse, em referência ao bolsonarista preso após planejar um atentado com um caminhão de combustível.
Essa escalada da violência nos atos liderados por bolsonaristas fez desmoronar o discurso público do presidente e de seus aliados, que destacavam as manifestações como ordeiras e pacíficas e buscavam associar protestos violentos a grupos de esquerda.
Com casos de violência que incluem agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio, as manifestações atingiram seu ponto crítico e acenderam o alerta das autoridades, que realizaram prisões e investigam até possível crime de terrorismo.
Na mesma live desta sexta, o presidente admitiu que negociou cargos com deputados e senadores para consolidar maioria no Congresso, mas disse que isso só ocorreu no segundo escalão e que definiu seus ministros por critérios técnicos, o que não é verdade.
Ele afirmou que "é um momento de reflexão" e que "não é momento de procurar responsáveis pelo que está acontecendo".
"Não é caso de ficar atacando pessoas, instituições. Quando a situação está difícil, tem que buscar apoio, ajuda, trazer gente para nosso lado, prepará-las para momentos difíceis", afirmou.
Bolsonaro também criticou Lula, falou para as pessoas compararem os ministros de seu governo "com os indicados pelo opositor" e que procurou uma solução para evitar a posse do petista.
"Eu busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, respeitando a Constituição saída para isso aí. Se tinha alternativa para isso, se podia questionar ou não alguma coisa, tudo dentro das quatro linhas", disse.
"Como foi difícil ficar dois meses calado trabalhando para buscar alternativas. Qualquer coisa que falasse seria um escândalo na imprensa. Eu quieto sou atacado. Mas vamos lá."
Bolsonaro lamentou o que chamou de "censura à liberdade de expressão" em relação às fake news que disseminou sobre a vacina da Covid.
Afirmou que o país e a mídia criticavam o que era dito sobre Covid por parte de médicos e por ele, se referindo ao processo da Polícia Federal que imputou crimes ao presidente por dizer que as vacinas contra Covid causavam a infecção por HIV.
A informação constava em live do dia 21 de outubro de 2021, quando, segundo relatório da PF, o mandatário fez disseminação "consciente, de forma direta e voluntária" de desinformação produzida por seu ajudante de ordens, Mauro Cesar Barbosa Cid. O vídeo foi derrubado pelo Facebook e pelo YouTube.
O mandatário fez poucos pronunciamentos desde que perdeu as eleições.
O primeiro deles foi dois dias após o pleito, quando deu declaração à imprensa em que criticou bloqueios nas estradas por seus aliados, mas falou que as manifestações eram fruto de sentimento de indignação e injustiça com a eleição na qual foi derrotado pelo petista.
No dia seguinte, divulgou um vídeo em que pediu para sua militância liberar as rodovias.
Após a derrota, o presidente verborrágico que não hesitava em comprar brigas e comentar os principais acontecimentos do noticiário deu lugar a um Bolsonaro recluso e de poucas palavras após a derrota.
A posse de Lula ocorrerá no próximo domingo. É praxe que o presidente que deixa o poder passe para o sucessor a faixa presidencial. Bolsonaro, porém, já vinha falando a interlocutores desde que perdeu as eleições que não pretendia cumprir o rito democrático.
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