Bolsonaro começou a ser julgado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quinta-feira (22) e pode ficar impedido de concorrer por oito anos se a corte condená-lo por abuso de poder político no caso da reunião com embaixadores em que enfileirou mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.
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JOELMIR TAVARES E CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A possível inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cria uma chance de ouro para a reorganização da oposição para a eleição de 2026, embora ainda não esteja claro quem vai liderar o segmento no embate com o grupo do presidente Lula (PT), dizem envolvidos nas articulações.
Bolsonaro começou a ser julgado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quinta-feira (22) e pode ficar impedido de concorrer por oito anos se a corte condená-lo por abuso de poder político no caso da reunião com embaixadores em que enfileirou mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.
O julgamento será retomado nesta terça-feira (27), com os votos dos ministros do TSE.
As conversas de bastidores entre dirigentes de partidos, políticos e estrategistas convergem para uma aglutinação de setores da direita que não abrirá mão do apoio de Bolsonaro, mas buscará chegar ao poder com uma posição mais moderada e pragmática, explorando o antipetismo.
Três governadores –Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Eduardo Leite (PSDB-RS)– são citados como nomes fortes, mas nenhum desponta como substituto automático de Bolsonaro, por diferentes razões. O papel que o ex-mandatário assumirá também é uma incógnita.
A bolsa de apostas inclui ainda o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Para porta-vozes dos campos conservador e liberal, a ausência dele no próximo pleito pode abrir condições para uma chapa que vá para a briga sem a sombra de Bolsonaro e suas posições radicalizadas.
O sucesso dependeria, contudo, de estruturar uma agenda mínima de propostas, que demarque diferenças com a esquerda na esfera econômica e deixe em segundo plano a agenda de costumes. A ideia é promover uma espécie de antipetismo qualificado, para evitar o risco de esvaziar o discurso.
As fontes ouvidas pela reportagem ponderam que a construção de um novo líder dependerá ainda de quais partidos e políticos sairão fortalecidos das eleições municipais de 2024 e da situação econômica do país sob Lula daqui a três anos. A avaliação comum é que será preciso unir esforços.
Tarcísio e Zema são citados no contexto de personagens que dialogam com o bolsonarismo e ao mesmo tempo têm uma atuação mais técnica e menos atrelada a confrontos.
Eles poderiam capitanear a direita que ascendeu com Bolsonaro, mas enfatizando o liberalismo econômico e acenando à parcela conservadora da população por meio de valores compartilhados, como família e religião.
Nesse sentido, a aposta é a de que nomes alternativos a Bolsonaro podem alcançar mais eleitores, como os de centro-direita –a exemplo do que ocorreu com Tarcísio, que conquistou o voto tucano. A tendência é a de que presidenciáveis sejam testados até 2026 para que a direita se agrupe em torno do mais viável.
De qualquer forma, aliados do ex-presidente não subestimam sua capacidade eleitoral mesmo se estiver impedido legalmente de concorrer. Dizer que ele será mais útil como cabo eleitoral do que como candidato se tornou quase um clichê.
Entre interlocutores de Bolsonaro, Tarcísio, que foi seu ministro e se mantém como aliado, é visto como sucessor natural –mas a estratégia do ex-presidente será a de evitar apontar um nome alternativo para se manter na cena política enquanto aposta em recursos judiciais, como mostrou a Folha.
O governador de São Paulo dá demonstrações de que deve tentar a reeleição em 2026 em vez de mirar o Planalto. Aliados de ambos consideram, porém, que Tarcísio não terá espaço para recusar a candidatura se ela for um pedido do ex-presidente.
Um ex-ministro de Bolsonaro, falando sob condição de anonimato, descreveu Tarcísio como o preferido da classe política que caminhou com o bolsonarismo, por ser mais conciliador e menos afeito a confrontos.
Deputados bolsonaristas afirmam que Zema é um nome expressivo, mas com menor capilaridade, e que daria um bom vice. Um ex-candidato à Presidência empenhado nas tratativas diz que qualquer um dos governadores que quiser se cacifar para a corrida ao Planalto precisa explorar pautas nacionais.
Ratinho, Leite e Tereza Cristina são vistos como mais fracos politicamente. A candidatura de Michelle, por sua vez, é praticamente descartada –não seria um consenso na família Bolsonaro. A hipótese mais provável é que ela concorra a uma vaga no Senado.
No caso da ex-ministra da Agricultura, seu nome não é considerado hoje nem pelo presidente de seu partido, o PP. Ciro Nogueira (PI) disse em recente entrevista à Folha que "política tem fila" e que, em sua opinião, Tarcísio é o primeiro e Zema, o segundo, "por causa do tamanho dos seus estados".
O próprio ex-presidente apontou em março, ao ser questionado sobre alternativas para 2026, um vácuo de lideranças nacionais no país. "Tem um bom governador em Minas, tem um bom em São Paulo, tem alguns bons pelo Brasil também, alguns bons senadores, mas [eles] não têm a vivência nacional."
Na última terça-feira (21), em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro evitou apontar um sucessor. "Eu não considero essa possibilidade [de ficar inelegível], simplesmente isso." Ele se proclamou representante da centro-direita no Brasil e disse que "tem boas lideranças surgindo", mas nenhuma madura para 2026.
Tarcísio e Zema repetem o discurso de que sua prioridade é o governo do estado, até porque a viabilidade de uma eventual candidatura presidencial depende de uma vitrine de medidas e de aprovação.
Entre integrantes do partido Novo, legenda hoje mais aberta a alianças com outras siglas, o entendimento é o de que não há chance para um nome da oposição se não houver unidade. O entorno do mineiro diz que ele trabalhará pela formação de consensos amplos.
Para seus aliados, a ausência de Bolsonaro no pleito nacional abre espaço para conversas entre presidenciáveis e partidos da direita e do centro.
O esforço seria o de agregar ao centro, nanico eleitoral em 2022 com o malogro da terceira via, os votos da direita bolsonarista, criando uma onda favorável para a oposição.
No caso de Leite, que hoje também preside o PSDB e busca recolocar a legenda como ator relevante da oposição, a resposta sobre concorrer ao Planalto em 2026 vai na linha de que a candidatura é uma aspiração, mas não um projeto pessoal, e que a prioridade é construir uma força de centro.
"Se o meu nome ajudar a aglutinar, perfeito. Mas, se não for, não tem problema, vamos ajudar outra pessoa que possa capitanear esse projeto", disse à Folha em fevereiro. Em abril, num evento em Porto Alegre, ele afirmou que não contribuirá para divisão. "Quero estar junto com Zema, quero estar junto com Tarcísio."
Apesar das declarações, aliados tucanos afirmam que Leite dificilmente integraria um projeto presidencial conjunto que tivesse o apoio explícito de Bolsonaro e congregasse a direita radical. O governador tem pregado a necessidade de um projeto que ofereça uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula.
Observadores admitem, contudo, que o papel dos governadores que miram a corrida presidencial é ingrato, já que precisam amenizar as críticas por dependerem de trânsito com o governo federal.
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