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sábado, 27 de julho de 2024

Bolsonaro amplia afastamento de aliados de 2018 e impõe candidato de olho em 2026

A crise aprofunda o afastamento do ex-presidente da geração de governadores que se elegeu com ele em 2018, ancorada no discurso de "nova política" que impulsionou quadros da direita.

Valter Campanato/Agência Brasil

JOÃO PEDRO PITOMBO E ROSIENE CARVALHO
SALVADOR, BA, E MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou em rota de colisão com o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), em um movimento que o afasta de um de seus principais aliados na região Norte e deve deixar fissuras na consolidação de palanques para as eleições de 2026.

 

A crise aprofunda o afastamento do ex-presidente da geração de governadores que se elegeu com ele em 2018, ancorada no discurso de "nova política" que impulsionou quadros da direita.

Nesta eleição municipal, Bolsonaro busca se aproximar de caciques da política tradicional, firmando alianças em capitais como São Paulo, Salvador e Curitiba. Ao mesmo, insiste em candidatos próprios de olho na sua prioridade para 2026: eleger uma ampla bancada para o Senado. Manaus está nesse segundo grupo.

Bolsonaro e Wilson Lima selaram no início do ano um acordo para lançar um candidato único para a Prefeitura de Manaus, o que repetiria a dobradinha de sucesso que fizeram em 2018 e 2022. O PL, porém, deve ter candidato próprio, que é também potencial candidato bolsonarista ao Senado em 2026

Caso o afastamento entre Wilson Lima e Bolsonaro se concretize, será mais um aliado da geração de 2018 que tomará um rumo distinto ao do ex-presidente. Entre 2019 e 2022, quando era presidente, Bolsonaro rompeu com os governadores João Doria (SP), Wilson Witzel (RJ) e Carlos Moisés (SC). Os três atualmente não ocupam cargos eletivos.

O ex-presidente também tem uma relação tensa com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e deve ficar em palanque oposto ao dos governadores de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), e Roraima, Antônio Denarium (PP), ambos eleitos pelo mesmo partido de Bolsonaro em 2018, o PSL.

Já na corrida pela Prefeitura de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, com aval e participação direta do ex-presidente, o PL se aliou ao PSDB no estado e implodiu a aliança com o PP patrocinada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS) na capital, em disputa que abalou a relação de três ex-ministros de seu governo.

Na pré-campanha em Manaus, o PL lançou o deputado federal Capitão Alberto Neto, enquanto o União Brasil apostou as fichas no deputado estadual Roberto Cidade, presidente da Assembleia Legislativa. A definição do candidato aconteceria na última quinzena de junho, mas nenhum dos lados quis ceder.
Na semana passada, Bolsonaro e Wilson Lima tiveram uma última reunião em Brasília. O governador chegou acompanhado do presidente estadual do PL, Alfredo Nascimento, nome próximo a Valdemar Costa Neto.

Apresentou pesquisas eleitorais ao ex-presidente e reiterou a candidatura de Roberto Cidade, que conseguiu, com o apoio do governo, um arco de alianças que vai do PP ao PSB.

Capitão Alberto Neto, por sua vez, decidiu peitar o governador e conquistou nesta semana o apoio da empresária Maria do Carmo Seffair (Novo), que deve ocupar o posto de vice na chapa. Ela é cunhada do deputado federal Átila Lins (PSD) e se lançou na política com discurso bolsonarista.

A aliança foi costurada em uma reunião em Brasília com Valdemar e teve o aval de Bolsonaro.

No mesmo dia, o ex-presidente presenteou o empresário Wellington Lins, marido de Maria do Carmo, com a medalha "dos três is", com as expressões "imbrochável, imorrível e incomível".

Em vídeo ao lado de Alberto Neto e Maria do Carmo, Bolsonaro classificou Manaus como uma cidade importante para marcar sua posição na região amazônica: "Tenho certeza que com essa dupla nós todos temos a ganhar. Não é o município de Manaus, é o Brasil como um todo", afirmou.

Com o acirramento das tensões, os indicados de Alberto Neto no governo foram exonerados por Wilson Lima –dentre eles, a esposa do pré-candidato do PL, cabo da Polícia Militar que ocupava um cargo na Casa Militar e voltou a atuar no policiamento ostensivo.

Procurado, o governador disse à Folha que não há rompimento com o Bolsonaro e que o "projeto da direita para 2026 é muito maior", minimizando a disputa local. Também não descartou uma possível composição até 5 de agosto, data final das convenções.

A eleição em Manaus caminha para cenário fragmentado. Além de Alberto Neto e Roberto Cidade, concorrem o prefeito David Almeida (Avante), o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) e o ex-deputado Marcelo Ramos (PT).

Evangélico e eleitor declarado de Bolsonaro, o prefeito não conseguiu o apoio do ex-presidente. Para evitar o isolamento, aproximou-se dos senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), que atraíram recursos do governo Lula (PT) para a máquina municipal.

Dentro do PL, a avaliação é que a candidatura de Alberto Neto é viável e pode ser impulsionada pelo viés bolsonarista do eleitorado de Manaus. Em 2022, Lula venceu Bolsonaro no Amazonas, mas o cenário foi inverso na capital, onde o ex-presidente teve 61% dos votos no segundo turno.

Mesmo que não saia vitorioso, a campanha serviria para posicionar Alberto Neto como potencial candidato ao Senado em 2026, mesma pretensão de Wilson Lima, que encerrará seu segundo mandato. Serão duas vagas por estado em disputa.

O desenho isolaria um dos aliados mais próximos a Bolsonaro no Amazonas: o Coronel Menezes, que trocou o PL pelo PP, vai apoiar Roberto Cidade e lamenta a divisão da direita no Amazonas.

"A relação do presidente Bolsonaro com o governador sempre foi cordial, mas não tem como prever o futuro. Houve rompimento completo do deputado Alberto com o governador, a direita está dividida", afirma.

Sem uma base aliada estável, o governador depende da Assembleia para garantir a coesão do seu grupo político e de seus planos eleitorais e Roberto Cidade, já reeleito para a presidência da Casa para o biênio 2025-2026, é figura central nessa equação.

Sem uma carreira política pregressa, Wilson Lima era apresentador de televisão quando se elegeu governador, em 2018, pelo PSC. Na pandemia, foi acossado por um pedido de impeachment sob acusação de improbidade. A crise política se estendeu por meses, mas o afastamento foi travado pela Assembleia.

No ano seguinte, Roberto Cidade chegou à presidência do Legislativo à revelia de Lima, mas com o tempo se tornou homem de confiança do governador.

Os negócios da família do deputado também prosperaram no período. Dados do site Transparência do Governo do Amazonas apontam que duas empresas de familiares do deputado receberam mais de R$ 255 milhões na gestão Lima. O deputado afirmou em entrevistas que os contratos foram firmados dentro da legalidade.

VIA… NOTÍCIAS AO MINUTO      

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