A situação na Helvétia tem sido relatada por moradores de prédios vizinhos, que estão preocupados com o possível retorno da aglomeração naquele espaço. Faz pouco mais de dois anos que a cracolândia deixou a região e se espalhou por outros pontos do centro paulistano
(FOLHAPRESS) - Usuários de drogas que vivem no centro de São Paulo tem retornado aos poucos para o trecho da rua Helvétia entre as alamedas Cleveland, Dino Bueno e Barão de Piracicaba -ponto onde funcionou por duas décadas a cracolândia.
Ao mesmo tempo, a presença de grupos de dependentes químicos também tem aumentado em outros trechos da região, especialmente próximos da avenida 23 de Maio.
A situação na Helvétia tem sido relatada por moradores de prédios vizinhos, que estão preocupados com o possível retorno da aglomeração naquele espaço. Faz pouco mais de dois anos que a cracolândia deixou a região e se espalhou por outros pontos do centro paulistano.
Pessoas que moram nos condomínios disseram à reportagem que os dependentes químicos começaram a chegar aos poucos há cerca de um mês. Num primeiro momento uma barraca, depois, outra. Agora, cerca de 30 pessoas passam o dia e a noite ali.
A reportagem esteve no local na tarde de quarta-feira (4) e viu um grupo ocupando toda a calçada do lado direito da Helvétia, entre as alamedas Cleveland e Dino Bueno. Alguns deles tinham cachimbos nas mãos (instrumento usado para consumir o crack), enquanto outros dormiam ao lado de barracas. Naquele trecho há uma unidade do programa Recomeço, que atende dependentes químicos.
Procurada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que o monitoramento realizado por drones não identificou uso de drogas no local, e que o crack atualmente é consumido apenas em outro ponto, na rua dos Protestantes.
Já o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou ter ampliado as ações e implementado políticas públicas integradas voltadas à requalificação da região, com atividades de zeladoria, saúde, assistência social e segurança pública.
As pessoas ouvidas pela reportam, que preferiram não se identificar por questões de segurança, moram nos condomínios desde 2020, quando eles foram inaugurados. Na época, a cracolândia ainda estava na no local.
Embora a presença de usuários hoje seja bem menor que a aglomeração antiga, os moradores relatam uma rotina de problemas. Eles dizem que ao abrir a janela de casa se deparam com cenas de venda e consumo de drogas, sexo ao ar livre e brigas. Também reclamam do barulho, inclusive de madrugada.
Um administrador de redes de 29 anos disse ser problemático sair pela manhã para levar o filho de dois anos para a creche. Segundo ele, ambos já encontraram usuários com o pênis de fora urinando no muro ou consumindo drogas.
Outra queixa comum dos vizinhos da cracolândia é o lixo deixado pelos dependentes químicos, que faz proliferar ratos, e o cheiro de urina e fezes.
Uma vigilante de 49 anos disse permanecer com as janelas de casa fechadas e o ventilador ligado o dia todo na tentativa de evitar o mau cheiro que vem da rua. Ainda de acordo com ela, seu filho tem desviado o caminho para a escola pelo medo de ser agredido ou assaltado. Ela afirmou ter procurado a prefeitura e o estado para pedir ajuda, mas diz que nada foi feito.
Um produtor de eventos de 44 anos classificou como vergonhoso a volta do consumo de drogas no espaço dois anos após a saída da cracolândia. Ainda segundo ele, a presença de agentes da Guarda Civil Metropolitana diminuiu de forma significativa no último mês.
Do outro lado da avenida Rio Branco, o panorama é semelhante, mas numa proporção ligeiramente menor. Usuários de drogas esperam o anoitecer e o fechamento dos comércios para se concentrar em pequenos grupos para fumar crack nas ruas dos Gusmões e Vitória na altura da alameda Barão de Limeira, além do cruzamento da rua Conselheiro Nébias com a rua Vitória.
Um morador contou que policiais militares têm atuado na região, não deixando que as aglomerações permaneçam. Os pontos ficam a poucos metros da base da Força Tática do 7° batalhão da PM, inaugurada em fevereiro deste ano pelo governador.
CONCENTRAÇÃO NA 23 DE MAIO
A cerca de três quilômetros da Helvétia, a avenida 23 de Maio também tem registrado um aumento da presença de dependentes químicos. Isso acontece principalmente em uma praça entre o viaduto Doutor Manuel José Chaves e a avenida, na Bela Vista.
Na tarde de quarta-feira um grupo com pouco mais de 20 pessoas estava sentado consumindo crack no local. Também havia um grupo menor em um morro que liga a 23 de Maio à praça João Mendes. Outros cinco usuários estavam os arcos da rua Jandaia, conhecido como Arcos do Jânio, em referência ao ex-prefeito Jânio Quadros (1917-1992).
Segundo a prefeitura, 180 GCMs e 60 viaturas atuam dia e noite na região da cracolândia. Sobre os locais apontados pela reportagem, a gestão municipal afirmou possuir imagens que "mostram ocupações momentâneas ou periódicas, sobretudo por pessoas em situação de rua".
Em todos os pontos citados a reportagem viu pessoas utilizando crack ou carregando os cachimbos usados para consumir a droga.
A nota encaminhada pela gestão Tarcísio disse que a Secretaria da Segurança Pública "monitora permanentemente o comportamento e a variação do fluxo de usuários para reforçar o patrulhamento preventivo e ostensivo e as outras ações já elencadas, inclusive nos locais apontados pela reportagem."
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