Aos 42 anos, Galípolo foi um dos conselheiros de Lula na campanha presidencial de 2022 e manteve canal direto com o chefe do Executivo desde que assumiu o posto no BC
©Lula Marques/Agência Brasil |
(FOLHAPRESS) - A autonomia do futuro comandante do Banco Central e uma eventual interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na política de juros estarão no centro do debate na sabatina de Gabriel Galípolo no Senado Federal.
Na próxima terça-feira (8), o atual diretor de Política Monetária do BC enfrenta o seu segundo teste na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), desta vez para o cargo máximo da autoridade monetária. Se aprovado, vai suceder Roberto Campos Neto a partir de janeiro de 2025.
Além de perguntas sobre a taxa básica de juros (Selic), inflação, crédito e endividamento da população brasileira, Galípolo também deve enfrentar questionamentos sobre a análise técnica do BC sobre o mercado de bets no Brasil.
Nota divulgada pela autoridade monetária mostrou que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões via Pix em agosto para empresas de apostas esportivas. O estudo deixou lacunas e provocou reações de executivos do setor e membros do governo.
A situação fiscal do país é outro assunto que deve ser colocado na mesa de discussão, assim como a PEC (proposta de emenda à Constituição) que concede autonomia financeira ao BC, em tramitação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
Em 2023, a autonomia do BC e as duras críticas de Lula a Campos Neto foram temas levantados pelos senadores na primeira sabatina de Galípolo.
Na ocasião, ele afirmou que os diretores do BC não devem opinar sobre a autonomia da instituição, mas que "a vontade das urnas" determina o destino econômico do país.
"É óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade. É através desse debate que a gente vai determinar. A autonomia técnica e operacional é aquilo que foi determinado, e aquilo que os diretores devem perseguir e seguir", disse.
Durante o "beija-mão" -rito em que o candidato se reúne com senadores para angariar votos para sua aprovação- realizado em setembro, Galípolo teve oportunidade de conhecer os temas de interesse dos parlamentares e se aprofundar sobre algumas questões.
Sua preparação para a sabatina envolveu reuniões com diferentes equipes técnicas do BC para discutir temáticas que vão além de sua área de atuação, hoje centrada na execução dos instrumentos das políticas de juros e câmbio.
É o caso, por exemplo, do trabalho envolvendo cooperativas de crédito no país -assunto de relevância para o senador Esperidião Amin (PP-SC), presidente da Frente Parlamentar de Apoio ao Microcrédito e às Microfinanças.
O senador oposicionista Izalci Lucas (PL-DF) prevê que, durante a sabatina, Galípolo será confrontado sobre a relação dele com o presidente Lula. Ainda assim, faz elogios pela postura adotada pelo diretor até aqui no Copom (Comitê de Política Monetária).
"O principal questionamento é a independência dele em relação ao Executivo", diz Izalci. "Mas acho que ele [Galípolo] já demonstrou sua independência nas votações atuais [no Copom] como diretor."
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) segue a mesma linha de argumentação. Ele ressalta que Galípolo pode passar seus quatro anos de mandato no BC com um ou dois presidentes, a depender do resultado das eleições presidenciais de 2026.
"Suas decisões serão as mesmas, para os mesmos problemas, neste e no próximo governo? Seu mandato será curto e sua biografia será única, posso ter certeza que na sua biografia ficará registrado que o senhor soube defender a autonomia do BC independentemente de quem seja o presidente da República?", questiona o senador, ao antecipar sua participação na CAE.
Aos 42 anos, Galípolo foi um dos conselheiros de Lula na campanha presidencial de 2022 e manteve canal direto com o chefe do Executivo desde que assumiu o posto no BC.
A estreita relação com Lula e a desconfiança do mercado financeiro com o compromisso do BC no combate à inflação em 2025, contudo, não devem se tornar empecilhos para a aprovação de Galípolo como novo presidente da autoridade monetária.
O presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), prevê "zero dificuldade" para Galípolo e diz que ele "tem a confiança de quase todos os senadores". Ressalta ainda a boa relação que o candidato vem construindo com os parlamentares desde quando era número 2 do ministro Fernando Haddad na Fazenda.
"Galípolo já foi sabatinado uma vez, tem um trânsito muito bom no Senado Federal e provou como diretor que ele é hoje Banco Central. Ele não foi omisso hora nenhuma. Nas decisões importantes do Copom, ele esteve junto com o posicionamento dos demais diretores, inclusive com o presidente Roberto Campos Neto", afirma.
O presidente da CAE vai reassumir o mandato no Senado nesta segunda-feira (7) para conduzir pessoalmente a sabatina. Vanderlan se licenciou do cargo para disputar a prefeitura de Goiânia (GO).
O nome de Galípolo deve ser levado ao plenário do Senado no próprio dia 8, onde precisa receber maioria dos votos para ser aprovado. Na votação para a diretoria de Política Monetária, em julho de 2023, o placar foi de 39 votos a favor, 12 contra e uma abstenção.
Na sexta (4), o governo federal retirou a urgência constitucional do primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, que impedia votações no plenário do Senado desde o final de setembro.
O nome de Galípolo poderia ser votado mesmo com o chamado trancamento de pauta, segundo assessores técnicos, mas o governo federal quis evitar eventuais questionamentos da oposição sobre o regimento interno.
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